Na passada quinta-feira, o mundo ficou a saber que Donald Trump estava infectado com o novo coronavírus, e a reacção dos mercados energéticos não se fez tardar, com um tombo de quase dois por cento, mantendo-se em baixo na sexta-feira, até ao fecho da semana, aguardando que o fim-de-semana pudesse trazer novidades sobre as perspectivas clínicas do Presidente norte-americano.
Em cima da mesa estava a possibilidade de Donald Trump, que fora hospitalizado entretanto, ser obrigado ou não a passar o poder para o seu Vice-Presidente, Mike Pence, o que só aconteceu duas vezes na história dos EUA, com Donald Reagan e George Bush, nas décadas de 1980 e 1990.
E é bem conhecida a aversão que os mercados petrolíferos têm a qualquer sinal de crise política, o que os levou a reagir em baixa, embora, neste caso, com maior moderação visto que as eleições estão marcadas para 03 de Novembro e nos EUA, uma democracia com pergaminhos, as datas das eleições são amovíveis, o que significa que qualquer crise seria de pouca monta e com espaço temporal encurtado.
Mas isso não impediu que, depois de no Domingo a equipa médica de Donald Trump ter admitido como forte possibilidade ele deixar o hospital já hoje, segunda-feira, os mercados terem reagido em alta na abertura da semana, recuperando das perdas de quinta e sexta-feira, tendo nesses dias tombado quase 4% devido à doença de Trump.
Assim, em Londres, onde as exportações angolanas assentam o valor médio das vendas diárias, o barril iniciou o dia a ganhar quase 3,57 %, para os 40,57 USD, referente aos contratos de Novembro, enquanto o WTI, em Nova Iorque, à mesma hora, cerca das 11:00 (hora de Luanda), mas ainda para contratos de Outubro, estava a valer 38,51 USD, mais 3,94% que no fecho de sexta-feira.
Mas a volatilidade nos mercados petrolíferos dificilmente advém de apenas um factor e, neste caso, a recuperação dos valores da passada semana, chegam igualmente de uma greve na Noruega dos trabalhadores do sector que está a tirar de circulação mais de 300 mil barris por dia, o que está a ajudar a valorizar a matéria-prima, claramente em tempos difíceis devido à ameaça permanente da pandemia da Covid-19.
Isto, porque em todo o mundo os números pandémicos não mostram sinais de cedência e as grandes economias estão a recuar no consumo de energia à medida que surgem cada vez mais notícias de novos confinamentos, fazendo já lembrar os meses de Março e Abril quando a Covid-19 levou a perdas históricas tanto em Londres como em Nova Iorque, onde o WTI chegou a ser vendido a valores negativos de 40 USD por barril.
Para já, a única certeza que os analistas têm é que esta recuperação nos mercados está directamente ligada à melhoria, pelo menos segundo garantem os seus médicos, da saúde de Donald Trump, e dos problemas laborais na Noruega, o maior produtor de crude europeu.
Mas admitem igualmente que isto pode ser sol de curta duração porque é natural que os efeitos positivos da recuperação de Trump sejam engolidos pelo aumento dos receios em torno da pandemia global, e a greve na Noruega é tendencialmente um problema em resolução.
O que poderá marcar a semana, se não surgirem dados novos sobre a saúde de Trump, especialmente se o seu estado de saúde não piorar, é a questão da pandemia e os sucessivos confinamentos em Espanha, França, Reino Unido, com a agudização também do problema na Índia e no Brasil, bem como noutras latitudes.
E a produção líbia, o grande produtor do norte de África, está a ganhar milhares de barris diariamente, depois de entre Agosto e Setembro, terem saído do mercado quase 600 mil barril devido ao conflito interno, em que os rebeldes estão há mais de um ano a tentar o assalto ao poder em Trípoli.
E, à distância, há ainda outra ameaça aos produtores tradicionais, como Angola, que é o paulatino regresso aos mercados dos produtores do fracking norte-americano, ou petróleo de xisto, que consiste, em síntese, na injecção de água e químicos no subsolo para explodir a rocha e dela extrair gás e crude.
Mas, porque o breakeven desta indústria alternativa é bastante superior à produção tradicional, com as recentes baixas nos mercados, a maioria destes produtores saíram da produção, mas estão, agora, com a recuperação dos preços, a retomar a actividade ou a preparar o terreno para isso, o que é sempre uma ameaça para a restante oferta.
A par disso, segundo dados das alfândegas da China, o gigante asiático está a consumir menos petróleo, importando menos cargas, e isso tem um impacto directo no resto do mundo, ou não fosse a China a segunda maior economia do mundo e o maior importador de petróleo planetário, o que vai acabar por se reflectir nos preços no médio prazo, senão mesmo no curto.