O recurso ao Parlamento para, através da maioria suficiente que tem, afastar Zuma fazendo uso da ferramenta da retirada de confiança política do Parlamento, é uma possibilidade que os analistas sul-africanos já admitiam há dias, face à aparente recusa do Presidente em se afastar por sua iniciativa, mas foi a primeira vez, ontem à noite, que um membro do Governo, o ministro das Finanças, veio a público dizê-lo.
Malusi Gigaba, citado pelos jornais de hoje sul-africanos, entende que se o prazo dado pelo Comité Executivo Nacional do ANC, na segunda-feira, a Zuma para se demitir, 48 horas, e que hoje termina, então não restará outra coisa a fazer que não seja essa via.
"Ele vai fazer o que está certo, que é demitir-se na quarta-feira (hoje), cumprindo as orientações do Comité do ANC. Zuma vai fazer o correcto, tal como Thabo Mbeki fez em 2008", disse Gigaba, referindo-se ao facto de Zuma ter chegado ao poder, em 2009, depois de ter, após conseguir chegar a líder do ANC, manobrado nos corredores para afastar Mbeki da Presidência da República.
O mesmo, alias, que lhe está agora a acontecer, com Cyril Ramaphosa, que chegou a líder do ANC em Dezembro, e que agora manobra por detrás das cortinas para ocupar o cargo que Zuma ocupa há nove anos, sempre sob suspeita de corrupção e outros crimes graves.
Suspeitas essas que lhe garantiram uma queda brutal na popularidade, aliando isso ao facto de os índices económicos estarem todos em queda, o desemprego não parar de aumentar, o sector produtivo em colapso e sectores como a saúde e a educação em claro retrocesso, apesar de nas últimas semanas o Governo ter divulgado alguns números que permitem adivinhar uma recuperação económica.
Para já, ao que Gigaba afirmou também, uma reunião alargada do ANC no Parlamento está marcada para quinta-feira e na qual ficará traçado o mapa de acção para afastar Zuma do poder, sendo a solução mais próxima a moção de censura.
Isto tudo, porque Zuma, depois de dias de reuniões com o presidente do ANC, Cyril Ramaphosa, para, ao que a imprensa diz, negociar uma saída airosa do poder, nomeadamente uma espécie de salvo-conduto para sair das amarras da justiça, não terão conseguido um consenso.
Face a isto, Jacob Zuma, que tem 75 anos e uma história de 50 de carreira política iniciada na luta contra o apartheid, na década de 50 do século XX, com anos de cárcere partilhados com Nelson Mandela na cadeia de Roben Island, faz finca-pé e diz que não deixa o poder para já.
As eleições deverão, segundo o calendário normal, ter lugar em 2019, mas Zuma disse aos seus "camaradas" do ANC que pode sair dentro de 3 a 6 meses, tempo que o partido não está disposto a proporcionar.
Alias, o ANC, ainda segundo o ministro das Finanças, quer vê-lo pelas costas "imediatamente" porque ele deve "sair já" para corresponder "à visão que existe nesse sentido dentro do seu partido, que é uma exigência clara para que saia de imediato".
A eventual saída de Zuma do poder vai ter um forte impacto no continente africano, especialmente na região austral, onde lidera a SADC, com Angola a chefia o seu órgão de Política, Defesa e Segurança, tendo os dois países um papel essencial em crises locais como a que corre no Lesoto, mas também nos Grandes Lagos...