A par desta surpresa atirada aos mercados pela OPEP+, organização que junta, desde 2017, os 13 Países Exportadores (OPEP) e 10 desalinhados encabeçados pela Rússia, o negócio global do crude está ainda a ser afectado negativamente pela possibilidade, ainda não afastada totalmente, de a Rússia ficar de fora do plano de quotas do "cartel" devido à sua situação por causa da guerra na Ucrânia.

Moscovo, por causa das pesadas sanções impostas pela União Europeia, que atingem mais de 75% das importações da União Europeia, está à beira de reduzir substancialmente a sua produção, estando as grandes economias europeias, como França, Alemanha ou Itália, obrigadas a encontrar fornecedores alternativos aos mais de 35% de crude que até aqui chega da Rússia.

Assim, neste entremeio onde ninguém arrisca o que vai suceder nos próximos meses, o barril de Brent estava a ser vendido em Londres, perto das 11:00, hora de Luanda, a 117,04 USD, uma descida de quase 8 USD em apenas dois dias.

E esta escorregadela é resultado do aumento planeado para Julho e Agosto de 648 mil barris/dia quando os mercados e os analistas esperavam que esta subida se mantivesse nos 432, como tem sido regra.

Todavia, estes valores poderão não ter qualquer efeito real, sendo apenas coincidência, porque os mercados, segundo analistas citados pela Reuters, estão a ser mais sensíveis à redução de consumo na China e noutros países da Ásia devido à sucessão de feriados nacionais importantes.

A crise económica à espreita

Há uma grave crise económica à espreita por causa da guerra na Ucrânia, embora existam outras, como o próprio FMI admite, incluindo o risco de uma receção nos EUA, com valores de inflação históricos também na Europa, com a média a passar já os dois dígitos, com um desemprego galopante e encolhimento gritante do consumo.

E isso é hoje claro ao analisar os mercados, que tombam depois de dois meses de transacções em alta, apertados pela continuação de uma oferta estreita face à procura, que nem sequer a libertação de milhões de barris das reservas estratégicas dos EUA e de países aliados, como Japão e Coreia do Sul, está a ajudar a alargar, sofrendo ainda do efeito de recuperação - diluído, apesar de tudo, pela guerra na Ucrânia - permitida pelo fade out da crise pandémica.

Para Angola, que é um dos países exportadores mais beneficiados com este período em alta, de acordo com a Fitch Solutions, qualquer alteração de preço tem impacto na sua economia porque o petróleo representa cerca de 95% do total das exportações nacionais, mais de 35% do seu PIB e até 60% das receitas fiscais que garantem o funcionamento do Estado.