Apesar de acabar de lançar a sua mais recente obra, com a ilustração de Ana Valente, no quadro de uma parceria entre o Camões e a Leya Texto Editores, a escritora Cremilda Lima não esconde a sua insatisfação pelo pouco investimento que tem sido feito na literatura infantil do país.
"Não estou muito satisfeita com o percurso que a literatura infantil leva, a maior parte das crianças conhecem muito pouco sobre literatura infantil, principalmente, aquelas que vivem em bairros recônditos onde não têm bibliotecas nas escolas e isso é triste", desabafou.
A escritora insiste na ideia de que o Governo deveria criar um plano nacional de leitura para todas as crianças do ensino de base de forma a desenvolver o gosto pela leitura, acreditando que "uma criança que lê será um adulto com sabedoria, educação e dignidade".
"Só pelo facto das crianças lerem livros durante o ano lectivo vai impulsioná-las a escreverem estórias e montarem peças de teatro, o que ajudaria bastante no desenvolvimento psicológico da criança", defende.
Quanto ao surgimento de novos escritores no mercado literário infantil, e à produção de obras infantis, Cremilda de Lima aconselha a incentivar desde já as crianças para que no futuro sejam bons escritores e apreciadores da matéria para que existam obras de qualidade.
Para a jornalista e apresentadora da obra, Kenia Lima, igualmente em conversa com o Novo Jornal Online, o problema reside na divulgação dos trabalhos produzidos a nível nacional, acrescentando que os ministérios da Cultura e da Educação deveriam trabalhar juntos no sentido de promoverem o gosto pela leitura nas escolas e nos bairros.
"Os ministérios devem trabalhar muito, se queremos um povo que goste da leitura, deve-se disponibilizar mais livros, realizar palestras com crianças a lerem, concursos de leitura... porque isso tudo incentiva as crianças a terem o gosto pela leitura", acrescenta Kenia Lima.
Fazendo uma análise da literatura infantil angolana, a jornalista disse que das poucas obras que existem, pode-se concluir que, "fruto das circunstâncias históricas do país, apesar de ser um sector pouco expressivo ainda, estão de parabéns os escritores que conseguem escrever as histórias e nos fazem viajar por intermédio das suas obras".
O livro de Cremilda de Lima
A primeira das duas histórias contidas neste livro de Cremilda de Lima é "Uma Aventura nas Nuvens" e narra um episódio que se passa no espaço entre a terra e o céu, transportando-nos para uma viagem de avião onde os vizinhos são as nuvens.
Uma viagem que também inclui um sonho da criança que é protagonista desta história, que aparenta ser a própria autora, com as amigas, Liliana e Rui, encontrando-se todos a flutuar nas nuvens em roda.
A segunda historia, com o título "Brincadeira ao Luar", surgiu de uma canção de Rui Mingas, "eEncanta nas rodas em que a noite brincava no luar", e passa-se no Morro da Maianga, onde os frutos ganham vida, dançam e brincam com as crianças.
O caju e a manga jogam à macaca, o sape-sape brinca às escondidas e a carambola joga às pedrinhas. A estas juntam-se muitos outros como a gajaja, a laranja, o abacaxi, a papaia, a múcua...
Cremilda de Lima, natural de Luanda, é licenciada em Ciências da Educação na Escola Superior de Educação de Leiria, em Portugal. Especializou-se em pedagogia pelo Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED).
É autora dos livros "A Colher e o Génio de Canavial", "A Kyanda e o Barquinho de Fuxi", "O Maboque Mágico", "O Embondeiro que Queria ser Árvore da Natal", "A Missanga e o Sapupo", "O Nguiko e as Mandiocas", "A Velha Sanga Partida" e "Mussulo uma Ilha Encantada".