Neste século XXI, violento em todos os sentidos, agastado por crises económicas, pandémicas e climáticas, choques civilizacionais, perda de empatia e de humanismo político, a Geração Z, nascida no século da informação rápida, constitui uma força da natureza que está a confrontar o errado neste mundo e a identificar os culpados. São um exército moral. Capaz de fazer a diferença apontando o dedo a um sistema apodrecido pelo lucro e cujas lideranças despojadas de empatia, humanismo e sobretudo honra, são coniventes com a dor e morte de milhares de pessoas inocentes em todo o mundo.
Estamos a assistir ao nascimento de um movimento global contra o indefensável. Todos os dias surgem na internet vídeos de indignação contra o genocídio que está a acontecer na Faixa de Gaza. Este movimento, que se tornou viral, feito por jovens estudantes, das mais reputadas universidades americanas, europeias e de outras cidades do mundo, está decidido a permanecer neste protesto independentemente das consequências. Muitos são filhos do sistema (político e económico) que já não aceitam suportar a herança da culpa futura pelos erros dos seus pais.
O poder do agora, do imediatismo da internet a mostrar o horror da violência, o despropósito do tamanho da agressividade, a falta de sentido dos interesses económicos mundiais, dos pactos políticos, das alianças ocultas, dos interesses perversos em nome do crescimento dos mercados. As conquistas trazidas com o fim da segunda guerra mundial, de conferir proteção aos povos, de garantir o respeito pelos Direitos Humanos, pelo Estado de Direito e pela consciência da construção da Paz Global não foi capaz de impedir que a Humanidade voltasse a ser massacrada em muitos lugares deste mundo.
A Geração Z existe em todos os países e tem acesso à informação, mesmo onde a fome é uma realidade. Não se deixa enganar. São muito mais tolerantes com o outro. Aceitam as alterações sociais com naturalidade. Não são benévolos com os rótulos. A liberdade do outro importa para eles. Eles são a maior força de trabalho consciente deste século. As soluções construídas por eles são notáveis e alteraram o modo de funcionamento das coisas alargando o modelo de trabalho não convencional.
O futuro da democracia está nas mãos desta geração. Que não se vende. Não se intimida. Não se compromete com o que não serve para o todo. São cidadãos do mundo. Rápidos. Pragmáticos. Já não aceitam a lentidão dos processos de transformação social e política.
Muitas vezes são rotulados de forma pejorativa pelo poder político na tentativa de lhes ser retirada a visibilidade e a legitimidade. Mas essas tentativas são patéticas. A capacidade de mobilização e de determinação desta geração ultrapassa o nível de inteligência de quem os quer derrubar.
Em Angola a nossa Geração Z foi imprescindível para o alargamento dos direitos de cidadania. Os 15+2 foram capazes de derrotar um sistema. O sistema da inflexibilidade. Da arrogância política. Assente no desrespeito pela Lei dos que deviam defender a Lei. Hoje se podemos fazer uma manifestação não alinhada devemos a este grupo de jovens, que de chinelos e com um livro debaixo do braço, abriram novas fronteiras da participação cidadã que ainda não é plena e por isso não permite que se cruzem os braços.
Em África vários conflitos ocorrem neste momento mas, infelizmente, não nos vemos a defender o nosso continente. Nem individualmente. Nem por via institucional por outros Estados. Nem pela União Africana que está cada vez mais moribunda e sem propósito. Há que encorajar a defesa do que faz sentido para a maioria das pessoas em detrimento do interesse dos nossos governos coniventes pela ação ou pela inação.
A longevidade de muitas lideranças, eleições livres mas injustas, a perda de foco dos partidos que deixam de saber quem são e o que defender, a apatia dos tribunais superiores em conferir dignidade à Lei e à Democracia, transformaram Estados de Direito em Zonas Perigosas, Estados Falhados geridos por pessoas sem habilidade política, sem empatia pelo povo, nem respeito pela Lei, cujas consequências são a miséria, o desemprego, a desigualdade, a fome e a negação dos direitos elementares, mesmo em Estados onde abundam os recursos naturais, como é o caso de Angola. A incapacidade de prover serviços básicos à população. Uma vergonha indesculpável.
A derrota da violência, tenha ela o credo, a etnia ou a convicção política que tiver já não pode continuar a ser aceite em nenhuma parte do mundo. São sempre os mais vulneráveis que sofrem. Que perdem a vida. Os filhos. A esperança. O futuro. Temos que ser capazes de responsabilizar os mais velhos políticos que é do interesse coletivo que se trata e não do seu próprio e insaciável interesse de manutenção do poder e de enriquecimento pessoal.