Numa altura em que começará o debate na especialidade, depois de ter passado pelo crivo da generalidade, da Proposta de revisão pontual da Constituição apresentada pelo Presidente da República, o deputado do MPLA aponta como razão para este modelo de revisão "pontual" a "densidade material" das questões que devem constituir objecto de revisão profunda.

"Temos que olhar para o sistema de governação, sistema eleitoral, sistema financeiro, sistema judicial, sistema de desconcentração, (...) e catálogo dos direitos fundamentais", apontou, sublinhando que esses passos todos obrigaria à construção de uma nova Constituição, dando como exemplo o recenseamento eleitoral, capitulo em que a oposição foca a sua atenção.

No que diz respeito a uma das mais abrasivas reivindicações da oposição, a realização célere das eleições autárquicas, segundo o deputado do MPLA, e agora líder do seu Grupo Parlamentar, é estranho que agora, depois de o Presidente João Lourenço ter avançado com esta proposta de revisão "pontual" da CRA, ninguém da oposição esteja a chamar esse assunto à discussão.

Em tom irónico diz, nesta conversa com o Novo Jornal, que "é um assunto que foi esquecido e percebe-se porquê!".

"A falta de insistência, agora, na questão das eleições autárquicas veio revelar a ideia de que este assunto é para tratar nas manifestações, nas ruas e não aqui no Parlamento", referiu.

Virgílio de Fontes Pereira criticou alguns partidos políticos e não só que apontam que a revisão pontual da Constituição tem como objectivo o adiamento da realização das eleições gerais em 2022.

"Como é possível, tendo havido a proposta de revisão pontual da Constituição, vir logo a terreiro dizer que essa revisão pontual é para adiar as eleições?", questionou, refutando totalmente que esse tenha sido o objectivo.

A Assembleia Nacional (AN) aprovou, no dia 18 de Março, na generalidade, a Proposta de Revisão Pontual da Constituição, de iniciativa do Presidente da República, com maioria qualificada de 2/3.

Trata-se da primeira iniciativa de revisão constitucional, no âmbito da Constituição de 2010, exercida 11 anos após o início da sua vigência.

A proposta, que passou com 157 votos a favor, nenhum contra e 48 abstenções, aborda, entre outros pontos, a clarificação do modelo de relacionamento entre o Titular do Poder Executivo e o Parlamento, em relação à fiscalização política e ao direito de voto dos angolanos residentes no estrangeiro.

Prevê, ainda, a eliminação do gradualismo na Constituição, a principal divergência entre o Executivo e os partidos da oposição sobre as primeiras eleições autárquicas, a afirmação do Banco Nacional de Angola (BNA) como entidade independente e o estabelecimento de um período fixo para a realização das eleições.

Depois de aprovada na generalidade, a proposta será remetida à 1ª Comissão que elaborará o Projecto de Lei de Revisão da Constituição, a ser discutida na especialidade, para posterior aprovação em plenária.