Moscovo anunciou mesmo a suspensão de um importante acordo com os Estados Unidos para a coordenação dos aviões militares dos dois países nos congestionados céus da Síria.
O ataque lançado de madrugada por forças norte-americanas, o primeiro em que os Estados Unidos atacam directamente forças do regime sírio, foi condenado pelos principais aliados de Bashar al-Assad - Rússia e Irão - e aplaudido pela oposição como um ponto de viragem na guerra que se trava há seis anos.
O ataque corresponde por outro lado à mais importante decisão militar já tomada pela administração de Donald Trump e acentua o envolvimento dos Estados Unidos no conflito.
Barack Obama tinha ameaçado atacar Assad após anteriores ataques com armas químicas, mas nunca chegou a fazê-lo.
Hoje, Trump apelou a "todas as nações civilizadas" que se juntem aos Estados Unidos para travar o banho de sangue na Síria.
Cerca de 60 mísseis de cruzeiro Tomahawk forma disparados hoje de madrugada contra a base militar síria de Shayrat, a sudeste de Homs, uma pequena base com duas pistas de onde costumam partir aviões para bombardeamentos no norte e centro da Síria.
Os mísseis norte-americanos caíram na base às 03:45 locais (01:45 em Luanda), acertando nas pistas, hangares, torre de controlo e armazéns de munições, segundo responsáveis norte-americanos.
Segundo o exército sírio, pelo menos sete pessoas morreram e nove ficaram feridas. A organização não-governamental Observatório Sírio dos Direitos Humanos deu o mesmo balanço de sete mortos, precisando que entre eles figuram um general e três soldados. Segundo a agência oficial síria Sana, nove civis morreram, entre os quais quatro crianças, e sete ficaram feridos.
O porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, afirmou que Vladimir Putin considera o ataque norte-americano "uma agressão a um Estado soberano em violação da lei internacional".
O ataque foi lançado em represália pelo uso de armas químicas na cidade de Khan Sheikhun, onde na terça-feira morreram mais de 80 pessoas, motivo que o Kremlin considerou ser "um pretexto rebuscado".
Mais tarde, a presidência russa fez declarações desvalorizando o ataque, afirmando que apenas 23 dos 59 mísseis atingiram a base, destruindo seis jatos sírios mas deixando as pistas intactas.
Para o Irão, igualmente aliado de Assad, este tipo de "ataques unilaterais" é fortemente condenável e "acções como esta apenas fortalecem os terroristas na Síria".
Ponto de viragem?
A Turquia e a Arábia Saudita, que apoia os rebeldes da oposição ao regime de Assad, saudaram o ataque norte-americano, "extremamente positivo" para Ancara e "uma decisão corajosa" para Riade.
O Governo do Reino Unido disse ter sido informado com antecedência e que apoia o ataque como "uma resposta adequada ao bárbaro ataque com armas químicas lançado pelo regime sírio e que visa impedir outros ataques".
Alemanha, França, Itália, Espanha e Israel também apoiaram o ataque dos Estados Unidos. Berlim e Paris, em comunicado conjunto, consideraram o ataque "responsabilidade do presidente Assad" pelo "uso repetido de armas químicas e pelos crimes contra o seu próprio povo".
Portugal disse por seu lado "compreender" os aliados que actuam em retaliação a "crimes de guerra", mas sublinhou a necessidade de posições unidas da ONU e da União Europeia.
Em Bruxelas, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, escreveu no Twitter que o ataque "ilustra uma determinação necessária contra os ataques químicos bárbaros" e assegurou que "a União Europeia trabalhará com os Estados Unidos para pôr fim à brutalidade na Síria".
E o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, considerou haver uma "clara distinção" entre ataques aéreos que visam alvos militares e o uso de armas químicas contra civis", que "tem de ter uma resposta".
Para a NATO, a responsabilidade pelo ataque é também do regime de Assad, uma vez que "qualquer uso de armas químicas é inaceitável e não pode ser ignorado", segundo um comunicado do secretário-geral, Jens Stoltenberg.
Um dos grupos da oposição síria, a Coligação Síria, considerou que o ataque dos Estados Unidos acabam com uma "era de impunidade" e devia ser o começo de uma campanha alargada contra bases do regime de Damasco.
O major Jamila l-Saleh, um comandante rebelde da zona atacada esta madrugada, disse à agência Associated Press esperar que o ataque seja "um ponto de viragem" na guerra, que já matou quase 400.000 pessoas.