João Lourenço participou nas últimas horas, com os seus homólogos da República Democrática do Congo (RDC), Félix Tshisekwedi, do Ruanda, Paul Kagamé, e do Uganda, Yoweri Museveni, através de videoconferência, numa cimeira dedicada à segurança e estabilidade no Congo-democrático.
A CIRGL foi criada em 2006, com Angola na linha da frente da sua fundação e um empenho pessoal reconhecido do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, que liderou a organização durante vários anos, com o objectivo de criar condições para a estabilização dos Grandes Lagos.
Esta organização sub-regional não foi alguma vez extinta mas a sua actividade perdeu vigor nos últimos anos e é à retoma desse vigor que o Presidente João Lourenço se refere quando fala da "reactivação dos mecanismos existentes".
Esta é uma das regiões do continente africano mais voláteis e em permanente sobressalto, devido, especialmente, ao triângulo constituído pela RDC, Uganda e Ruanda, e as diferentes guerrilhas que, depois de criadas no rescaldo do genocídio ruandês de 1994, se espalharam pelo Leste congolês onde encontraram não só refúgio seguro na ausência de Governo como um território fértil em recursos naturais que as alimenta.
Na Cimeira de quarta-feira, que juntou os quatro Chefes de Estado por videoconferência, foi debatida, precisamente, a questão da segurança na RDC, especialmente nas suas províncias do Leste, os Kivu Norte e Sul e Ituri, marcadamente aqueles com maior número de guerrilhas e milícias estrangeiras e locais com forte capacidade de desestabilização através da violência armada.
Na sua intervenção, João Lourenço, além de defender que a CIRGL tem um forte potencial de estabilização, sublinhando que "reactivar o funcionamento efectivo dos mecanismos existentes" é fundamental porque "a cooperação no domínio da Defesa e Segurança só será eficaz se for coordenada por um mecanismo no qual todos os Estados membros se revejam e que tenha por isso a legitimidade para o fazer".
No discurso que a Presidência disponibilizou na íntegra na sua página do Facebook, o Chefe de Estado angolano apontou ainda a sua atenção para a questão da pandemia da Covid-19 e as consequências na economia, bem como a exploração ilegal dos seus recursos naturais, especialmente os diamantes.
"Angola enfrenta hoje dois grandes desafios, o do combate à Covid-19 e suas consequências no que concerne à saúde pública e à necessidade de manter a economia a produzir os bens e serviços para o consumo interno e para exportar e manter os postos de trabalho", disse.
"O país investiu em tempo recorde na construção ou adaptação de infra-estruturas hospitalares e seu apetrechamento em equipamentos hospitalares para enfrentar a pandemia, aumentou substancialmente o número de camas hospitalares e de unidades de cuidados intensivos, bem como garantiu a aquisição dos materiais de bio-segurança para o corpo médico e paramédico", disse.
E acrescentou: "Ao mesmo tempo, neste período de quase nove meses, o Executivo accionou medidas de estímulo económico, com vista a encorajar o sector privado da economia a diversificar e aumentar a produção interna de bens e de serviços, particularmente de produtos agrícolas e industriais de consumo doméstico".
O foco na RDC
"Na luta contra as forças negativas que desestabilizam o leste da RDC, os países que integram a Região dos Grandes Lagos sempre se mostraram solidários com os nossos irmãos congoleses. Angola defende a necessidade de reactivar o funcionamento efectivo dos mecanismos existentes, nomeadamente a Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos CIRGL, para que cumpram efectivamente o papel que lhes compete e que estiveram na base da sua criação", apontou.
E sublinhou que "a cooperação no domínio da Defesa e Segurança só será eficaz se for coordenada por um mecanismo no qual todos os Estados membros se revejam e que tenha por isso a legitimidade para o fazer".
A exploração ilícita dos recursos minerais
"A exploração ilícita dos recursos minerais nos nossos países deve ser encarada como uma forma de financiar as forças negativas que operam na RDC e, eventualmente, de financiamento também aos grupos terroristas fundamentalistas que operam em outros pontos do nosso continente, como na região do SAHEL, em Moçambique ou outros", advertiu.
"Angola tem sido, ao longo dos anos, uma das vítimas da pilhagem dos seus recursos minerais, nomeadamente o diamante, por parte de cidadãos africanos de diferentes proveniências, que cometem o crime da imigração ilegal organizada, e ainda o crime da exploração ilegal dos recursos naturais estratégicos do país de acolhimento", avançou.
E avisou: "Este é um assunto que deve ser levado a sério por todos nós, e acreditamos que venceremos se cada um dos nossos países fizer a parte que lhe compete, tomando as medidas que se impõem na luta universal contra a emigração ilegal organizada e a necessidade de cortar as fontes de financiamento ao terrorismo".