Mas os Republicanos de Trump não perderam totalmente a face nestas eleições intercalares, onde estavam em disputa parte dos lugares dos Representantes e do Senado, a duas câmaras do Congresso (Parlamento) norte-americano, ao terem mantido a maioria no Senado e o governo de alguns estados considerados essenciais, como o Texas, por exemplo.

Perante estes resultados, todavia, o mais importante é que, porque o sistema político e a Constituição dos EUA impõem, genericamente, a mesma capacidade de decisão à câmara dos Representantes (mais popular, ou Câmara Inferior) e ao Senado (mais elitista, ou Câmara Superior), as decisões do Presidente, especialmente aquelas de maior impacto nacional e internacional, só podem ser prosseguidas com a aprovação das duas câmaras.

E, ainda mais grave para Donald Trump é o facto de, com a maioria nos Representantes, os Democratas poderem agora dar início a alguns dos mais impactantes processos políticos nos EUA, como a destituição ou impeachment, para o qual já houve defesa pública de algumas destacadas personalidades no país devido à desconfiança que existe sobre um alegado conluio entre o Presidente e a Rússia na manipulação eleitoral que o levou à Casa Branca ou ainda por causa das dúvidas que existem sobre a honestidade fiscal do seu universo empresarial e pessoal.

Mas para Trump esta nova realidade não o levou a ser mais comedido nas suas inflamadas e já famosas declarações de vitória, considerando que estas eleições lhe conferiram um "tremendo sucesso".

Uma das razões para o ter feito é porque as eleições intercalares nos EUA acontecem sempre a meio do mandato e a norma é que o partido que governa perca algum terreno para aquele que está na oposição, tendo, neste caso, sucedido exactamente assim, o que permite a Trump dizer que foi um sucesso eleitoral o facto de ter acontecido aquilo que já todos sabiam que iria acontecer.

Isto, mesmo sabendo-se que os Democratas, com Nancy Pelosi à frente da Câmara dos Representantes, já tinham dado garantias a Donald Trump de que, em caso de vitória nesta câmara, a sua vida enquanto Presidente iria deixar de ser tão fácil como foi até aqui, onde estava respaldado pela maioria nas duas câmaras do Congresso nas mãos dos Republicanos, tendo de contar a partir de agora com a sombra do impeachment sobre todas as suas decisões, deixando de ter forma de travar as investigações sobre as suas dúbias relações com o Kremlin de Vladimir Putin ou ainda fechar a porta a um inquérito aprofundado sobre as suspeitas de que, ao longo da vida, fugiu a pagar milhões em impostos, seja sobre os seus negócios, seja sobre a fortuna que herdou do seu pai.

Um novo dia...

E isso mesmo foi reiterado logo após serem conhecidos os resultados por Nancy Pelosi, a líder dos Democratas na câmara dos Representantes, afirmando que "amanhã será um novo dia", querendo enfatizar que nada será como dantes nos EUA depois destes resultados, onde terminou um "reinado" Republicano de oito anos neste órgão do Congresso norte-americano.

Pelosi foi e deverá ser agora de novo a presidente da Câmara dos Representantes, tendo já garantido que vai fazer tudo para manter a defesa dos valores dos EUA, que é como quem diz, barrar as políticas homofóbicas, xenófobas e nacionalistas ou anti-imigração da Administração Trump.

"Com esta nova maioria democrata, vamos honrar os valores de nossos pais fundadores", sublinhou Nancy Pelosi, no mesmo tom com que Bernie Sanders, candidato derrotado entre os Democratas para a corrida à Casa Branca e agora reeleito senador do Vermont, que foi claro ao garantir que a prioridade do seu partido é derrotar a política preconceituoso e racista de Donald Trump, com ambos a falar na urgência de combater a aposta na desunião do país da actual Administração.

Num gesto raro de humildade, Trump apressou-se a enviar as suas felicitações a Nancy Pelosi pela vitória dos Democratas na Câmara dos Representantes.

Resultados

Como lembra a Lusa, o Partido Republicano deve perder o controlo da câmara de representantes e manter a maioria no Senado, perdendo oito lugares de governador, nas eleições intercalares dos EUA, de terça-feira, de acordo com as ultimas projecções.

Com ainda cerca de 30 lugares na câmara de representantes por apurar, as projecções indicam que o Partido Democrata deverá ficar com 227 lugares, contra 208 dos Republicanos.

No Senado, três corridas estão ainda em aberto, mas as projecções indicam que os Republicanos devem manter o controlo, reforçando com entre um e três lugares (54 contra 46).

Na disputa de lugares de governador, falta ainda decidir os Estados de Wisconsin, Georgia, Connecticut, Alaska e Nevada, mas as projecções mais recentes indicam que os Democratas deverão ganhar oito novos Estados, aumentando a vantagem de 16 que já possuíam sobre os Republicanos.