Para outros, embora reconheçam a cobiça dos nossos recursos naturais, preferem enfatizar a sua gestão, pois se olharmos para os últimos 21 anos, desde o alcance da paz, notaremos que a gestão dos recursos naturais tiveram uma influência decisiva nos padrões de desenvolvimento da actual Angola.
Na mesma linha, atento aos testemunhos de muitos compatriotas nossos que no passado exerceram importantes funções em frente de diferentes instituições políticas e partidárias do País, fica evidente o papel exercido pelos recursos naturais no desenvolvimento, e como os erros e acertos observados durante a sua gestão, moldaram a perspectiva de desenvolvimento contemporânea e de longo prazo que domina a maior parte das mentes angolanas.
Penso que, entre nós, falta muito mais debate e reflexão que nos inspire a tentar encontrar as razões pelas quais, na época do boom do petróleo, o nosso País não conseguiu transitar de uma economia baseada em recursos naturais para um modelo de desenvolvimento sustentável? Hoje, volvidos cerca de 21 anos, a dependência manteve-se. O que aconteceu? Por que o País sonhado em termos de diversificação económica se distanciou em termos relativos do País alcançado? E acima de tudo: o que pode ser feito para corrigir o rumo?
Como podemos ver, a economia angolana mantém uma forte dependência dos recursos naturais, e entre as vozes mais pessimistas, há quem diga que continuará a ser assim por longos períodos de tempo. E se isto acontecer, além das óbvias consequências ambientais que qualquer exploração de recursos naturais pode acarretar, há um elemento que tem sido negligenciado várias vezes, que é o reinvestimento das rendas dos recursos naturais em actividades produtivas ou no capital, seja ele físico ou humano.
Os recursos naturais não renováveis são explorados sob a direcção da actual geração de políticos Angolanos sem a opinião da geração futura, o que dá origem a um problema moral que deve ser tido em conta. A forma de reparar esses danos é através do reinvestimento, seja em capital físico produtivo, seja em investimento em educação e saúde de qualidade, o que seria uma aproximação com a geração de capital humano qualificado para os desafios futuros.
Nos últimos anos, especialmente, desde que se instalou entre nós a crise económica, tem havido uma pressão crescente por uma mudança no paradigma, não são negligenciáveis os esforços tendentes a diversificação da economia, mas temo que não se têm abordado necessariamente a necessidade de se alterar o nosso sistema de produção, substituindo-no por um que respeite o meio ambiente e em que o bem-estar da população seja mais equitativo.

Num contexto mundial em que os Objectivos de Desenvolvimento Sustentaveis da ONU têm priorizado o acesso às energias renováveis, nesta área, que a economia angolana têm a dizer? A História ofereceu-nos inúmeras lições sobre que acções tomar e o que não tomar com a exploração dos recursos naturais, e se tivéssemos de resumir as mais importantes em três pontos, de forma modesta, daria três recomendações essenciais para evitar cometer os mesmos erros do passado:
1. Em primeiro lugar, um quadro regulador claro, preciso e com objectivos tangíveis para a indústria dos recursos naturais, estabelecido e salvaguardado por instituições do Estado robustas e flexível que, enquanto órgão de supervisão, represente, verdadeiramente, os interesses dos cidadãos e da sociedade no seu conjunto. Este deve ser um ponto muito relevante nas discussões sobre o futuro político de Angola nos próximos 10 anos.
2. Para que a economia verde se torne uma realidade, o mesmo deve acontecer com a modernização adequada da economia extractiva, que geram cadeias de valor complexas para a frente e para trás. Os exemplos de boas praticas de outros países são fundamentais para compreender que os recursos naturais podem ser extraídos e, ao mesmo tempo, crescer em bem-estar. 3. Um reinvestimento das rendas produzidas pela mineração (e outras actividades extractivas) em biodiversidade, infra-estrutura e capital humano. A exploração de recursos não renováveis deve criar bem-estar no presente e no futuro e, em especial, as novas gerações precisam de aprender isto. Eu acredito que apresar das dificuldades enfrentadas, a economia angolana tem uma oportunidade histórica de mudar o futuro com as lições da história económica recente que o País viveu. A chamada armadilha dos recursos naturais é um facto verificável na história de Angola, mas, felizmente, temos hoje uma grande oportunidade de a evitar. Haverá discernimento e vontade politica para tal?