Este ataque, um dos mais mortíferos dos últimos tempos, tendo provocado 21 mortos, ocorreu na noite de sexta-feira, 30, para Sábado, 31, e vem colocar, de novo, em cima da mesa a questão da violência no leste da RDC, região sacrificada há décadas, pelo menos desde os anos de 1990, por repetidos ataques às populações por vários grupos de guerrilha, alguns com origem no Uganda, como as ADF, e no Ruanda, como as FDLR (Forças Democráticas de Libertação do Ruanda) e os inúmeros grupos de milícias locais, com destaque para o famigerado M23.
Mais uma vez, como relata a Radio Okapi, a emissora da ONU na RDC, este ataque levanta sérias questões sobre a capacidade de resposta da Forças Armadas da RDC (FARDC) à violência protagonizada, repetidamente, pelos grupos de guerrilha e de milícias sobre populações indefesas.
Mas este ataque é igualmente uma flecha espetada no Memorando de Entendimento assinado pelos Presidentes do Ruanda, Paul Kagame, e do Uganda, Yoweri Musevini, na capital angolana, sob os auspícios dos Presidente da RDC, Félix Tshisekedi, e angolano, João Lourenço, com o anfitrião a investir fortemente neste documento promissor de paz no leste congolês e que deveria, e ainda deverá, ser um "mapa" para encontrar a paz e a segurança definitivas entre estes dois países mas também para toda a turbulenta Região dos Grandes Lagos.
O anúncio foi feito pelo Presidente ruandês via Twitter, em Agosto, com a Presidência ruandesa a anunciar que o documento foi assinado por ambos os Presidentes, Kagame e Musevini, sob os auspícios de João Lourenço e de Félix Tshisekedi, Presidente da República Democrática do Congo (RDC), tendo assistido à cerimónia que teve lugar em Luanda o Presidente Denis Sessou-Nguesso, do Congo-Brazzaville.
Este Memorando de Entendimento de Luanda, foi considerado histórico pelos Chefes de Estado que nele participaram e após a sua assinatura, João Lourenço lembrou a sua relevância como "exemplo" para todo o continente de que "todas as diferenças e disputas devem ser resolvidas pelo diálogo".
O documento contempla ainda o compromisso dos signatários em combater nos seus territórios os movimentos de guerrilha e milícias que possam perigar a paz na região dos Grandes Lagos, como foi o caso de mais este ataque no Kivu-Norte congolês.
Um longo caminho percorrido
Este encontro de Agosto do ano passado em Luanda foi uma extensão da reunião que teve lugar em Julho, também de 2019, também na capital angolana, e de um anterior, na RDC, na localidade de N"Sele, a 01 de Junho e sobre ele existia a expectativa de ser um ponto final no prolongado cenário de conflito no leste da RDC e entre os dois pequenos, mas estratégicos, países dos Grandes Lagos, o Uganda e o Ruanda, cujas relações se deterioraram bastante nos últimos meses de 2018 e 2019, a ponto de terem surgido acusações mútuas de invasões militares dos respectivos territórios.
A par deste problema localizado entre Ruanda e Uganda, neste encontro de Luanda esteve ainda colocada a forte expectativa de que seja o início de um processo de limpeza dos grupos que estão por detrás da violência que há décadas perturba o leste do Congo, especialmente as guerrilhas com origem no Uganda, as ADF, e no Ruanda, as FDLR- ou outros grupos sucedâneos, bem como as milícias locais, quase todos criados na década de 1990, no rescaldo do genocídio de mais de 800 mil tutsis no Ruanda pela maioria Hutu.
O Chefe de Estado angolano esteve por detrás, na primeira linha deste esforço para abrir o caminho para a paz definitiva nos Grandes Lagos, uma das regiões mais ricas do continente africano mas, ao mesmo tempo, uma das mais conflituosas.
O objectivo é ir mais longe no vasto rasto de violência que abrange os grupos de guerrilha e milícias no leste da RDC, que, segundo vários organismos internacionais, contam com apoios fora das fronteiras do Congo, especialmente dos dois vizinhos mais importantes, o Ruanda e o Uganda, cujos interesses passam, ainda segundo as mesmas fontes, pela exploração dos ricos recursos naturais existentes na parte congolesa, nomeadamente as províncias dos Kivu, Norte e Sul.
Recorde-se que a União Africana, através do seu Conselho de Paz e Segurança (CPS), já adoptou o resultado da Cimeira de Luanda para a definição das suas decisões e elaboração de políticas sobre a Região dos Grandes Lagos.