Mais de 120 milhões de pessoas que residem em compactas cidades africanas estão em risco devido a este mosquito de origem na Ásia, cuja particularidade que o distingue das restantes variedades de anófeles é a sua adaptabilidade ao meio urbano, segundo especialistas da Escola de Medicina Tropical de Londres (LSHTM, na sigla em inglês) bem como a sua agressividade e capacidade de infectar humanos com o parasita do paludismo.
A generalidade das variedades de mosquitos responsáveis pela transmissão do plasmodium, o parasita que gera a doença está presente no continente africano, onde o anófeles gambiae é, de longe, o principal vector responsável pela sua dispersão, sendo mesmo aqui que morrem a maioria das suas vítimas em todo o mundo, mas o stephensi estava, até há alguns anos, fora das suas fronteiras.
Foi em 2012 que as primeiras vítimas deste novo tipo de mosquito em África começaram a aparecer no Djibuti, pequeno país situado na ponta leste do continente, no Corno de África, região próxima do continente asiático, através do deserto arábico (Iémen), tendo, nos anos seguintes o stephensi progredido para países como o Sudão e a Etiópia, estando a alargar o seu território, gerando preocupação nos governos geograficamente mais expostos a esta nova ameaça e à Organização Mundial de Saúde (OMS).
A OMS emitiu mesmo, recentemente, um alerta geral a apelar para uma vigilância rigorosa tendo criado, para isso, uma base de dados online onde são registados todos os novos locais de surgimento do anófeles stephensi, bem como dados que permitem perceber aos investigadores quais os locais predilectos desde novo vector da malária em África, sendo, para já, claro que as áreas urbanas, como sucede no continente asiático, estão na linha da frente dos seus novos territórios.
É com base neste mapa gerado a partir das informações que vão sendo recolhidas a partir da detecção do mosquito em novas geografias que os investigadores admitem que, actualmente, cerca de 126 milhões de pessoas estão expostas à picada do stephensi, sendo que a esmagadora maioria reside em áreas urbanas densamente povoadas, ou seja esta espécie prefere claramente os habitats humanos para se reproduzir porque é neles que encontra as condições favoráveis ideias à sua reprodução.
Na África subsaariana estão presentes os mais perigosos vectores da malária, desde logo o anófeles gambiae, que é o mais perigoso propagador da doença, de longe, mas ainda o coluzzii, funestus, arabiensis, estando agora provado que o stephensi é já uma realidade e pode ser uma das mais graves ameaças aos humanos se nada for feito para travar a sua propagação.
Os especialistas aconselham as autoridades sanitárias a investigar a presença ou não deste mosquito nos seus países, informar a OMS e criar condições para travar o mais possível a sua propagação, nomeadamente através de medidas profilácticas nos meios urbanos, incluindo campanhas de sensibilização adequadas às comunidades menos esclarecidas.
A maior propensão deste mosquito para prosperar em áreas urbanas é ainda uma pior notícia porque o número de pessoas que na África subsaariana trocam os meios rurais por áreas urbanas sobrelotadas, onde já residem mais de 40% do total, é de ano para ano maior e com tendência a crescer cada vez mais o que aumenta a área geográfica de expansão do anopheles stephensi.
A OMS admite que este mosquito oriundo do continente asiático é já uma das mais importantes dificuldades na procura global de erradicação da malária, que é um dos objectivos mais vincados do programa denominado Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.
Números referentes a 2017, fornecidos pela ONU, apontam para a morte de 435 mil pessoas por ano, em todo o mundo, sendo que, destas, 93% (403 mil) ocorrem em África.
Em Angola, onde a malária é a principal causa de morte, dados de 2018, apontam para a morte de mais de 11.800 pessoas por ano, 51% crianças, tendo a taxa de infecção chegado aos 203 casos por mil habitantes, o que corresponde a cerca de 6 milhões de infecções confirmadas oficialmente, sendo que é sabido que este número não compreende as situações que não chegam às unidades sanitárias.