O Paraíso é um dos bairros mais complexos e perigosos da capital angolana e é famoso em termos de criminalidade e de falta de condições sociais, sendo, por isso, o lugar escolhido por Manuel Homem para uma missão de cinco dias a este canto de Luanda.

Os moradores, ouvidos pelo Novo Jornal na segunda-feira, o primeiro dia desta semana de trabalho deslocalizado no Paraíso, só já querem que a segurança pública permaneça assim após a conclusão desta visita do governador e da sua comitiva.

No primeiro dia de trabalho do "Paraíso de Cacuaco" cujo índice de delinquência é elevado, o governador provincial de Luanda ouviu como preocupação da população residente, entre várias outras, o alto nível da criminalidade, a falta de serviços sociais, escolas, centros de saúde e da falta de água potável.

A população queixou-se também do elevado nível da pobreza extrema por parte de muitas famílias que aí vivem e do desordenamento das ruas.

Ao governador, os moradores lamentaram o facto do bairro Paraíso ter apenas uma esquadra móvel da polícia com menos de 30 efectivos.

As famosas lutas de grupos, vulgarmente conhecida como a luta do "Wowo", segundo os moradores, provocam a morte de muitos jovens naquela zona e afirmam que o fenómeno cresceu bastante no Paraíso.

Manuel Homem ouviu também dos munícipes que o bairro é controlado pelos marginais que à luz do dia fazem tudo que quiserem e que a presença da polícia no Paraíso é "invisível".

Os cidadãos estrangeiros, maioritariamente do Mali e da Guiné-Conacri, comerciantes e proprietários das pequenas lojas de conveniência, abandonaram o bairro nos últimos meses por conta de reiterados assaltos.

Oumar Touré, da Associação Mercantil de Angola, uma organização de comerciantes estrangeiros, disse ao Novo Jornal que os cidadãos estrangeiros deixam as terras do "Paraíso de Cacuaco" por conta dos assaltos e assassinatos.

"Não conseguimos viver nem fazer comércio aqui, os estrangeiros são assaltados a qualquer hora do dia e ninguém os defende, queremos que nós os investidores sejamos protegidos", contou o comerciante.

Durante o primeiro dia de trabalho, o governador ouviu dos habitantes diversas reclamações, mas o clamar da falta de água no bairro, a par da criminalidade, foi o que mais se ouviu dos munícipes.

"Não temos água, queremos água...", gritavam durante o período de auscultação, os populares ao governador de Luanda.

A energia eléctrica e a falta de centros médicos também foram sublinhados como fazendo muita falta e os pedidos para resolver esta lacuna somaram-se aos ouvidos de Manuel Homem.

"Nos outros bairros têm energia e água, aqui também queremos! Somos todos munícipes. Queremos segurança, água e luz", apelaram os munícipes António Cassumba, o coordenador do bairro, e Jorge Viegas, morador.

Ao governador, os moradores queixaram-se também da inexistência de serviços sociais e de instituições escolares

Entretanto, vários moradores disseram ao Novo Jornal que o bairro Paraíso tornou-se calmo apenas nos últimos dias face à anunciada visita do governador mas temem que essa tranquilidade só se mantenha enquanto durar os cinco dias de trabalho do número um do GPL.

Manuel Camunda, Afonso Dinis, e Armando Cucumawa, todos moradores do Paraíso, disseram que o bairro tornou-se calmo apenas na última semana e que situação similar viram apenas durante a "tensão" pós-eleições, quando a Polícia Nacional e as Forças Armadas Angolanas tomaram conta das ruas e das avenidas de Luanda.

"Por enquanto estamos calmos! Vamos ver até onde isso vai dar, oxalá que essa tranquilidade que a Paraíso vive seja permanente", contaram, assegurando que "as ruas estão calmas e os assaltos desapareceram".

"O momento de agradecer não é agora. Vamos esperar para ver se essa segurança nas ruas vai permanecer nos próximos dias, semanas ou meses", disse ao Novo Jornal a estudante universitária Arminda de Carvalho.

Governador promete reforçar a segurança pública no bairro Paraíso

Manuel Homem, após ouvir os moradores, prometeu reforçar, nos próximos tempos, a segurança pública naquele território e pediu à população que se concentre em outros afazeres e que deixem a polícia tratar da segurança no bairro.

"Estão preocupados com razão! Mas deixem a polícia fazer o seu trabalho, anotamos com preocupação as vossas inquietações em termos da criminalidade, é já trabalhamos de forma mais proactiva neste sentido. Vamos reforçar o patrulhamento no bairro, e melhorar as condições da unidade da polícia", disse o governador.

Segundo o governante, durante os cinco dias de trabalho no Paraíso, os órgãos de defesa e segurança vão visitar o bairro e avaliar quais os tipos de acções que devem ser implementadas para garantir a tranquilidade aos munícipes.

Após ter auscultado os moradores durante cinco horas, Manuel Homem disse que também tomou boa nota das reclamações da via de acesso ao bairro.

"Houve a vossa reclamação, agora vou andar pelos bairros para saber se é verdade o que vocês dizem", disse o governante.

Quanto à falta de água no bairro, o governador acusou a população de ser a culpada porque vandalizam as condutas que passam no Paraíso para fomentar o garimpo de água, mas que o GPL irá reorientar a organização do processo de distribuição de água ao bairro Paraíso.

Com cerca de 116 mil habitantes, subdivididos em 44 quarteirões, o bairro Paraíso enfrenta enormes desafios estruturais.

Os primeiros moradores daquele território de Cacuaco construíram as suas residências em 1999, na altura, segundo os primeiros habitantes, era uma zona calma e florestal, daí o nome de paraíso, mas que, agora, de paraíso só tem o nome.