Enquanto a Fitch, que mantém, tal como a Moody"s, o "rating" de Angola em terreno negativo, desaconselhando o investimento devido às fragilidades da economia nacional, optou por apontar o dedo à dívida pública, que, devido à sua dimensão - mais de 80 por cento do PIB -, impede o país de subir na avaliação e, por isso, está condicionado na forma como se financia externamente, a juros elevados face à existência de risco de incumprimento (default).
Jan Friederich, director do departamento africano da Fitch, citado pela Lusa, sublinha que as reformas realizadas pelo Executivo de João Lourenço são "impressionantes" mas deixa entender que isso fica aquém do que é necessário para que Angola se possa financiar a juros em sintonia com um "rating" que mostre e indique maior confiança na evolução da sua economia, o que é claramente uma pressão para que o Governo de Luanda ataque de forma mais severa a dívida, baixando-a.
Recorde-se que as agências de "rating" são financiadas através do pagamento dos seus clientes sobre quem produzem avaliações periódicas, que, por sua vez, precisam dessa avaliação para que os credores internacionais definam o valor dos juros a pagar em função do risco atribuído pelas mesmas agências numa escala que vai de investimento desaconselhado (caso de Angola), especulativo e o máximo de segurança traduzido por avaliações AAA.
Quando o risco é referente a operações de crédito a um Estado, esse risco é denominado, na gíria internacional, "risco soberano", porque tem como sujeito o país e a sua capacidade ou incapacidade de cumprir com os compromissos assumidos num determinado prazo fixado por contrato.
Entretanto, no mesmo período de tempo, a Moody"s optou por seguir um processo diferente de pressão sobre o Governo de Luanda, sublinhando, também citada pela Lusa, a importância de cumprir com o acordo sobre o programa de intervenção do Fundo Monetário Internacional, que passa, para além do empréstimo de quase 4 mil milhões USD, em distintas tranches e sob condição de cumprimento de metas assumidas previamente, por apoio técnico no âmbito da aplicação das reformas planeadas, que vão desde a reforma do sistema financeiro aos cortes nas despesas do Estado.
E é neste contexto que a Moody"s sublinha que o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) deverá aumentar o envolvimento com Angola se o país conseguir cumprir os requisitos do programa de assistência financeira do FMI.
"O envolvimento do BAD em Angola deverá crescer no futuro por causa do ambicioso programa do Fundo Monetário Internacional assinado com as autoridades em Dezembro do ano passado", afirmou a Moody's.
Tal como a Fitch, a Moody"s também atribui a Angola uma notação que castiga o país por causa da fragilidade da sua economia, mantendo o "rating" num nível de desaconselhamento do investimento devido ao elevado risco de "default".
Porém, como nota a agência, o BAD deverá seguir os passos do Banco Mundial, "que tem estado a aumentar as suas operações" desde que foi assinado um programa de assistência financeira com o FMI.
A síntese do que estas agências afirmam sobre o país pode muito bem ser aquela que foi feita pelo director do departamento africano da Fitch, que sublinha que, apesar de as reformas levadas a cabo pelo Executivo de João Lourenço serem merecedoras de fortes elogios, especialmente nos sectores dos petróleos e dos diamantes, ou na taxa de câmbio e a subsequente depreciação do Kwanza, ficam ainda distantes do ponto em que os diferentes "ratings" poderão subir para um nível de investimento aconselhado, especialmente pelo ritmo a que a sua dívida está a subir face ao PIB.
Nos petróleos, a Fitch elogia a criação de um novo regulador no setor, a ANPG, tirando esse papel à Sonangol, "o que foi um passo muito importante dada a importância e os problemas que enfrentava em termos de subinvestimento", e quanto à "mudança drástica" na taxa de câmbio, Friederich, destaca que a depreciação na moeda fez com que seja "crucial garantir que consegue lidar com os desequilíbrios externos".
Todavia, isto não chega porque, essencialmente, a dívida de Angola, tem subido fortemente nos últimos anos, passando de cerca de 60% para mais de 80% do Produto Interno Bruto em menos de 4 anos, exerce uma "forte pressão" sobre a economia do país.
"Há muitas pressões, nomeadamente sobre a dívida, que é muito alta, o custo de servir a dívida é muito pesado, o que coloca pressão nas contas externas, e isto tem de ser visto tendo em conta o progresso que foi feito nas reformas, portanto é um equilíbrio complicado", explicou Jan Friederich.
Pela frente, Angola tem, como determina o compromisso com o FMI, e como as agências "exigem" que seja seguido ao milímetro, o impacto das reformas em curso, que vão ainda ser expostas à reacção popular mais epidérmica, como sejam as que passam pelo fim da subsidiação dos combustíveis e o aumento do preço de gasolina e gasóleo, da electricidade e água, etc, ou ainda a alteração radical da estrutura dos impostos com a introdução do Imposto de Valor Acrescentado (IVA) que a generalidade dos empresários do país teme que possa vir a gerar problemas sérios.
Recorde-se que estas agências foram acusadas, aquando da crise global de 2008/09, de não terem sido responsáveis ao manterem os ratings" às empresas que estiveram no epicentro do furacão que se formou nos Estados Unidos em AAA, quando essas mesmas empresas estavam à beira de implodir, especialmente no sector do imobiliário e há muito mereciam avaliações negativas.
Essa crise, que algou fronteiras, levou a que vários países tenham entrado em "default" ou o tenham evitado apenas porque foram intervencionados, no caso de Portugal e da Grécia pelo FMI e pelo Banco Central Europeu e de Espanha, apenas pelo BCE.
Apesar de terem visto a sua credibilidade posta em causa, estas agências mantiveram um papel determinante nos mercados financeros planetários.