"A bola não entra por acaso" é uma frase que dá nome a um livro escrito pelo espanhol Ferran Soriano, actual CEO do Manchester City da Inglaterra, muito usada para exaltar o facto de que as conquistas desportivas derivarem, sem qualquer excepção, de um competente e árduo trabalho de planeamento.
Por detrás da tomada de decisão do Fredy, ao recuperar a bola e lançar sem delongas o contra-ataque, da qualidade do passe do Gelson Dala ao isolar o seu colega e de todo o requinte, como se de um complexo exercício de física quântica se tratasse, que o Mabululu colocou na execução do remate, há trabalho árduo, dedicação sacrificada, altruísmo, planeamento, etc, de centenas e centenas de pessoas, entre familiares, treinadores dos escalões de base, professores de Educação Física, fisioterapeutas, médicos, seccionistas, treinadores profissionais, dirigentes, adeptos, etc.
Este movimento social, totalmente abrangente, que estamos a vivenciar com esta participação histórica da nossa Selecção Nacional de futebol no CAN da Côte d"Ivoire demonstra, talvez agora de forma mais inequívoca, a força e a relevância social do desporto enquanto instrumento de coesão social e unidade nacional.
É absolutamente necessário que o desporto, enquanto fenómeno social, seja encarado pela sociedade à dimensão da sua grandeza imensurável e da sua particular relevância, sendo por isto mesmo fundamental que se trace uma estratégia séria e exequível em função das nossas reais condições financeiras, materiais, humanas, etc, visando a sua promoção e desenvolvimento.
Angola é um País com uma população extremamente jovem. Os dados mais recentes nos revelaram que mais de 65% da nossa população tem menos de 25 anos, e que contamos com uma das mais altas taxas de crescimento populacional, inclusivamente para os padrões do nosso continente.
Diante do cenário demográfico actual e, com os indicadores sociais que podemos associar numa eventual avaliação do estado do nosso desenvolvimento humano enquanto país, a qualidade da educação das nossas crianças e jovens é, sem qualquer exagero, uma questão de segurança nacional absolutamente prioritária e, neste esforço que deve de ser feito por todos, penso que a promoção e o desenvolvimento da actividade desportiva, de modo planeado e cientificamente estruturado ocupa um lugar estrategicamente importante.
"A educação e o desporto andam de mãos dadas" é uma verdade inquestionável, repetidas vezes referenciada em discursos feitos em sessões de abertura ou de encerramento de pomposas conferências, todavia, quase nunca concretizada na vida real.
Defendo sim, diante de tantas evidências, que o desporto deixe de ser encarado como uma actividade "menor", como uma mera fonte de lazer passageiro para contentar as grandes massas populares. É bem mais do que isto, sendo uma preciosa ferramenta educativa, um poderoso instrumento promotor da unidade nacional e de disseminação de uma imagem positiva dos angolanos de um modo geral, o tal chamado soft-power que, neste mundo global dominado pela rapidez da circulação da informação e por tick-tockers, tem uma relevância cada vez maior em termos geopolíticos e diplomáticos.
Penso que não restam dúvidas que, realmente, "a bola não entra por acaso". Para que sejamos uma sociedade bem-sucedida no desporto e em todas outras áreas é fundamental que a educação, desportiva e não só, das crianças e jovens esteja entre as primeiras das nossas prioridades, sendo esta a única garantia de muitos golos, belos como poemas de Viriato da Cruz ou como telas pintadas a óleo pelo Vitex, sejam marcados no futebol e no jogo da vida. n
*Presidente do Clube Escola Desportiva Formigas do Cazenga