Exímios conhecedores das profundezas do mar e dos seus encantos e desencantos, mergulhadores descrevem ao Novo Jornal um cenário de poluição nas praias do País.

"Acho que, nestes últimos anos, há mais lixos que peixe no mar. Sou mergulhador há dezenas de anos em duas vertentes, tanto profissional como caça submarina, não tenho dúvidas de que a nossa fauna marítima está a desaparecer. Hoje, não há quase peixes no mar. É tanto lixo, tanta pesca, que não há controlo. Redes, plásticos, tudo vai para o mar", denuncia António José Alves Martins.

Tozé, como é conhecido nas lides do mergulho, faz uma denúncia de criar arrepios, sobretudo a quem se mostre sensível às causas do meio ambiente: "Hoje, tudo vale para apanhar peixe, até o lançamento de granadas ao mar. Há muitas granadas lançadas ao mar. As nossas autoridades sabem disso. Os infractores são presos, mas, dias depois, soltos".

Com 30 anos de experiência no mergulho profissional, Tozé admite a condição de risco de que se reveste a actividade, mas não esconde a paixão que se sobrepõe, quase sempre, a todos os receios.

"É uma actividade com muitos riscos, desde as espécies venenosas, os ataques dos animais à gestão do ar, a fraca visibilidade nas águas. Tudo tem risco. Basta estar nas águas, que já é um risco. É a actividade que escolhemos. Acredito que nada no mundo é tão bom como nós estarmos dentro da água, é um relaxe, é um sossego. Com esta idade, já tive acidentes em que os médicos queriam que eu parasse, fiz as recuperações devidas, fui autorizado outra vez e voltei. Tinha que ser. Eu, se ficar uma semana sem ir à água, estou gravemente doente", confidencia o mergulhador particular.

Conta que já assistiu à morte de colegas em pleno exercício de mergulho e aproveita para lançar conselho a potenciais mergulhadores:

"O mergulho, sobretudo o profissional, deve fazer-se aliado a um alto padrão de segurança. A partir mesmo dos 12 metros, já é um risco. É preciso uma grande capacidade de conhecimento técnico. Dificilmente um mergulhador autónomo pode descer ou subir a qualquer velocidade, ele tem que ter um grande controlo, um controlo da descompressão, um controlo do tempo de permanência, o tipo de oxigénio que está a usar. Se ele não tiver este controlo, vai arranjar um acidente", alerta.

Tozé mostra-se inconformado com ausência de espaços para a formação de mergulhadores e critica as exigências feitas pelas autoridades do sector quanto à certificação para o exercício da actividade.

"Eu próprio tentei criar um centro de formação de mergulhadores e fui barrado. Há muita burocracia. Exigem documentos que o País nem emite. Temos de ir fora do País para os conseguir. Para os exames médicos de especialidade, idem, não há no País para mergulhadores particulares. É uma vergonha para um País com um grande potencial marítimo. Não aceito!", desabafa o mergulhador.