Ricardo d"Abreu fez esta declaração à Rádio Nacional de Angola, que é, por sua vez, citada pelo Jornal de Angola, onde acrescentou que as sabotagens por detrás dos numerosos descarrilamentos resultam do facto de as linhas de caminhos-de-ferro serem infra-estruturas estratégicas, mas não identificou os sabotadores.
"Eu acho que nós temos que ter noção de que as infra-estruturas e particularmente as dos transportes e logísticas são infra-estruturas estratégicas. E é óbvio que elas são vítimas de sabotagem e actos de banditismo, que têm que ser devidamente combatidos", apontou o governante, quando estava em visita de trabalho ao Porto do Lobito, citado pelo JA.
Ricardo d"Abreu adiantou que "isto não é um tema que diga respeito exclusivamente ao Ministério dos Transportes, mas tem a ver com o conjunto dos órgãos de Defesa e Segurança porque estamos a falar de algo que pode impedir o curso de desenvolvimento da nossa economia.
O ministro dos Transportes adiantou que estes actos de sabotagem "podem impedir o curso do desenvolvimento do país", sugerindo uma maior intervenção das forças de Defesa e Segurança para combater os sabotadores.
Os numerosos descarrilamentos têm levado ao surgimento de críticas por parte de elementos da oposição e da sociedade civil, nomeadamente quanto à qualidade das obras de reconstrução destas linhas, como o Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB), que começou em 2005 e terminaram em 2015, com um gasto superior a 2 mil milhões USD.
Os congéneres de Moçâmedes (CFM) e de Luanda (CFL) foram igualmente alvo de avultadas obras de requalificação logo após o fim da guerra, em 2002, salvo raras excepções, por intermédio de empresas chinesas e ao abrigo das linhas de crédito de Pequim, com o Plano de Reconstrução Nacional em pano de fundo.
No entanto, como tem sido noticiado com regularidade, a intensidade e o volume dos acidentes com composições têm-se multiplicado e em crescendo, deixando largos troços foram de serviço durante, por vezes, meses, com enormes prejuízos para a economia local e nacional.
Apesar de, ao longo destes anos, excepção feita a alguns pequenos meliantes apanhados a furtar pedaços metálicos das linhas para revenda como ferro-velho, e após outras denúncias semelhantes a esta, as autoridades policiais nunca identificaram quaisquer elementos identificados como sabotadores.
Normalmente estes actos de sabotagem, fora de contextos de conflitos armados, quando ocorrem, resultam de interesses económicos onde as dificuldades de transporte ferroviário podem gerar vantagens, por exemplo, ao sector dos transportes terrestres, ou ainda por eventuais países da região que estejam a competir nos mesmos sectores, extractivos, por exemplo, embora, no caso, não tenha sido qualquer alusão a alguma destas possibilidades, ou ainda por razões políticas, o que se enquadra de forma mais aproximada às palavras do ministro dos Transportes quando indica que estas infra-estruturas "são vítimas de malfeitores para impedir o curso de desenvolvimento económico do país".
Como o JA recorda, só em 2022 foram registadas várias ocorrências, dando alguns exemplos (ver outros no fim desta página), como o que ocorreu em Outubro, onde o descarrilamento de três carruagens de uma composição, que seguia viagem para a cidade do Luena, danificou mais de 900 travessas da linha férrea.
Em Abril sucedeu o descarrilamento de 26 vagões vazios de um comboio de circulação entre Huíla e Namibe. Ou ainda o descarrilamento de um comboio também do CFM danificando cerca de 200 metros de linha férrea.