É já daqui a uma semana que vão ter lugar as legislativas guineenses, que resultam da dissolução do Parlamento há um ano, a 18 de Maio, pelo Presidente da República, Sissoco Embaló, depois de uma longa crise política e pelo menos duas intentonas falhadas.
Na primeira marcação das eleições legislativas, Embaló apontou para 18 de Dezembro, mas esta data foi anulada, tendo o Chefe de Estado escolhido 04 de Junho para decidir a nova composição do Parlamento e o Governo do país.
A missão da União Africana chefiada por Joaquim Chissano, que conhece muito bem este país e as suas particularidades, onde já esteve por várias vezes em missões de mediação, chega a Bissau a partir de hoje, 29 de Maio e 08 de Junho.
Os 29 elementos que compõem esta delegação vão estar colocados nas principais cidades do país a partir de onde farão a observação da votação.
No boletim de voto vão estar 20 partidos políticos e duas coligação de partidos sobre quem incidirá a escolha que perto de 900 mil eleitores para preencher os 102 lugares da Assembleia Nacional e o novo executivo.
A delegação da UA via ter encontros iniciais com todos os partidos e coligações, bem como com elementos da sociedade civil e membros do Governo, incluindo, o Presidente da República, no topo da lista dos encontros de trabalho e de cortesia da equipa de Chissano.
Entretanto, recorde-se, já está no país uma outra missão de observação eleitoral da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que tem como matriz ser de longa duração e com o objectivo claro de estar no terreno para procurar lidar com as esperadas contestações aos resultados e eventuais tentativas de desestabilização social, política e militar.
Com um longo historial de instabilidade, a Guiné-Bissau é uma dor de cabeça para a comunidade internacional praticamente desde a sua independência, autoproclamada em 1973, tendo o ciclo de instabilidade acelerado a partir de 1998, com o início do conflito armado que durou um ano e levou à deposição do então Presidente "Nino" Vieira.
Desde então, este pequeno país da África Ocidental, com pouco mais de 2 milhões de habitantes, tem tido mais tempo em stresse político-militar que em situação de normalidade constitucional, com vários golpes de Estado, tentados e falhados, e com as casernas militares em permanente ebulição, com destaque para os assassinatos, de onde se destacam os de Ansumane Mané, em 2000, que liderou a revolta contra Nino Vieira, e Veríssimo Correia Seabra, em 2004 ou Tagme na Waie, em 2009.
Entretanto, o Presidente Kumba Yalá, que substitui Nino Vieira, foi deposto em 2003 pelo CEMGFA Veríssimo Correia Seabra, e o próprio Nino Vieira, que regressou a Bissau depois de vários anos em Portugal, ganhando as eleições Presidenciais em 2005, foi assassinado brutalmente logo nesse ano por elementos supostamente ligados ao anterior CEMGFA, Tagme Na Waie.
E não faltam razões para admitir que também neste processo eleitoral surjam problemas sérios, porque o Presidente da República já informou, contra todas as disposições constitucionais do país, que se a vitória couber à coligação que integra o histórico Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), não nomeará o seu líder, Domingos Simões Pereira, para primeiro-ministro, mesmo que seja essa indicação da coligação.
Os apelos de Embaló
Face a este cenário de permanente instabilidade, Sissoco Embaló, na semana passada, lançou um veemente apelo a todos os intervenientes e em especial às Forças Armadas para pugnarem pela estabilidade e a segurança durante e após o período eleitoral, incluindo a tomada de posse dos eleitos para o Parlamento e o novo Governo.
Esse apelo foi especialmente dirigido ao actual CEMGDA, general Biague Na Ntan, um respeitado líder militar que tem procurado manter os quartéis longe da disputa política.
Citado pela Lusa, Umaro Sissoco Embaló, um antigo militar com posto de general, face aos seus "camaradas" em Parada, no quartel da Amura, uma antiga fortaleza no centro de Bissau, onde está o túmulo de Amílcar Cabral, o fundador do país, e de Cabo Verde, pediu-lhes para se "afastarem dos políticos porque todas as sublevações que aconteceram neste país foram promovidas por políticos, mas quem acaba por pagar são os militares".
Falando directamente para o CEMGFA Biague Na Ntan, o pediu que todos os elementos das Forças Armadas trabalhem no sentido de garantir que o processo eleitoral decorra com tranquilidade até à tomada de posse dos novos deputados.
"Incumbi ao chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas para que as coisas corram bem. Penso que as eleições serão justas, livres e transparentes e quem perder vai saber respeitar a expressão da vontade da maioria", observou Sissoco Embaló, ainda citado pela Lusa.
O Presidente guineense aproveitou para esclarecer que não se envolve na campanha eleitoral, por ser "árbitro do processo" e que ninguém o viu com "a camisola vestida ou a apelar ao voto para um determinado partido".
Umaro Sissoco Embaló considerou que "talvez alguns partidos" estejam a interpretar mal as suas palavras durante a campanha eleitoral em curso e que deverá terminar em 02 de junho.
Em carta aberta hoje dirigida ao chefe de Estado, a coligação eleitoral Plataforma Aliança Inclusiva (PAI) -- Terra Ranka exigiu ao Presidente da Guiné-Bissau que pare de interferir na campanha eleitoral e cumprir a lei.
Integrada por cinco partidos, a coligação PAI-Terra Ranka é liderada pelo Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), cujo presidente, Domingos Simões Pereira, o chefe de Estado já avisou que não irá nomear primeiro-ministro em caso de vitória eleitoral.
O líder do Partido da Renovação Social (PRS), Fernando Dias também tem feito apelos no sentido de Umaro Sissoco Embaló se afastar da campanha eleitoral por não serem eleições para a escolha do Presidente da República.
O chefe das Forças Armadas guineenses, o general Biague Na Ntan, garantiu que "nada vai acontecer" durante o processo eleitoral e prometeu a paz e a tranquilidade na Guiné-Bissau.