Um deserto de ideias é aquele que não inova, mantém os velhos métodos que no passado se mostraram ineficazes do ponto de vista ético e, com isso, pretendem condicionar um povo apenas à informação seleccionada. Essa táctica praticada por pessoas que lutaram contra os opressores e ditaduras coloniais é-nos, hoje, impingida de forma coerciva, através de modelos jurássicos e deficientes, quer de acesso à informação, quer pela forma monocórdica da sua divulgação que dá cabo da nossa paciência, aliadas à dificuldade em defenderem o indefensável. Por essa razão, à falta de um novo Grecima, gastamos milhões de euros em anúncios na Euronews, que vende uma Angola que não existe, porque selecciona que tipo de "verdade" deve ser mostrado. A necessidade de controlar e manipular a realidade tem ensinado os povos a ler e a entender as "sombras da alegoria da caverna" de Platão e nisto reside o fortalecimento da não-conformação e do abandono do medo daqueles que percebem que ninguém tem o direito de impedir o progresso de um povo nem a realização da grandeza de um país.


A Internet só se torna inimiga dos governos que não conseguem construir soluções eficazes para os problemas estruturantes que se inscrevem no domínio dos Direitos Humanos ou o cumprimento das promessas eleitorais que defenderam até à exaustão. Para os governos que trabalham para SERVIR o POVO e o PAÍS, ela torna-se, sem esforço, numa poderosa aliada, permitindo que a galvanização do exercício da participação cidadã encaminhe as pessoas para a defesa do bem comum e de um projecto de nação e, com isso, a acumulação de sinergias fará que governos e sociedade civil participem de mãos dadas numa série de iniciativas vitais para o desenvolvimento colectivo em inúmeras áreas.


A cobardia de qualquer governação é provada quando quem tem poder prefere ignorar um povo inteiro, apenas por obediência ao brilho das suas penas conseguidas a cada elogio sem fundamento. Quando se aplaude a prepotência, a incompetência e a mentira, enfraquecemos a Democracia. Temos um Estado musculado, com muitos políticos fora de prazo e sem reserva ética, sem diálogo, sem respeito pelas opiniões dos outros, que reage muito mal quando é fiscalizado e que por isso perdeu a razão. Um Estado refém da tirania militante que cataloga aqueles que não partilham da opinião de quem governa como perversos, inimigos da paz, delinquentes, agitadores sociais, insubordinados, malfeitores e gente que não é patriota.


Democracia não é o poder praticado com arrogância e clientelismo. Não é a ameaça às liberdades de promoção de reunião, declaração de greve, de reivindicação de direitos e melhores condições de trabalho exercidos de forma pacífica e ser morto, preso, perder os seus salários ou o seu posto por isto. Não é uma Administração que afronta a Lei, que reitera a ineficácia na distribuição equitativa da riqueza nacional multiplicando os atestados de pobreza oferecidos pela confrangedora desigualdade de oportunidades à nascença. Não é a subversão do papel das instituições que seleccionam quem pode ou não concorrer a eleições, preterindo uns em preferência dos seus "satélites". E é por isto que muitas democracias africanas, incluindo a nossa, terão que se reinventar através de melhores práticas de governação, sem copiar o que os outros fazem porque o caminho deles foi gradual e o nosso teve a fatalidade de saltar da panela de barro para a BIMBI sem que fossem materializadas todas as exigências da evolução. A natureza não dá saltos e é aqui que estes países falham. Por mais que os saudosistas do "que sempre esteve mal" insistam, o tempo do obscurantismo não terá regresso neste século que transborda de informação que é poder e está à distância de um clique. Hoje, em todo o mundo, ganham-se e perdem-se batalhas sociais, económicas e políticas, nesta globalização virtual, que tem o poder de condicionar os apetites de muitos governos que insistem em serem ardósias da governação.


Hoje queremos informação. Dados. Indicadores. Queremos conhecer a dimensão aritmética da pobreza. Da criminalidade. Do desemprego. Dos recursos minerais. Da dívida. Dos esgotos ausentes. Da reserva alimentar e da descapitalização dos agricultores nacionais que lutam contra a importação paga com dinheiro público daquilo que já produzimos, a exemplo dos cereais. Do real investimento estrangeiro e não o dinheiro de alguns que vem do estrangeiro para ser lavado aqui. Queremos perceber quando é que um Estádio ou um Centro Olímpico se tornaram numa emergência e por isso se enquadram no domínio da "Contratação Simplificada". Queremos conhecer os programas que visam resolver o drama do dia-a-dia das pessoas que vivem com HIV. As soluções para a mortalidade infantil. Os programas que garantam a eficácia da Educação Primária. O rosto da FOME. O destino do dinheiro que desapareceu sem rasto do nosso país deixando-nos de tanga e os seus donos com uma "cara tipo nada".


Sem liberdade o país perde cidadãos e ganha pessoas submissas que se tornam resignadas, dependentes, subjugadas e vítimas de vassalagem. Só que as pessoas submissas não constroem países porque lhes falta a coragem. Mas este século, felizmente, fez nascer, de forma não autorizada, novos jovens esclarecidos, determinados, humanistas e com chip de negação ao servilismo, à obediência cega e à bajulação. Os filhos "do poder popular" perdem todos os dias os argumentos que sejam capazes de contrariar as evidências porque apenas aprenderam na cartilha militante a defenderem-se a si e à sua família.


Hoje 79,5% dos angolanos têm menos de 34 anos e destes 40% têm menos de 12 anos. Em 2030 seremos 50 milhões e a maioria da população continuará a ser extremamente jovem por causa da elevadíssima taxa de natalidade. Mas se se mantiver o mesmo modelo de exclusão social, esta maioria reconhecerá que já nada a terá a perder. E é desta juventude consciente, arejada, patriota, sem nenhum passado que a prenda a nenhum tipo de doutrina militante ou dívida moral, mas muito sacrificada, que Angola se erguerá para o futuro e quem ainda for vivo verá o nascimento de um País para Todos. Não devemos esquecer que nenhum império conseguiu manter-se para sempre devido aos erros que a longevidade exerceu nos seus alicerces, fragilizando-os irreversivelmente. E todos reconhecemos que se é possível travar uma revolução, nunca a História conseguiu travar uma IDEIA.