Numa clara crítica à anterior gestão da Sonangol, liderada por Isabel dos Santos, Carlos Saturnino avançou que, quando a nova administração chegou à empresa, em Novembro de 2017, deparou-se com "uma manifestação de trabalhadores que não recebiam salários".

Segundo o PCA da petrolífera nacional, o confronto com a área dos recursos humanos da empresa acabou por revelar "uma situação caricata": o responsável encontrou três directoras desse sector "com enquadramentos arbitrários na parte profissional e na parte salarial".

"Por exemplo, o enquadramento salarial para essas pessoas, como directoras executivas, é superior ao de qualquer membro da comissão executiva das subsidiárias da Sonangol e é superior ao Conselho de Administração da Sonangol EP", assinalou Carlos Saturnino.

Para além de apontar as particularidades do quadro de pessoal, o gestor questionou os gastos da sua antecessora com consultoria, adiantando que os mesmos ascenderam a 135 milhões de dólares em ano e meio de liderança. O suficiente para "dar um avião novo à Sonair" e ainda comprar "peças sobressalentes", destacou o PCA, acrescentando que um "Boeing de última geração 737, custa à volta de 112 milhões de dólares".

Carlos Saturnino sublinhou que o dinheiro gasto em consultoria poderia ter sido melhor aplicado, e levantou desconfianças em relação às empresas de consultoria que beneficiaram dos milhões.

Há "dados muito interessantes a verificar", garantiu o sucessor de Isabel dos Santos, desafiando os mais curiosos a pesquisar quantos trabalhadores tinham cada uma dessas empresas.

Ligações duvidosas

Em causa estão, por exemplo, a Matter Business Solution e a Ironsea Consulting, duas das que compõem um longo elenco de consultores contratados pela anterior administração.

"Uma das pessoas que apareceu nos documentos, como trabalhando a 100% nessa empresa Matter no Dubai, antes trabalhava no escritório da Sonangol, como consultor na PwC; uma das pessoas que aparece como consultora dessa empresa, no Dubai, é ao mesmo tempo uma das responsáveis da empresa UCALL, que fazia entrevistas e outros trabalhos dentro do grupo; uma outra pessoa é o senhor Mário Silva que também está ligado a alguma dessas empresas de consultoria, como outras que têm negócios com a Sonangol, como a Exem Energy, etc", indicou o PCA.

O responsável elencou ainda outras das empresas de consultoria que surgem na pesada factura. São elas a Wise Intelligence, BCG, VdA, PwC, UCALL, ODKAS, MCKINSEY, BORN, Neves de Almeida&Almeida Consultores, Korn Ferry e DMCC.

Na sua análise a este "exército" de firmas, Carlos Saturnino observou que a partir do surgimento da Ironsea Consulting e da DMCC, a Wise Inteligence eclipsou-se.

"Ou seja, estas duas empresas aparecem, dá a impressão, para substituir a Wise. Facto curioso, Wise Intelligence, Matter Business Solution, Ironsea Business Solution trabalhavam como o mesmo endereço, as três domiciliadas no mesmo sítio, as duas Matter e Ironsea Consulting inicialmente utilizando a mesma conta bancária", disse.

O PCA lembrou ainda que a Sonangol se encontra sob auditoria normal encomendada pelo Ministério das Finanças, aguardando-se a sua conclusão para a obtenção de números finais credíveis.

"Esta administração da Sonangol não foi colocada aqui para procurar casos para pôr no tribunal, nós viemos para fazer gestão", salvaguardou o responsável, esclarecendo que os movimentos realizados pela anterior administração já depois de ter sido exonerada "foram reportados e entregues a instâncias apropriadas".