Donald Trump não podia ter sido mais claro e, depois de enviar uma esquadra naval liderada por um porta-aviões, para o mar da Península Coreana, disse que os EUA não vão tolerar nem mais um passo em falso ao regime de PyongYang e avisou Kim Jong-un que os EUA têm "uma armada muito poderosa" e "submarinos muito poderosos, ainda mais poderosos que os porta-aviões", prontos a atacar.
"A Coreia do Norte é um problema e vai ser devidamente tratado", afirmou Trump, sugerindo que o fará com ou sem a ajuda da China, o país vizinho da Coreia do Norte que tem, ao longo das últimas décadas, sustentado o, cada vez mais isolado, regime de Pyongyang.
Do lado da Coreia do Norte, o discurso não se altera há décadas e mantém a postura belicista, afirmando que não tem medo dos EUA e está pronta para responder de "todas as formas", incluindo com um ataque nuclear sobre os Estados Unidos, embora ainda esteja por provar se o país já possui mísseis balísticos com esse raio de acção, embora já não existam dúvidas de que dispõe de engenhos nucleares.
Perante este cenário, de eminente conflito na Península Coreana, com um triângulo perigoso constituído pelo Japão, China e Coreia do Sul em risco de se transformar numa figura geométrica indefinida, foi Pequim que assumiu o papel de guardião da paz, visto que o Japão e a Coreia do Sul há muito que demonstram estar cansados da instabilidade permanentemente alimentado pelo seu vizinho.
O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, admitiu já hoje que um conflito na região "pode ocorrer a qualquer momento", e, de frente a essa real possibilidade, com a presença da armada dos EUA pronta a atacar a Coreia do Norte, avisou: "Quem der o primeiro tiro terá de assumir a responsabilidade histórica e pagar o preço das consequências".
Yi reiterou que só o diálogo deve prevalecer e "é a única saída possível" porque "náo pode haver um vencedor para um conflito desta natureza. Todos perdem".
Neste contexto, aquilo que mais divide os analistas é saber se os recentes ataques na Síria e o aumento da intensidade dos ataques ao Daesh, bem como esta faiscante ameaça sobre a Coreia do Norte são ou não parte de um arriscado "bluff", já a tocar na irreversibilidade.
Sobre a Síria, os ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, do Irão e sírio, deram hoje uma conferência de imprensa que, na verdade, serviu para reafirmar a Trump que não estão a brincar quando dizem que vai haver uma resposta dura em caso de novo ataque sobre o país, porque se trata de uma acção que viola a lei internacional, acusando Washington de ter "inventado" o ataque químico para justificar a intervenção.
E também não restam dúvidas de que a postura de Donald Trump está agora virada em sentido contrário ao que afirmou na campanha eleitoral, muito mais intervencionista, como se percebe pela simbólica utilização de uma arma considerada a mais devastadora bomba do arsenal não-nuclear dos EUA.