Num texto intitulado "Afrofobia: a Europa deve enfrentar este legado do colonialismo e do tráfico de escravos", o comissário Nils Muiznieks apela a uma espécie de "mea culpa" colectivo como forma de expurgar o racismo do Velho Continente.
"Aqueles que não o fizeram devem reconhecer publicamente que a escravidão, o comércio de escravos e o colonialismo são uma das principais fontes de discriminação actual contra os negros", assinala o responsável.
Na mensagem, divulgada pelo Conselho da Europa, o comissário para os Direitos Humanos defende que esse reconhecimento público "é uma condição "sine qua non""para ultrapassar o que classifica de Afrofobia.
"As diferenças no tratamento das pessoas negras e outras minorias no sistema de aplicação da lei e justiça penal (na Europa) não são apenas contrárias aos padrões de direitos humanos, mas também são ineficazes e geram tensões sociais", assinala Nils Muiznieks.
O comissário salienta que "é hora de prestar mais atenção e investir mais no avanço da inclusão social, da igualdade e do empoderamento dos negros na Europa", caminho que exige uma tomada de consciência em relação à História.
Nils Muiznieks aponta como exemplos os ataques racistas dirigidos contra a ex-ministra da Integração de Itália, Cécile Kyenge, e a antiga ministra francesa da Justiça, Christiane Taubira, ambas comparadas a macacos.
Para o comissário, estes casos "chocantes", ocorridos em 2013, evidenciam que as consequências discriminatórias da escravatura e colonialismo "ainda hoje são amplamente ignoradas ou negadas".
"É inquietante notar que, em vários países europeus, a retórica usada por certos partidos e políticos pode ser qualificada como discurso de ódio. Há, infelizmente, uma série de exemplos em que políticos atacaram os seus colegas negros com abuso racista", insiste Muiznieks, ainda em referência aos ataques sofridos pelas antigas ministras Cécile Kyenge e Christiane Taubira.
O comissário dos Direitos Humanos nota que a hostilização da diversidade acaba por produzir um efeito dissuasivo sobre aqueles que se poderiam aventurar na política, perpetuando a sub-representação dos negros na política a nível nacional e europeu.
Para além de defender a importância de um reconhecimento público da escravatura e do colonialismo, no combate ao racismo, o responsável lembra a importância dos meios de comunicação social e dos políticos neste processo.
"Os políticos, os jornalistas e os criadores de opinião têm um papel particularmente importante a desempenhar ao não permitir que tais intolerâncias e o ódio proliferem. Devem ser encorajados a abster-se de estereótipos negativos e a promover valores baseados nos direitos", exortou.
Refira-se que, nos seus relatórios anuais de 2014 e 2015, a Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância concluiu que os testes de discriminação mostraram que as pessoas negras em toda a Europa geralmente são muito menos propensas a obter contratos de emprego ou habitação devido à cor da pele.