O registo histórico nestes quase oito meses que passaram desde o anúncio do surgimento em números graves do novo coronavírus, em meados de Março, e primeiramente detectado em Wuhan, cidade do centro da China, em Dezembro de 2019, é que o aumento de casos corresponde a uma diminuição no valor do petróleo, mas oque está actualmente a suceder é precisamente o contrário.
A razão para isso é que, nestes últimos dias, duas notícias inverteram o curso normal nos gráficos do Brent, em Londres, e no WTI de Nova Iorque: o anúncio de vacinas eficazes para as próximas semanas e a garantia por parte da OPEP+, organismo que agrega os Países Exportadores (OPEP) e um grupo de não-alinhados liderado pela Rússia, de que se a situação pandémica o exigir, estão receptivos a uma revisão do actual mapa e plano de cortes à produção.
Revisão essa que passará por manter os cortes actuais de 7,7 milhões de barris por dia (mbpd) para lá de 01 de Janeiro quando o mapa ainda em vigor aponta para que nessa data os cortes passem para os 5,5 mbpd.
Quem deu essa garantia foi Abdelmadjid Attar, o ministro da Energia argelino, que acrescentou uma nota que é, normalmente, música para os ouvidos dos mercados: a OPEP+ pode mesmo defender, se necessário, que os cortes actuais sejam aprofundados a 01 de Janeiro caso a situação global se agrave.
Para já, a "oferta" da OPEP+ poderá nem ser necessária, visto que, como o Novo Jornal noticiou aqui, a farmacêutica norte-americana Pfizer anunciou nas últimas horas que a sua vacina, ainda em fase de testes, tem uma eficácia de 90%, o que é um valor considerado excelente para uma vacina e poderá estar no mercado global em Janeiro e para os casos considerados mais urgentes já no final do corrente mês.
Esta notícia foi música para os ouvidos dos mercados mas não chegou só, a orquestra já está pronta, com outras vacinas igualmente promissoras quase a chegarem ao mercado, desde logo a da AstraZeneca/Oxford, sueco-britânica, das norte-americanas Moderna e Johnson & Johnson ou ainda das produzidas por instituições russas, a Sputnik V ou da chinesa, criada pelos seus laboratórios militares.
Face a este cenário promissor - novas vacinas que prometem ajudar decisivamente a debelar a pandemia e a disponibilidade das OPEP+ para manter os cortes ou aprofundar os existentes -, os mercados rejubilam e respondem com um dos melhores momentos em quase oito meses, chegando mesmo, na passada semana, a alcançar uma subida de 10%, na quarta-feira, um recorde e, alta de seis meses.
Ou seja, o Brent, apesar de estar, cerca das 10:00 a corrigir ligeiramente em baixa, para os 43,68 USD por barril - na abertura chegou aos 44,11 - apresenta valores muito melhores que a 06 de Novembro, onde estava abaixo dos 38 USD, sendo de recordar que para Angola estes números garantem um relativo alívio visto que o seu Orçamento Geral do Estado para 2021 foi elaborado com o valor de referência do barril nos 39 USD.
Um dos problemas mais sérios, apesar das boas novas, é que algumas destas vacinas têm requisitos tão singulares que podem tornar-se inviáveis para uma grande maioria dos países do mundo, como, por exemplo, o facto de a vacina agora anunciada pela Pfizer exigir acondicionamento com a garantia de refrigeração a -70º (70º negativos), o que, por exemplo, na generalidade dos países africanos, isso impede de forma evidente que esta vacina chegue a todos os locais habitados.
E não se pode ainda ignorar, alertam os analistas, o facto de que para que a futura vacina ou vacinas sejam um sucesso em pouco tempo, o mundo tem de ter preparado um sistema logístico gigantesco, que exige milhares de aviões, centenas de navios e milhares de camiões e outros veículos terrestres, bem como entrepostos equipados com tecnologia de ponta para o seu acondicionamento, ou ainda garantir que a corrupção e o banditismo não vão interferir neste processo.
Outro ponto quente que vai surgir nesse momento é saber o que vão fazer as organizações internacionais face a grupo terroristas como o estado islâmico, a al qaeda, o boko haram ou o al-shabab, porque estes guerrilheiros e as suas famílias não podem permanecer como focos de contaminação onde o vírus pode manter-se e sofrer mutações que lhe permitam anular o efeito da vacina.
Em África, por exemplo, a União Africana criou uma plataforma online para garantir para a aquisição de vacinas para todos os países de forma a obter ganhos de competitividade quando estiver em causa disputar lotes comerciais da vacina e se a ONU não conseguir garantir que os países mais fragilizados economicamente não ficam para trás.