Esta decisão da CENI, reafirmada pelo seu presidente, Corneille Nangaa, vem claramente aumentar a tensão que rodeia a votação que vai ficar para a história como aquela em que Joseph Kabila (na foto), no poder desde 2001, deixa a chefia do Estado congolês.
A justificação é sustentada pela dificuldade de reunir dados de todas as províncias do país, admitindo ainda Nangaa que uma semana depois do escrutínio, que levou às urnas cerca de 39 milhões de eleitores, apenas 50 por cento dos votos estão contados.
Apesar deste atraso, a comunidade internacional, os partidos e candidatos da oposição e a igreja católica estão a exercer uma forte pressão sobre a CENI - órgão comummente acusado de estar manietado pelo regime de Kabila - para que não aumente o risco de violência e atenue a tensão pos-eleitoral acelerando o processo de contagem e de divulgação dos resultados.
São três os candidatos na linha da frente, Ramazani Shadary, ex-ministro do Interior e delfim de Kabila, Martin Fayulu, candidato apoiado pelos pesos-pesados da política congolesa Jean-Pierre Bemba e Moise Katumbi, ambos impedidos de ir a votos pela justiça congolesa, e Félix Tshisekedi, herdeiro político do histórico opositor a Kabila e seu pai, Etienne Tshisekedi.
Segundo informações oficiosas fornecidas pela Conferência Episcopal da RDC, que agrega os bispos católicos do país, que representam mais de 50 por cento dos cerca de 80 milhões de habitantes, e que contou com 40 mil observadores eleitorais espalhados pelas 26 províncias da RDC, o candidato MMaryin Fayulu segue na liderança da contagem com uma larga vantagem sobre os outros dois favoritos.
Estas podem ainda ser as primeiras eleições na RDC (antigo Zaire de Mobutu Sese Seko) com transição de poder sem violência generalizada desde a independência do país em 1960.
Todavia, os analistas citados pelas agências internacionais admitem que se se confirmarem os receios de que o regime de Kabila está a preparar uma eleição fraudulenta do seu candidato, Ramzani Shadary, será impossível conter a revolta popuular e uma resposta violenta das forças de segurança leais aos regime.
Os EUA, por exemplo, acreditam que é pequena a margem para uma saída pacífica deste imbróglio a ponto de terem enviado já um contingente militar para o Gabão para interceder em defesa dos seus cidadãos e da sua embaixada em Kinshasa em caso de eclosão de violência descontrolada.
Recorde-se que estas eleições, que vão decidir, para além da Presidência da República, os deputados nacionais e provinciais, estão a ser realizadas com dois anos de atraso - estavam marcadas no razo constitucional ara Dezembro de 2016 - mas, através de expedientes, foram sendo adiadas por Kabila.
Para trás, desde 2015, ficam centenas de mortos em sucessivas manifestações anti-Kabila e a favor de eleições livres e justas.