Em geral porque se respira um sentimento de que haverá mudança na África do Sul e é isso que refletem os estudos de opinião e as sondagens.
Essa mudança é, desde logo, concebível porque o ANC pode perder a maioria parlamentar, tendo necessidade de se coligar para governar.
A realidade mudou muito de então para cá, com uma percentagem de 50% de desempregados na juventude, de par com o aumento significativo da criminalidade e da corrupção, conduzindo a uma grave estagnação económica.
Investigadores académicos sul africanos sustentam que, apesar do ANC ter dado passos de gigante na transição para um governo de maioria, conduzindo o país para um sistema democrático liberal, não foi capaz de proceder a transformações da estrutura económica herdada.
Esta omissão, de par com a crescente influência da juventude e do partido criado em 2013 pelo ex-líder da Juventude do ANC, Julius Malema, "Combatentes da Liberdade Económica" (EFF), que se assume como a terceira força do país, poderá conduzir, em linha reta, à perda da maioria do ANC.
Não é de admirar que, caso tal venha a ter lugar, o ANC se venha a coligar com a AD (Aliança Democrática), o segundo partido.
E não é de admirar, porque tal como sucedeu nas últimas eleições gerais em Angola, em que os jovens que nasceram depois da queda do regime do apartheid não têm a mesma avaliação dos "mais velhos" no papel que teve o partido dirigente, no caso o ANC, que governa o país de há trinta anos a esta parte.
São outras as exigências e as preocupações e estas estão relacionadas com o desemprego.
A África do Sul, que ao que tudo indica, vai experimentar uma mudança com a perda da maioria absoluta do ANC, resultado de um sistema eleitoral livre, noutros países africanos situados na zona do Sahel, as mudanças resultam de golpes de Estado inaceitáveis, mas que se consolidam.
Refiro-me ao que se passa no Burkina Faso, Chade, Mali e Níger, ou ainda na República Centro Africana, entre outros, que conduziram de facto à rutura de relações com o Ocidente, com a Rússia a declarar "a intensificação da cooperação militar" com estes.
Temos que aguardar a evolução dos acontecimentos para avaliar se o reforço da cooperação militar vai dar causa ao desenvolvimento económico e humano desses países, inclusive na luta contra o islamismo radical, em crescendo após a queda do califado na Síria.
Para já, o que se sabe é que os próprios EUA vão abandonar a base aérea nº 101, nos arredores de Niamey, capital do Níger, agora transitoriamente partilhada com a Rússia embora noutro hangar.
Depois da visita do Primeiro-ministro do Níger, Ali Lamine Zeine, aos EUA, para obter garantias deste país na rápida saída das tropas americanas, o Secretário da Defesa americano, concordando com essa saída, avançou "não existirem problemas".
Da África do Sul a alguns países do Sahel - as mesmas causas, a pobreza, o agravamento das desigualdades e a corrupção conduzem a formas diferenciadas de mudanças na governação e nas alianças.
Sinais dos tempos...
*(Secretário-geral da UCCLA)