Depois do encontro que João Lourenço realizou em Washington, no ano passado, com o seu homólogo norte-americano, Joe Biden, esta passagem de Blinken por Luanda, no âmbito do seu périplo africano, que passou por Cabo Verde, Costa do Marfim e Nígeria, antes de chegar à capital angolana, é um dos momentos mais relevantes da nova fase da parceria estratégica que liga os dois países.
Na agenda de Blinken e as autoridades nacionais estão temas como a agricultura resiliente em época de alterações dramáticas no clima, que os americanos há décadas que procuram soluções através da hibridização das plantas, tema que Blinken abordou já esta manhã, as energias renováveis, a economia e o comércio bilateral, sem esquecer que da cartilha de regras para as suas relações mais próximas está o respeito pela democracia e o Estado de Direito.
Mas nas conversas longe dos olhares dos jornalistas e das câmaras e microfones, Blinken e João Lourenço estarão empenhados em definir e consolidar os novos parâmetros que vão reger as relações bilaterais, nomeadamente quando aos posicionamentos de Luanda face aos grandes desafios internacionais do momento e nos quais os EUA são parte interessada na primeira linha, como a questão da disputa de uma nova ordem mundial com China e Rússia, entre outros, que tem nos actuais conflitos da Ucrânia e de Israel momentos definidores.
Blinken já sabe, até porque João Lourenço o disse esta semana, no discurso ao corpo diplomático na cerimónia de cumprimentos de ano novo na Cidade Alta, que se no que toca ao conflito na Ucrânia, Luanda foi alterando, ao longo destes dois anos de guerra, a sua posição, nomeadamente nas votações de resoluções de condenação de Moscovo na Assembleia-geral da ONU, alinhando-se com a posição de Washington, no que toca ao conflito na Palestina, Angola condena de forma veemente a mortandade provocada por Israel em Gaza em contraste com os norte-americanos, os principais aliados de Telavive.
Dificilmente se irá ter conhecimento alargado da conversa entre Blinken e o PR no contexto da audiência de João Loureno concede esta manhã ao chefe da diplomacia norte-americana, mas as suas consequências vão começar a ser notadas nas próximas semanas e meses, porque se há uma coisa que não existem nas relações internacionais é dúvidas sobre o que move os países, e isso são os seus interesses, sendo que os de Angola são claros: investimento externo norte-americano.
Sabendo-se que a estabilidade da RDC é uma das questões onde Blinken mais se tem empenhado, até porque a aposta no corredor do Lobito, além da importância estratégica dos seus recursos naturais o impõem, este encontro com João Lourenço foi precedido de conversas telefónicas do Presidente angolano com os seus homólogos congolês e do Ruanda.
Estes telefonemas dificilmente estarão desconectados desta visita do chefe da diplomacia norte-americana a Luanda, até porque, tal como a ONU o reconhece, o Ruanda de Paul Kagame está por detrás do ressurgimento dos rebeldes do M23 no leste da RDC em 2021, e o seu papel na desestabilização desta região rica em recursos naturais estratégicos, como o coltão e o cobalto, é conhecida.
Isto, ainda é mais relevante quando o Presidente da RDC, Félix Tshisekedi não se tem coibido de acusar directamente Kagame de estar por detrás da desestabilização do leste do seu país e a ameaça de um conflito entre os dois países não está totalmente afastada, apesar do papel de Angola na criação de uma força regional de interposição presente no Kivu Norte.
Entretanto, como refere a Lusa, além do encontro com João Lourenço, Blinken, que chegou na quarta-feira à noite a Luanda, vai estar também com o chefe da diplomacia angolana, Téte António, num dia que começou com uma visita ao Centro de Ciência de Luanda, seguindo-se um encontro na operadora de telecomunicações com capitais norte-americanos, Africell.
Estados Unidos e Angola mantêm relações diplomática há 30 anos e o país foi recentemente reconhecido pelos norte-americanos como um parceiro estratégico em África, "fundamental para a promoção dos objectivos comuns de expansão da prosperidade económica e do acesso à energia, da defesa da democracia e dos direitos humanos, e do avanço da segurança regional", segundo a nota do Departamento de Estado.
No ano passado, recorda ainda a Lusa, o Presidente norte-americano, Joe Biden, recebeu João Lourenço na Casa Branca, em 30 de novembro, enquanto Angola acolheu o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, e o enviado de Biden Amos Hochstein.
Em novembro de 2023, os EUA e Angola assinaram os Acordos Artemis, na área da exploração espacial e iniciaram um "acordo bilateral de céus abertos", para facilitar as ligações aéreas entre os dois países.
Na terça-feira, vários líderes da oposição angolana entregaram na Embaixada dos Estados Unidos em Luanda uma carta endereçada ao secretário de Estado norte-americano, a pedir que pressione o Presidente, João Lourenço, a realizar eleições autárquicas antes de 2027.
Os signatários da carta pedem a Blinken que apoie um Estado democrático e de direito em Angola e pressione o Presidente angolano a realizar as primeiras eleições autárquicas no país, "o único grande país da região sem líderes eleitos a nível local", a desmantelar as instituições partidarizadas e a permitir acesso de todos os atores políticos aos meios de comunicação social públicos.