Este novo elemento escala este conflito para o patamar "nuclear", mas o que está a atrair mais atenções dos media internacionais é um ataque a um mercado de Kostyantynivka, na região de Donetsk, onde morreram 17 pessoas e dezenas ficaram feridas e para o qual tanto russos como ucranianos rejeitam a autoria.
O ataque nesta quarta-feira a um mercado da cidade de Kostyantynivka, controlada pela forças ucranianas, na região de Donetsk, gerou de novo uma avalanche de críticas aos russos por mais um ataque sem nexo e sem qualquer objectivo militar conhecido, sobre civis, com resultados trágicos, mas também a dúvida gerada por alegadas "provas" usadas por Moscovo para acusar Kiev de ter feito este ataque de "falsa bandeira" sobre civis de forma a acusar a Rússia num momento em que o chefe da diplomacia norte-americana visitava a capital ucraniana.
Do lado ucraniano, a versão é simples, as forças russas dispararam um míssil sobre um mercado civil, em pleno funcionamento, na cidade de Kostyantynivka, sem qualquer alvo militar visível, por puro ódio e selvajaria, de forma a esconder as derrotas no campo de batalha.
Mas do lado russo, além de rejeitar a autoria deste ataque sem justificação ou objectivo militar conhecido, até porque a cidade não está entre as mais usadas no trânsito de forças ucranianas para a linha da frente, a versão é totalmente ao contrário.
Moscovo aponta o dedo aos ucranianos de terem provocado esta mortandade para acusarem a Rússia durante a visita do Secretário de Estado norte-americano a Kiev de forma a potenciar a vontade de Washington em reforçar o apoio ao país no seu esforço de guerra.
E entre as provas demonstradas de forma insistente nos media russos está o facto de elementos recolhidos no vídeo usado pelos ucranianos nas redes sociais para evidenciar a selvajaria russa mostrarem que o projéctil foi disparado de uma região controlada pelas forças ucranianas.
Segundo os russos, isso fica exposto pelo reflexo do míssil num carro estacionado na rua e pela forma como os transeuntes olhavam para o lado de onde este provinha, seguindo o barulho próximo, sendo que essa mesma direcção é a da área ucraniana e de onde a Rússia não teria condições de disparar um míssil.
Sendo difícil de provar uma e outra versão, mas com mais força a versão ucraniana porque a cidade de Kostyantynivka está fora da geografia sob domínio russo na província de Donetsk, no Donbass, leste ucraniano, este é claramente um crime de guerra que pode vir a ser lecado a tribunal após o fim do conflito.
Entretanto, em Kiev, o chefe da diplomacia norte-americana anunciava, quase à mesma hora da explosão na cidade de Kostyantynivka, mais um pacote robusto de ajuda militar à Ucrânia, desta feita com um acrescento especial, a inclusão de munições de urânio empobrecido, armamento altamente polémico pela sua provada radioactividade que deixou largos milhares de vítimas durante anos após esses conflitos, tanto no Iraque como nos balcãs, sendo usadas pelos EUA no Iraque e na Europa contra a Sérvia, na década de 1990.
Washington e as suas antenas nos media internacionais alegam que estas munições não são radiactivas porque são produzidas com uma versão empobrecida de urânio, provocando apenas maior capacidade de penetração nas blindagens, mas os registos colhidos por diversas organizações internacionais onde já foram usadas, como no Iraque, demonstram o contrário, sendo já provado os efeitos nefastos durante décadas, especialmente nos recém-nascidos...
A chegada destas munições controversas ao campo de batalha da Ucrânia, desta feita pela mão dos EUA, e depois de o Reino Unido também ter anunciado que o faria, elevará a fasquia deste conflito para um patamar "nuclear", porque, como a Rússia já avisou, também dispõe delas no seu arsenal e fará uso assim que os ucranianos dispararem o primeiro tiro com este tipo de munições.
Os EUA vão enviar este tipo de munições, que permitem maior eficácia ao mesmo tempo que os seus M1A1 Abrams, os modernos "tanks" que deverão emparelhas com os alemães Lepard 2 (já foram destruídos dezenas) e britânicos Chalenger 2 que restam, estes últimos chegados apenas há uma semana à linha da frente e já foram destruídos dois.
Os analistas militares notam que estas munições são consideradas uma vantagem nos combates de blindados, tanto de um lado como do outro, fortemente reforçados durante este conflito, tendo os ocidentais apostado nos já referidos Leopard, Abrams e Chalenger, enquanto os russos introduziram nos combates os seus renovados T72 e T80 e os avançados T90, enquanto está por demonstrar que os mais novos e sofisticados T14 Armata já foram empregues nas batalhas.
Todavia, com o aproximar do Inverno no Hemisfério Norte, com o leste da Ucrânia fortemente propenso a chuvas intensas e, já em Outubro, a grandes nevões, os analistas miliares estimam que os combates no terreno venham a entrar em "hibernação", sendo este tempo mais propício ao uso de drones e misseis nos ataques de um e do outro lado.
No campo da guerra de propaganda, as chamadas operações de "falsa bandeira", como os russos acusam Kiev de ter feito com o ataque na cidade de Kostyantynivka, devem ter um forte incremento também, sendo que esses têm como fim um aumento de vítimas entre civis. Alias, ao longo deste conflito, as acusações mútuas deste tipo de acções têm-se repetido em grande quantidade.