No discurso de comemoração dos 64 anos do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), este sábado em Luanda, João Lourenço acusou alguns partidos e forças da sociedade civil de se posicionarem como se "fossem as únicas interessadas" na realização de eleições autárquicas.
Lourenço recordou que o MPLA, através do seu Grupo Parlamentar, "muito tem contribuído com a aprovação das leis que fazem parte do chamado Pacote Legislativo Autárquico", mas disse que ainda não há condições para realizar eleições autárquicas em Angola.
"Assistimos a um coro de lamentações e de manifestações pela não realização das eleições autárquicas no decorrer deste ano que agora termina, como se fosse suficiente reivindicar para que elas sejam realizadas, o que não é verdade e muito menos possível", reconheceu o líder do MPLA.
"Mas nós somos um Estado Democrático de Direito, que deve assentar toda sua acção na base da lei. O país deve instituir o poder autárquico? Sim, mas não a qualquer preço, de forma ilegal e atabalhoada, porque se o fizéssemos e o MPLA vencesse a esmagadora maioria das câmaras, temos a certeza de que seriam essas mesmas forças que de forma irresponsável dizem poder se organizar já essas eleições, que invocariam ter havido fraude, só porque não as ganharam", explicou João Lourenço.
Recordando que 2021 será o ano da realização do próximo Congresso do MPLA, João Lourenço propõe-se realizar uma "renovação superior" dos diferentes órgãos do partido, preparando assim o seu candidato para as eleições gerais de 2022.
"Na composição dos nossos órgãos de Direcção, para além de prestarmos sempre particular atenção à representatividade feminina e juvenil, precisamos de atrair franjas da sociedade e grupos representativos de cidadãos que, de forma mais abrangente, reflictam melhor o mosaico étnico-cultural, empresarial e académico-científico nacional", prometeu o líder do partido.
João Lourenço disse que o país tem hoje "uma melhor apreciação da gravidade" da corrupção e que o seu partido "não tem de que se envergonhar" na luta contra este problema.
Lourenço definiu como principais desafios colocados a Angola a crise económica de 2014, "derivada da baixa significativa das receitas de exportação do petróleo", o alto endividamento externo e os efeitos nefastos da pandemia de covid-19.
"Com as restrições a nível da força de trabalho das unidades produtivas e do comércio e as restrições na mobilidade, assistimos ao aumento do custo de vida e do desemprego, situação que preocupa o MPLA", disse, referindo-se ao impacto da crise sanitária em Angola.
Contudo, o presidente do MPLA reconheceu que, 18 anos depois do fim do conflito armado em Angola, desenvolveu-se "um outro constrangimento tão prejudicial para o país quanto a guerra, que tomou de assalto os cofres do Estado" e parte relevante da economia: a corrupção.
"Hoje, melhor do que há três anos, o país tem uma melhor apreciação da gravidade, da seriedade e da profundidade do abismo cavado pela corrupção em Angola", disse o Presidente angolano, que chegou o poder em 2017.
João Lourenço assumiu o papel do MPLA na luta contra a corrupção, apesar de este ser o partido que está à frente dos destinos de Angola desde 1975 e de muitos dos seus anteriores dirigentes serem agora alvo das investigações para o seu combate.
"O mérito do MPLA consiste no facto de, enquanto partido governante, ter orientado o Executivo a encetar esta cruzada de luta contra a corrupção, mesmo sabendo do presumível envolvimento de militantes e dirigentes seus nos mais diferentes escalões da hierarquia partidária", admitiu Lourenço, aplaudindo a coragem das "vozes discordantes da sociedade civil", que condenam este problema há vários anos.
"O MPLA não tem de que de envergonhar, antes pelo contrário, com esta nossa postura de coragem e de total transparência, só temos de nos orgulhar e andar de cabeça cada vez mais levantada", disse o presidente do partido.
O Presidente angolano prometeu uma "agenda política que fortaleça o patriotismo, o respeito ao primado da lei, o respeito pela diferença, que promova a tolerância política e a reconciliação nacional", dizendo que a sua causa é a do "desenvolvimento económico e social de Angola".