Esta decisão da Arábia Saudita, que é o maior exportador global e um dos três maiores produtores da matéria-prima em todo o mundo, foi justificada por Riade com a redução da oferta previsível para os próximos meses depois de a União Europeia anunciar um embargo de até 90% das importações de crude russo até ao final do ano.

Com esta decisão europeia, os países altamente dependentes da energia russa estão agora obrigados a ir buscar o seu petróleo a outros produtores/exportadores, o que simplesmente, segundo organismos internacionais, como a OPEP, mas também a Agência Internacional de Energia (AIE), não existe disponível nas quantidades exigidas.

E não existe, pelo menos para já, porque as sucessivas crises que desde 2014 abalaram o mundo, especialmente a Covid-19 e o acelerar do processo de transição energética devido às trágicas alterações climáticas, levaram a uma forte redução do consumo, o que provocou um desinvestimento acelerado na pesquisa e produção que, agora, resulta num défice de oferta face ao crescimento da procura em economias libertas das grilhetas pandémicas do Sars CoV-2.

Um dos exemplos mais robustos desta consequência é Angola, cuja produção tem observado uma dramática redução, passando, em pouco mais de uma década, de 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) para os actuais 1,1 mbpd, embora a valorização do preço do barril, como apontou há pouco tempo a Fitch Solutions, faça do País um dos mais beneficiados com este período de empolgamento nos mercados.

E um dos sinais de que existem problemas sérios de oferta é que esta valorização e a decisão dos sauditas coincidem com uma decisão inesperada no seio da OPEP+, organismo que desde 2017 agrega os 13 Países Exportadores (OPEP) e 10 desalinhados encabeçados pela Rússia, de aumentar aos esperados 432 mil bpd, para Julho e Agosto, mais perto de 200 mil barris por dia, ou seja, para 648 mil, num claro sinal de que se está perante um afunilamento do espaço entre a oferta e a procura.

A par da questão russa, os mercados estão ainda, como sucede todos os anos por esta altura de início do Verão no Hemisfério Norte, a contar com um forte incremento do consumo nos EUA, onde milhões de famílias fazem longas viagens de carro, com elevadas cilindradas, pelo país, e ainda com o esperado fade out dos confinamentos na China, o maior importador do mundo.

Porém, esta nova incandescência nos mercados pode estar por um fio, porque, num claro volte-face histórico, e fruto da guerra na Ucrânia, os Estados Unidos, que mantêm há anos a Venezuela sob fortes sanções, confrontados com a necessidade de escolher entre "inimigos", escolheram manter a pressão sobre Moscovo e permitir a Caracas que volte a exportar crude em quantidades assinaláveis, através das petrolíferas europeias Repsol e ENI, como forma de aliviar o problema das sanções europeias a Moscovo.

Sendo que, no imediato, a Venezuela não estará em condições de fazer uma diferença substantiva porque, apesar de ter as maiores reservas do mundo, mais de 300 mil milhões de barris, a sua infra-estrutura extractiva está profundamente deteriorada por anos a fio de desinvestimento e sanções de Washington.

Mas, enquanto os mercados não encontram o equilíbrio, Angola é um dos países exportadores mais beneficiados porque o petróleo representa cerca de 95% do total das exportações nacionais, mais de 35% do seu PIB e até 60% das receitas fiscais que garantem o funcionamento do Estado.