"Nós esperamos e acreditamos num desfecho favorável para aquilo que é o nosso entendimento deste caso. Não tenho a certeza se o julgamento vai ter mesmo lugar, de qualquer modo é um problema interno de Portugal, um problema da Justiça portuguesa", disse o MIREX, na Suíça, um dia antes do encontro que vai juntar o Presidente da República angolano e o primeiro-ministro português.
A reunião entre João Lourenço e António Costa, a segunda em menos de dois meses, está marcada para o final do dia de hoje, em Davos, onde, até sexta-feira, decorre o 48º Fórum Económico.
"No que nos diz respeito, continuamos a acreditar que as autoridades portuguesas, principalmente as autoridades judiciais, acabarão por compreender a nossa razão", reforçou Manuel Augusto, numa alusão clara à pretensão de ver o processo que envolve Manuel Vicente - cujo julgamento arrancou ontem em Lisboa - a transitar para Luanda.
" As relações com Portugal são relações únicas, são relações singulares, são relações que não podem nem devem ser substituídas, porque ligam-nos laços de vários tons e vários níveis. Por isso mesmo, a nossa mensagem é positiva", disse ainda Manuel Augusto.
De recordar que o primeiro dia do julgamento da "Operação Fizz", no qual o antigo vice-Presidente da República é acusado de corromper um ex-procurador português, ficou marcado pela ausência de Manuel Vicente e pela autonomização do seu processo, decisão que reabre a hipótese de transferência do caso para Angola, uma solução defendida pelo PR angolano que, na conferência de imprensa colectiva realizada no principio deste mês, disse que "a responsabilidade está do lado de Portugal" porque "o processo está a decorrer em Portugal", lembrando que "existe um acordo judiciário no âmbito da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), que permite que este, como outros processos, seja transferido para Angola".
Este processo, que tem vindo a criar um clima de tensão nas relações entre Luanda e Lisboa, levou o Presidente da República a afirmar, na mesma conferência de imprensa, que "as relações entre os dois países vão depender muito do desfecho deste caso".
"Nós não estamos a querer dizer que o sr. engenheiro Manuel Vicente deve ser absolvido ou que o processo seja arquivado, porque não somos juízes nem temos competência para determinar se é ou não responsável pelos crimes de que está acusado, o que dizemos é que seja qual for o desfecho, este deve ocorrer nos tribunais angolanos", esclareceu.
Segundo dados fornecidos à agência Lusa pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, e como exemplo da "singularidade" das relações entre Angola e Portugal, pelo menos um em cada três vistos em passaporte emitidos pela rede consular portuguesa em 2017 foram para cidadãos angolanos, totalizando perto de 80.000 pessoas.
Turismo, estudo, visitas a familiares, negócios ou tratamento médico são os principais motivos para o pedido de visto para entrada em território português.