Depois de mais de cinco horas de espera numa das salas reservadas no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, os passageiros, visivelmente aborrecidos, receberam ordem de fazer o rastreio no âmbito das medidas de prevenção para a pandemia de coronavírus Covid-19.
"Fomos informados pelas autoridades sanitárias para evitarmos muitos movimentos nos locais onde nos vamos hospedar", disse o jovem Mauro Pedro ao Novo Jornal.
"Só no aeroporto é que muitos de nós tomamos conhecimento das medidas tomadas (da Comissão Interministerial para a Resposta à Pandemia do Coronavírus - Covid-19)", que alargam a quarentena obrigatória, de um mínimo 14 dias, para todos os cidadãos nacionais e estrangeiros residentes provenientes de Portugal, Espanha e França, ainda este passageiro.
O jovem que garante que tem noção do perigo que representa está pandemia, disse que os passageiros ficaram enfurecidos quando tomaram conhecimento de que algumas figuras de relevo e seus parentes estavam a abandonar o aeroporto sem restrições.
"Se a medida é abrangente, como é que uns iam para quarentena e outros não?", questionou.
Uma outra passageira que não quis identificar-se, disse que para além do sofrimento que tiveram para esperar decisão, o outro momento mais cansativo foi a altura de fazer o rasteio.
"Os quadros do sector da saúde são poucos para atender todas as pessoas que desembarcaram no aeroporto. É fundamental o reforço da equipe técnica", aconselhou.
Desde que a Comissão Interministerial para a Resposta à Pandemia do Coronavírus (Covid-19), tomou medidas sobre a entrada de cidadãos providentes em países onde a pandemia está activa, o ambiente mudou no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro.
"A pandemia do coronavírus está mudar hábitos de pessoas. Hoje, aqui no aeroporto toda a gente usa mascaras", contou ao Novo Jornal, Arantes Santos, um jovem que vende recargas de telefone nas imediações do aeroporto.
"Desde das primeiras horas de hoje, funcionários, chefes e outras pessoas que entram aqui no aeroporto estão a utilizar mascaras", disse informando, que já são vistas algumas pessoas a comercializar mascaras e desinfectantes nas áreas vizinhas ao aeroporto.
A saída dos passageiros provenientes de Lisboa e Porto sem passarem em quarentena preocupou ainda o taxista Paulo Jumuca, que considera que as medidas do Executivo não foram cumpridas e agora existe um risco acrescido de contágio.
"Eu acho que o Governo falhou neste caso. Todos deveriam ir em quarentena para evitar problemas", observou, acrescentando que "ninguém vai controlar a movimentação destes passageiros" e se um ou mais estiverem já doentes, tudo pode acontecer.
Os privilegiados e os outros
Para lidar com esta situação, a Comissão interministerial, que reuniu hoje durante várias horas, deverá, em conferência de imprensa, anunciar em definitivo se os voos entre Angola e Portugal ficam suspensos e por quanto tempo.
Entretanto, as centenas de passageiros que hoje chegaram a Luanda provenientes das cidades portugueses de Lisboa e Porto foram deixados sair sem a obrigatoriedade de cumprimento de 14 dias de quarentena como estava prevista pela Comissão Interministerial para a Resposta à Pandemia do Coronavírus, observou o Novo Jornal no local.
Segundo apurou o Novo Jornal no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, em Luanda, as centenas de pessoas que hoje chegaram nos dois voos da TAAG com origem em Portugal, opuseram-se à ida para quarentena obrigatória depois de alguns dirigentes e figuras conhecidas da sociedade angolana terem sido alvo de tratamento privilegiado.
Depois de deixarem o aeroporto, entre estes estavam familiares de ministros ou, entre outros, o político Abel Chivukuvuku, os restantes passageiros, cerca de duas centenas, revoltaram-se e recusaram seguir para a quarentena obrigatória, acabando por ser "libertados" ao final da manhã sem quaisquer restrições.
Portugal foi um dos três países europeus que entraram na terça-feira para a lista de quarentena obrigatória para todos os passageiros que cheguem a Luanda a partir de hoje, quarta-feira, 18, mas a chegada de dois voos quase em simultâneo, das cidades do Porto e de Lisboa, gerou uma enorme confusão, como o Novo Jornal acompanhou no local.
Segundo foi possível observar no Aeroporto Internacional 04 de Fevereiro, logo nas primeiras horas do dia de hoje, centenas de passageiros estavam a recusar seguir para quarentena, como, de resto, vários vídeos espalhados pelas redes sociais confirmavam.
Um dos passageiros provenientes de Lisboa foi o político Abel Chivukuvuku, que conseguiu deixar o aeroporto através de uma autorização especial, privilégio igualmente concedido a outros altos funcionários do Governo, soube o Novo Jornal no local.
Em declarações ao Novo Jornal, Chivukuvuku lamentou a forma "desorganizada" como o Governo está a lidar com esta situação, porque as pessoas que estão a chegar hoje a Luanda O Novo Jornal soube ainda que os passageiros dos dois voos, de LIsboa e Porto, foram colocados numa sala única enquanto aguardam que seja encontrada uma solução ao abrigo das actuais disposições anunciadas pela Comissão Interministerial para a Resposta à Pandemia do Coronavírus liderada pela Ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta.
Portugal, Espanha e França entram na lista de países com entrada restrita em Angola devido ao coronavírus Covid-19, tendo o Ministério da Saúde decretado a quarentena obrigatória, de, no mínimo, 14 dias, para cidadãos nacionais ou residentes estrangeiros que tenham estado nestes países.
Esta é uma das medidas decididas pela Comissão Interministerial para a Resposta à Pandemia do Coronavírus, que se reuniu hoje em para avaliar as medidas de Prevenção e o Plano Nacional de Contingência para o controlo da Pandemia COVID-19.
Os voos provenientes de Portugal, dois diariamente, não estão proibidos a partir de Portugal, porque, como revelou o primeiro-ministro português, António Costa, nas últimas horas, no âmbito das medidas locais de contenção da pandemia, os PALOP estão entre os países excepção no que toca a ligações aéreas.
O cancelamento destes voos por decisão das autoridades angolanas, apesar de estar já a ser anunciado em alguns media, ao Novo Jornal, o porta-voz da TAAG disse apenas que esse assunto está a ser analisado esta manhã.