Numa altura em que o mundo se une numa condenação quase total à ofensiva turca no nordeste da Síria, o Presidente Recep Tayyip Erdogan mantém a sua decisão de avançar em território sírio-curdo com aquele que é o 2º maior exército da NATO, de forma, justifica, a abrir uma faixa de território junto à fronteira do seu país para ali instalar os 3,6 milhões de refugiados que estão na Turquia em resultado dos mais de sete anos de guerra civil na Síria.
Recep Erdogan tem estado a ouvir dos seus aliados na NATO europeus que a sua ofensiva, de extrema violência, com recurso a artilharia pesada, tropas especiais e aviação, está a gerar milhares de refugiados no interior da Síria, porque as populações curdas, fustigadas durante anos pelos ataques do "estado islâmico - Daesh", são obrigadas a fugir para o interior do país, onde não tê qualquer tipo de ajuda humanitária.
As forças turcas, que já perderam cerca de uma dezena de militares nestes combates e pelo menos 170 entre os rebeldes sírios que os apoiam, combatem as Forças Democráticas da Síria (FDS), que integram as milícias curdas da YPG, forças responsáveis pela derrota dos radicais islâmicos do "estado islâmico", tendo sido apoiados pelos EUA nesse combate.
Os turcos, recorde-se, consideram o YPG um grupo terrorista apesar de essa não ser a visão que o uma boa parte do resto do mundo tem destas forças, que, lembre-se, resultaram da necessidade de defesa da região do "Kurdistão" face ao avanço dos jihadistas do Daesh.
O Exército turco só ganhou balanço para esta ofensiva depois de os militares norte-americanos, por decisão de Donald Trump, os terem abandonado à sua sorte no início deste mês, sob fortes críticas dos aliados europeus de Washington.
O "Kurdistão", área geográfica que abrange território da Síria, da Turquia, do Irão e do Iraque, é habitada por mais de 40 milhões de pessoas, sendo este o povo sem Estado mais numeroso do mundo, e aquele que, por tradição e opção política, tem mais liberdades de costumes e religiosas nesta região do Médio Oriente.
As milícias do YPG ficaram igualmente conhecidas por terem nas suas fileiras milhares de mulheres, quase todas jovens raparigas, que são tidas como as que mais férreo combate deram aos radicais islamitas do Daesh.
Agora, em resultado da invasão turca, como lembra a Lusa, as autoridades curdas no nordeste da Síria exigiram um "corredor humanitário" para retirar civis e "feridos" da cidade de Ras al-Ayn, cercada pelas forças turcas que a querem tomar aos curdos.
Bombardeamentos atingiram e danificaram um hospital da cidade situada perto da fronteira turca, segundo as forças curdas e o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
"O pessoal de saúde está cercado no estabelecimento", indicou o OSDH. O exército turco e os rebeldes sírios pró-turcos conseguiram hoje o controlo de perto de metade da cidade.
"Números civis estão sitiados na cidade", referiu num comunicado a administração semi-autónoma curda, afirmando que os "comboios médicos são alvo de bombardeamentos sistemáticos".
Exige assim uma intervenção da comunidade internacional para "abrir um corredor humanitário seguro para retirar" os civis e os feridos civis.
O apelo é dirigido à coligação internacional conduzida por Washington, parceira das forças curdas no combate aos "jihadistas" do grupo Estado Islâmico, mas também à Rússia, aliada do regime sírio de Bashar al-Assad.