A sopa parece ter azedado de vez a ponto de o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, através do seu porta-voz, Geng Shuang, ter vindo a público aconselhar Donald Trump a "parar com tal prática detestável" porque o Governo de Pequim está "mesmo muito aborrecido".
Esta é já uma velha história dentro do capítulo da pandemia com que o mundo se confronta desde Dezembro, mas, agora, alimentada por uma realidade diferente, onde a China surge como o primeiro país do mundo a conter e a começar a derrotar o Covid-19 e os Estados Unidos da América como o sítio do mundo onde mais receios crescem de a doença poder escalar sem controlo devido ao débil sistema público de saúde norte-americano, que evoluiu para priorizar a iniciativa privada e retirado das prioridades os mais pobres e sem capacidade para comprar bons seguros de saúde.
O problema nos EUA aparenta ser, de facto, sério, a ponto de elementos do Governo alemão terem vindo a público acusar Trump de ter tentado ganhar a exclusividade de uma vacina que estaria prestes a ser anunciada ao mundo por um laboratório alemão, da empresa CureVac, o que lhe permitiria utilizar o medicamento com quem e onde fosse a sua vontade.
Esta informação foi, entretanto, posta em causa pela empresa, embora poucos acreditem que o Governo de Berlim pudesse fazer tamanha acusação sem fundamenros.
Mas, segundo os media ocidentais contam a partir do Weibo, a maior rede social chinesa, conhecida no ocidente como o "Facebook" chinês, de citações de membros do Governo de Pequim, e ainda de especialistas nos EUA que falaram aos media internacionais como a RT russa, por exemplo, esta tentativa de Trump obter direitos únicos sobre uma vacina é a prova de que os EUA estão à beira de enfrentar uma tragédia nunca vista, com a explosão do número de casos de Covid-19, que se propaga sob a ausência de capacidade de resposta norte-americana para testar casos suspeitos e monitorizar a progressão da doença no seu próprio território.
Face a este cenário, acusa ainda Pequim, Trump procura aliviar-se desta responsabilidade da incapacidade de travar a doença no seu país, criando uma "ideia falsa" de que a culpa é da China porque o "vírus é chinês".
Os EUA, segundo Trump, estão, no entanto, empenhados em evitar o contágio pandémico à economia, com Trump a garantir que vai "poderosamente suportar" as empresas norte-americanas, nomeando como exemplo as companhias aéreas, que estão a "ser particularmente afectadas pelo vírus chinês".
Foi desta frase que Pequim não gostou mesmo nada, com uma "forte condenação da frase" pela sua diplomacia, tendo ainda o porta-voz Shuang sublinhado que Pequim "condena e contesta veementemente" o comportamento dos EUA e de Trump, que não ligou nada ao conselho da Organização Mundial de Saúde, que, através do seu director-geral, pediu para que fossem abandonadas as expressões que pudessem atribuir uma paternidade ao novo coronavírus, considerando que isso é "discriminatório e estigmatizante".
Todavia, esta troca de recados surge depois de o próprio Ministérios dos Negócios Estrangeiros chinês ter formalmente acusado os militares dos EUA de terem produzido e levado o vírus para a cidade chinesa de Wuhan.
Esta acusação levou o Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, a telefonar a Yang Jiechi, um dos mais proeminentes elementos da diplomacia chinesa, para protestar contra as acusações chinesas.
E a oficial Xinhua, a mais importante agência chinesa de notícias, estatal, publicou um editorial onde diz que "o uso de nomes racistas e xenófobos para culpar outros pelo surto, só revela a irresponsabilidade desses políticos e a sua incompetência", num recado claro e evidente para Donald Trump, que está a ser acusado internamente de não ter reagido a tempo e horas, tal como o Governo de Pequim foi igualmente acusado no início da pandemia.
Isto, quando o mundo vê o número de casos passar os 180 mil e os mortos a barreira dos 7 mil - 182.990 e 7.150, respectivamente.