Angola, Nigéria e Cazaquistão são os três produtores no seio da OPEP+, 23 membros, que se debatem com maiores dificuldades em aproveitar o bom momento do sector, que tem na recuperação da economia mundial, com a diluição dos confinamentos provocados pelo Sars CoV-2, a razão de ser do aumento substancial da procura pela matéria-prima.
Apesar de o grupo a que Angola pertence ter anunciado em Julho um aumento mensal de 400 mil barris por dia a partir de 01 de Agosto, esse volume está a ser difícil de conseguir devido à deterioração da infra-estrutura petrolífera dos países-membros, especialmente no down stream, por falta de investimento nos últimos anos, pelo menos desde 2014.
Mas em Angola o problema tende a surgir em duplicado, visto que o País sofre com o problema do desinvestimento em pesquisa por novos depósitos, na própria infra-estrutura, ao que se junta o problema do envelhecimento dos campos activos, o que, no conjunto, em contribuído para que a produção nacional esteja em declínio praticamente há uma década, desde os 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) em 2008/9 para os actuais 1,2 mbpd ou menos.
Segundo uma notícia da Reuters, a OPEP+ debate-se com sérios problemas para corresponder à procura que está a crescer de volta para volumes iguais a 2019, antes do surgimento da crise pandémica, à beira dos 100 mbpd em todo o mundo, quando chegou a cair abaixo dos 90 mbpd em meados de 2020.
A incapacidade da OPEP+ em acrescentar os prometidos 400 mil bpd até final de 2021 está a esbarrar nalguns obstáculos técnicos, onde Angola surge como um dos principais devido à deterioração da sua estrutura produtiva, apesar de o Executivo de João Lourenço ter, praticamente desde que assumiu o poder, criado legislação amiga do sector petrolífero.
Alias, os problemas no sector petrolífero angolano acumulam-se a olhos vistos, com a Sonangol a atingir em 2020 um recorde em prejuízos ao que se soma a dificuldade em criar mais valias através da venda das quotas que possui no off shore nacional.
Dos três países apontados como sendo os que se debatem com maiores dificuldades em aumentar a produção, o Cazaquistão tem como justificação problemas de manutenção num dos seus principais campos, o Tengiz, o que se presume que seja passageiro.
Quanto a Angola e Nigéria, o problema é mais denso porque resulta de longos anos de ausência de investimento por parte das majors que operam especialmente nos seus off shores, bem como, mais no caso angolano, o envelhecimento das suas jóias da coroa, que são os maiores campos activos em território nacional.
Face a este cenário, os preços do Brent e do WTI, as suas principais referências mundiais, estão hoje a valorizar fortemente, sendo o Brent, a referência para as exportações nacionais, estava a valer, perto das 09:00 de Luanda, 76.30 USD +0,7% que no fecho de quarta-feira, enquanto em Nova Iorque o WTI se situava, à mesma hora, acima dos 72.25 USD, mais 0,07% que no encerramento da sessão anterior.
E esta crise de produção acontece na pior altura para a economia angolana, que ainda surge no topo da lista das petrodependências, embora tenha como bónus o facto de o seu OGE 2021 ter sido elaborado usando como referência para o barril os 39 USD, o que deixa um espaço oxigenado de 37 USD por barril para manuseio do Executivo na gestão das contas públicas.
Este lado positivo é, no entanto, esbatido fortemente pelo continuado declínio da produção nacional, como o mostra a incapacidade de suprir a sua parte da quota dos 400 mil barris por dia a dividir por 23 membros, o que seria sempre menos de 17 mil barris por dia a aumentar na produção nacional.
OPEP trava perdas maiores com perspectivas para 2022
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) voltou a aumentar a sua perspectiva para a procura de crude ao longo de 2022, colocando a fasquia acima dos 100 milhões de barris por dia (mbpd), valor de 2019, ainda sem o efeito da pandemia.
No seu relatório mensal divulgado na passada semana, o "cartel" aponta para uma sólida recuperação da economia mundial e, com isso, justifica a revisão em alta, face ao último documento, de Agosto, da procura pela matéria-prima, vendo o consumo aumentar 4.15 mbpd e não apenas os 3.28 mbpd anteriormente divulgados.
Com isto, detalha o documento, um dos mais aguardados pelos mercados, muito porque a OPEP, que desde 2017 aposta numa sólida parceria com a Rússia e outros 10 produtores "não-alinhados", executando sucessivas manobras de corte na produção e outros tantos programas de retoma, face às leituras atempadas das sensibilidades dos mercados, espera que o mundo observe em 2022 um forte incremento da actividade comercial, com a economia a florescer face ao sucesso das megacampanhas de vacinação contra a Covid-19 por todo o mundo.
Os mercados, na semana passada, reagiram em alta a este documento e no início desta semana esse efeito ainda se faz sentir, amortecendo uma eventual perda mais volumosa.
Recorde-se que a OPEP+ mantém em curso um programa de retoma da produção na casa dos 400 mil barris por dia, mensalmente, tendo vindo a aumentar sucessivamente os números depois de em 2020, especialmente nos meses mais duros da pandemia, terem sido enxugados um gigantescos 10 milhões de barris por dia da produção global, que estava na casa dos 100 mbpd e chegou a bater nos 89 mbpd.
O deve e o haver angolano
Sendo Angola um dos países na linha da frente das repercussões do sobe e desce dos mercados petrolíferos, devido à sua dependência das exportações de crude para o equilíbrio das suas contas - o petróleo ainda é responsável por mais de 94% das exportações e mais de 60 por cento dos gastos do Executivo e acima de 50% do PIB, este cenário de recuperação, apesar de tudo, permite algum optimismo nas contas nacionais mas ainda longe de um regresso ao patamar alcançado a partir de 2008, com o barril, como exemplo, a chegar aos 147 USD no Verão desse mesmo ano, permitindo um boom económico como nunca visto até ali.
A produção actual, em constante declínio, está abaixo dos 1,2 mbpd devido ao desinvestimento das "majors" a operar no offshore nacional, especialmente a partir de 2014, quando se verificou uma quebra abrupta do valor do barril, que passou de mais de 120 USD para menos de 30 dois anos depois, em 2016, bem como devido ao esgotamento/envelhecimento dos campos mais activos.
Apesar das mudanças substanciais na legislação referente ao sector e às alterações profundas nesta indústria decisiva para o País, a produção tem vindo a perder viço especialmente por causa da deterioração da infra-estrutura produtiva que desde 2014 viu os investimentos das "majors" descer, a fraca aposta na pesquisa por novas reservas e o envelhecimento de alguns dos mais importantes poços activos no offshore nacional.
Para já, com o barril acima dos 75 USD, o Executivo de João Lourenço conta com uma folga de mais de 37 USD em cima dos 39 USD que foi o valor usado como referência para a elaboração do OGE 2021, o que permite encarar com maior optimismo esta saída esperada da crise mundial, apesar dos fortes constrangimentos que a economia nacional enfrenta.
E, no âmbito do esforço do Governo para que o País não deixe de estar no radar dos investidores, aprovou em Conselho de Ministros um diploma de define regras e procedimentos para a atribuição de concessões petrolíferas em Regime de Oferta Permanente.
Isto vai permitir a promoção e negociação de blocos licitados não adjudicados e, segundo o comunicado deste CM, o documento legal permitirá permanentemente "a promoção e negociação de blocos licitados não adjudicados, de áreas livres em blocos concessionados e de concessões atribuídas à Concessionária Nacional, para potencializar e atrair investimentos nas actividades de exploração e produção de petróleo e gás natural, mediante o procedimento de concurso público".