Entre os 76,03 USD do fecho da última sessão da semana passada, sexta-feira, 30 de Julho, e os 71,19 USD a que chegou pouco antes do encerramento dos mercados na terça-feira, 03 de Agosto, fica um buraco para onde se esfumaram centenas de milhões de dólares dos cofres dos países exportadores e mais dependentes das receitas do crude, como é o caso de Angola, a maior parte deles a debaterem-se com graves crises económicas e sociais.
Apesar de hoje, quarta-feira, 04, o barril de Brent (para 72,69 USD, +0,34%), mas também o WTI (70,63 USD, +0,10%), em Nova Iorque, estarem a recuperar ligeiramente das volumosas perdas das últimas 72 horas úteis nos mercados internacionais, a possibilidade de uma continuação, embora menos acentuada, de perdas, não está, de todo, afastada, até porque as razões mais preponderantes para esse "tombo" não desapareceram.
E são elas os dados enfraquecidos da economia chinesa, que é aquela que mais importa crude em todo o mundo, e pelo ralenti da vacinação em massa nos EUA, a maior economia do mundo e a que mais consome a matéria-prima no planeta, onde a variante mais agressiva do coronavírus que está pode detrás da Covid-19, a Delta, começa a assustar devido à sua progressão nas comunidades não imunizadas.
Mas não só: o aumento da produção de petróleo em 400 mil barris por dia no mês de Agosto decidido pela OPEP+, "cartel" que agrega os Países Exportadores (OPEP) e um grupo de não-alinhados liderados pela Rússia, num total de 23 membros, está claramente a atenuar os ganhos sentidos nos últimos meses, onde o barril de crude ultrapassou mesmo os valores de mercados registados antes da "avalanche" da Covid-19 gerar a mais grave crise económica global desde, pelo menos, o crash bolsista de 1929, nos EUA.
Todavia, nem tudo parece ser mau para o sector, embora visto do prisma dos países exportadores e com economias dependentes do crude, porque o mundo debate-se como nunca para se ver livre do maior emissor de gases poluentes e com efeito de estufa, propulsores das alterações climáticas que devastam o planeta - em Angola estas são especialmente sentidas no sul do País, onde grassam secas prolongadas e severas.
Isto, porque os analistas antecipam, e os dados têm-no confirmado, sucessivas baixas nos stocks de crude e refinados nos Estados Unidos, que são medidos semanalmente, sendo que isso não tem sido suficiente para estancar as perdas no rasto da progressão da variante Delta do Sars CoV-2 tanto nos EUA como na China, que acaba de mandar executar milhões de testes à população da cidade de Wuhan, onde a pandemia começou no final de 2019, devido ao surgimento inesperado de novos casos, apesar da massiva vacinação dos seus mais de 10 milhões de habitantes.
E a fechar este emaranhado de razões que pressionam o petróleo em baixa, está o esperado regresso do Irão à condição de país exportador após um longo período sujeito a sanções por causa do acordo nuclear que agora deve voltar a ser activado após a mudança de políticas na Administração norte-americana com a saída de Donald Trump e a chegada de Joe Biden.
Em pano de fundo, garantindo a impossibilidade de fazer previsões, está o avanço acelerado dos talibans, denominação local dos radicais islâmicos no Afeganistão, sobre as maiores cidades do país após a saída caótica dos militares dos EUA e da NATO, deixando em aberto o regresso ao activo do gigantesco campo de treino para o terrorismo internacional que esta região sempre foi.
Isso é mais importante ainda quando se percebe que o Afeganistão é uma espécie de coração geográfico de uma vasta região onde estão potências nucleares, desde o Paquistão à Rússia, passando pela Índia e a própria China, mas também os grandes produtores de petróleo que são o Irão e a Rússia, e todo o vasto Médio Oriente.
Ou seja, apesar de o sucesso das campanhas de vacinação prometerem o regresso da normalidade que os mercados petrolíferos tanto apreciam e valorizam, a política regional e geoestratégica do oeste asiático pode obrigar a um embaralhar e dar de novo que pode ser um problema para as contas públicas de países como Angola, que contam como nunca com estas recentes valorizações do crude para saírem do fundo e largo buraco da crise em que se encontram.