Quando tomou posse, a 27 de Setembro de 2017, sucedendo a José Eduardo dos Santos, que deixou a presidência após 38 anos no poder, João Lourenço prometeu uma governação transparente.

Com a mão direita sobre a Lei Magna do País, a Constituição da República, e perante milhares de cidadãos nacionais e chefes de Estado e de Governos estrangeiros, o gesto foi visto por muitos como símbolo do fim de um longo período de sonegação de informações sobre a forma como vinham sendo geridos os dinheiros dos contribuintes angolanos.

Sucede, porém, que os actos praticados pelas autoridades governamentais contrariam o que, repetidas vezes, o Presidente da República jurou "cumprir e fazer cumprir". Nas palavras do jurista João Malavindele, coordenador da ONG Omunga, passados quatro anos, a chegada de um novo Presidente nada trouxe de novo. As palavras exactas do activista foram estas: "Não se corrigiu o que está mal, nem se melhorou o que está bem".

Cálculos efectuados com base no Relatório de Execução Financeira do OGE 2020 indicam que o Governo Lourenço previa gastar, de Abril de 2020 até Junho do ano em curso, mais de 335 mil milhões de kwanzas, equivalentes a 533 milhões USD. Mas, segundo o semanário Novo Jornal, que cita o documento elaborado pelo Ministério das Finanças, foram aplicados "apenas" 372 milhões USD, correspondentes a 70% do valor previsto para as despesas, sendo que cerca de 50 por cento deste valor teve como destino a aquisição de "Material de Consumo Especializado".

Os relatórios trimestrais de execução financeira do Orçamento Geral do Estado (revisto) de 2020 e do OGE 2021, que podem ser consultados no site do Ministério das Finanças, são os únicos documentos disponíveis a fazer referência ao uso dos fundos destinados à Covid-19. Os únicos dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde, que tem à testa a cardiologista Sílvia Lutucuta, e a Comissão Multissectorial para Prevenção e Combate à Covid-19, liderada pelo chefe da Casa Militar do Presidente da República, o general Francisco Furtado, limitam-se a divulgar números de mortes, de afectados e casos recuperados.

Entre outros itens, não há acesso aos relatórios detalhados sobre o tipo de material adquirido, como e onde foram adquiridos, a que preço de mercado, quais são as empresas fornecedoras e prestadoras de serviços e quanto o Estado já terá gastado na compra das vacinas.

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