No Sábado, em Douma, região de Ghouta, a norte da capital, Damasco, dezenas de civis terão sido vítimas de um alegado ataque com armas químicas que os EUA e a Inglaterra se apressaram a imputar às forças armadas da Síria, mas que a Rússia, através do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, se apressou a desmentir, garantindo não existirem quaisquer provas.
Face a este cenário, o Presidente norte-americano veio a público garantir que, em 24 a 48 horas, anunciaria qual a resposta a dar ao tal ataque químico por considerar que "o mundo não pode tolerar" este tipo de crimes de guerra e que terá "um alto preço a pagar" pelo regime sírio.
Enquanto decorrem as última horas do fim do ultimato de Trump, a Rússia, sempre pela boca de Lavrov, respondeu avisando Washington que não ficaria a assistir impávida e serena a um ataque contra Damasco, porque tem uma forte presença militar na Síria a pedido de um Governo legítimo que conta com a sua protecção, e que está no terreno a ajudar a combater os grupos terroristas e milícias armadas que procuram depor al-Assad através das armas e desestabilizam toda região, como o estado islâmico, entre outros.
"Alto preço a pagar"
Para já, aguarda-se qual o tipo de resposta que Donald Trump vai, como prometeu, anunciar até ao fim do dia de hoje ou até amanhã, mais tardar, Moscovo lembra que não existem quaisquer provas de que tenha acontecido um ataque com químicos, alegadamente cloro, remetendo a responsabilidade aos grupos que se opõem ao regime de Assad, que terão "plantado" provas - imagens de vídeo forjadas - para algo que o próprio Crescente Vermelho da Síria (Cruz Vermelha) não encontrou evidências de ter acontecido.
A tese de Lavrov é que tal foi feito para pressionar o ocidente, leia-se EUA e Reino Unido, a intervir na Síria, fragilizando as forças de Assad e da Rússia, mas também do Irão, para ganharem terreno na luta pelo poder em Damasco, lembrando que isso já sucedeu noutras alturas, sendo a mais famosa a denúncia, que se verificou ser falsa posteriormente, norte-americana de armas químicas no Iraque para justificar a invasão, em Março de 2003.
Sabe-se que a Rússia, pela primeira vez com este tom e ênfase, garantiu que vai dar uma resposta à altura aos EUA se atacarem o regime de Assad, até porque Moscovo não está em condições de perder a sua base militar composta pela base aérea de Khmeimim e o porto de Tartus, na região de Latakia, litoral da Síria e única saída para as forças russas de acesso aos chamados mares quentes, neste caso o Mediterrâneo, fundamental do ponto de vista geoestratégico para a presença de Moscovo na vasta região do Médio Oriente.
Apesar desta resposta imediata da Rússia, também o Reino Unido já se veio colocar ao lado dos EUA, acusando o regime sírio de ter e continuar a realizar crimes de guerra atrozes e que não podem ficar sem resposta.
A França, menos enfática, veio, pela voz do seu Presidente Emmanuel Macron, dizer que não terá dúvidas de atacar Bashar al-Assad se forem apresentadas provas dos ataques com armas químicas, negando as declarações do ministro russo de que especialistas enviados por Moscovo ao local garantiram não terem encontrado quaisquer indícios de ter ocorrido um ataque químico.
E a Turquia, segundo o Presidente Erdogan, já garantiu que "sejam quem forem os autores do ataque", vão "pagar um preço muito alto" pelo massacre contra civis em Douma.
Recorde-se que em 2015, a Síria aceitou destruir todo o seu arsenal de armas químicas sob supervisão de organismos internacionais com acompanhamento da Rússia e dos EUA.
Conselho de Segurança sem mãos a medir
Face ao risco, bastante superior de se transformar em algo muito sério que aquele que representou a troca de ameaças entre os EUA e a Coreia do Norte de Kim Jong-un, o Conselho de Segurança das Nações Unidas apressou-se a convocar uma reunião de emergência, mas, ao que parece, para ficar tudo na mesma.
Isto, porque a embaixadora norte-americana, Nikki Haley, na ONU, repetiu exactamente as mesmas ameaças de Donald Trump, dando como garantido que o ataque ocorreu de facto e que por detrás dele estiveram o regime sírio e a rússia.
Mas também porque o representante russo no Conselho de Segurança, Vassily Nebenzia, voltou a negar e voltou a chamar a atenção para o perigo de uma grave escalada militar porque Moscovo não vai deixar de responder a qualquer ataque de forma clara e inequívoca, embora tenha, ao mesmo tempo, dizer que o seu país está disponível para aceitar uma investigação coordenada pela ONU ao tal ataque químico em Douma.
Neste momento, o Conselho de Segurança mantém-se em permanente reunião em busca de uma solução que permita evitar um confronto directo ou indirecto, como acontecia durante a Guerra Fria, entre os EUA e a Rússia, as duas maiores potencias militares e nucleares mundiais.
E a inquietação das Nações Unidas não é para menos, até porque a generalidade dos analistas ouvidos e citados pelas televisões, jornais e agências de todo o mundo tendem a confluir na ideia de que a tensão recente entre Trump e Kim Jong-un é uma brincadeira de crianças comparado com a resposta que o Presidente russo, Vladimir Putin, possa achar conveniente dar aos EUA para mostrar que não está para brincadeiras.
Para "dourar" a coisa, um ataque com mísseis, que Moscovo e Damasco imputam a Israel, nas últimas horas, matou vários militares numa base em território sírio, tendo morrido pelo menos três iranianos, o que aumenta a seriedade da acção porque o Irão é um dos grandes suportes de Assad na região.
Recorde-se que o tal "alto preço a pagar" afirmado por Donald Trump quando ameaçou a Síria de represálias por este alegado ataque já teve um episódio semelhante no ano passado quando enviou vários navios de guerra para o Mediterrâneo e a partir dos quais foram disparados diversos mísseis de cruzeiro contra uma base aérea próximo da capital síria.