Os 3,6 milhões USD vão ajudar nas escavações necessárias para determinar a localização do kimberlito que a Lucapa acredita estar no interior dos 3 mil km"s quadrados do seu couto mineiro do Lulo, na Lunda Norte.
Esse kimberlito é a fonte ainda desconhecida dos maiores diamantes alguma vez descobertos em Angola, incluindo o de 404 quilates, descoberto em Fevereiro de 2016, que valeu à empresa australiana e aos seus associados, a Endiama (concessionária) e os privados da Rosa & Pétalas, 16 milhões USD.
Só que este diamante gigante, tal como os outros encontrado no Lulo, incluindo os quatro maiores encontrados pela indústria diamantífera angolana - o segundo maior tinha 227 quilates -, são denominados diamantes de aluvião porque são provenientes de áreas localizadas no leito e nas margens de cursos de água, chegando ali por arrasto das correntes a partir de uma determinada área de onde brotam do interior da terra através de um cone geológico denominado kimberlito.
E esse kimberlito ainda não foi encontrado, apesar dos esforços da Lucapa, o que levou a empresa a abrir uma nova frente atraindo investimento para impulsionar essa busca no interior da sua exploração na Lunda Norte.
Cotada em bolsa na Austrália, a Lucapa optou por ir ao mercado buscar esse financiamento, oferecendo uma acção por cada cinco que os investidores tivessem adquirido, conseguindo, segundo o seu director geral, Stephen Wetherall, "uma muito forte demonstração de suporte" para o objectivo de encontrar a fonte das gemas de grande qualidade oriundas do Lulo.
Como o Novo Jornal noticiou no início do mês, num prospecto dirigido aos mercados internacionais do sector diamantífero, a australiana Lucapa Dimond Company informava que os investidores têm demonstrado uma grande "excitação" com a possibilidade de ser descoberto o kimberlito de onde saíram os diamantes gigantes com que Angola tem impressionado o mundo.
Isso, como a Lucapa explicava neste prospecto dirigido aos investidores internacionais em busca de valores seguros, significa que algures a montante de onde estes gigantes foram detectados, há um kimberlito, que é uma espécie de chaminé que liga a superfície a grandes profundidades, onde, através de processo telúricos, grandes pressões e elevadas temperaturas, se formam os diamantes modificando a estrutura atómica do carbono comum que são, depois, expelidos ao longo de milhares, senão milhões, de anos para a superfície, de onde são arrastados pelas águas pluviais ou pelos cursos de água.
E é esse local especial, onde existe forte possibilidade de estarem concentrados verdadeiros monstros, semelhantes ao diamante de 404 quilates que em 2016 foi extraído do Lulo e depois vendido por 16 milhões de dólares à suíça de Grisogono - entretanto falida -, de Isabel dos Santos, acabando por ser transformado numa jóia rara de mais de 163 quilates, leiloada pela Christie"s por mais de 33 milhões USD, ou ainda o 2º maior de sempre, com 227 quilates, que foi encontrado em Fevereiro de 2017.
Falta chegar ao fim do arco-íris...
Ora, o que falta encontrar é o local de onde estão a sair estas gemas excepcionais e é essa a "cenoura" que os australianos da Lucapa Diamond Company estão a usar para atrair investimento para a sua exploração em Angola numa altura em que o sector diamantífero atravessa uma das suas mais graves crises de sempre por causa da pandemia da Covid-19.
Diz a empresa que "o tamanho e a forma dos diamantes encontrados sugerem que a fonte de onde saíam não se encontra distante do local onde foram encontrados, havendo mesmo rumores de que um dos locais de mineração aluvial está directamente sobre o kimberlito-mãe, embora as perfurações não o tenham confirmado".
Com o retardar da descoberta, confessa a Lucapa, os investidores começaram a divergir as suas atenções para projectos especulativos noutras zonas do mundo e os preços dos quilates ali extraídos forma diminuindo, como se vê pelo facto de em 2016 as gemas ali produzidas terem batido o recorde mundial por quilate, atingindo os 2983 dólares, valor que não voltou a ser atingido, embora o Lulo se tenha mantido como a mina com o rácio mais elevado entre quilate e preço em Angola.
Aproveitando a descoberta recente de mais um gigante, de 171 quilates, como o Novo Jornal noticiou este mês, os australianos voltam à carga garantindo que o empenho na descoberta da "maternidade" dos maiores diamantes descobertos em Angola em mais de um século desta indústria, não diminuiu e está mesmo a "aquecer de novo".
E sublinha que nos últimos anos foram detectados dezenas de kimberlitos próximos da sua exploração aluvial e estuadas outras tantas anomalias, feitas análises químicas e técnicas, permitindo reduzir para 16 kimberlitos prioritários para averiguar se se trata do local "mágico", localizados na área de Canguige, alimentada pelo Rio Cacuilo, onde foram desenterrados alguns dos maiores diamantes mais valiosos.
"O próximo passo é realizar perfurações nalguns destes locais para recolher amostras que permitam determinar a forma geométrica das chaminés e verificar quais destes são diamantíferos e quais são comercialmente exploráveis e serão fornecidas informações detalhadas aos accionistas sobre o potencial de cada um para ser o desejado kimberlito de onde saíram os excepcionais de aluvião encontrados no Lulo", apontam ainda os australianos da Lucapa.
Respondendo à sua própria questão, a Lucapa, depois de anos a fio de sistemática exploração, garante que "está mais próxima que nunca" de encontrar a fonte dos "fantásticos diamantes do Lulo", que têm conseguido um preço médio no mercado de 1.900 USD por quilate, advertindo que este é o momento de investir porque existe a possibilidade de a Lucapa poder estar no papel de detentora do controlo do fornecimento de diamantes de grande valor e qualidade para o mercado numa altura em que os media internacionais apontam Angola como estando na mira de alguns dos maiores investidores do mundo neste sector, o que faria dos detentores de capital da Lucapa potencias recebedores de "enormes vantagens" caso esse cenário se confirme.
De onde vêem os diamantes?
Os são gerados a profundidades que vão dos 160 a 600 metros e ocorrem quando sucedem as circunstâncias que o permitem, desde logo a temperatura e a pressão necessárias para a cristalização do carbono na forma de diamante.
A sua chegada à superfície ou a profundidades exploráveis comercialmente é feita através de erupções vulcânicas que formam cones ou chaminés, sendo que, em média, apenas 10 por cento dos kimberlitos são diamantíferos ou contêm diamantes para exploração comercial sustentável.~
Porque está a Lucapa próxima de encontrar o kimberlito "especial"?
Porque, segundo critérios técnicos, através da forma dos diamantes é possível verificar se estes se deslocaram desde longas distâncias ou se surgiram da terra num local próximo ao de onde foram encontrados.
Ora, de acordo com a análise feita aos que o Lulo tem encontrado, a Lucapa nota que estes foram arrastados pelo Rio Cacuilo mas a sua forma irregular e grande dimensão, com pontas afiadas e poucos sinais de erosão, permitem consolidar a ideia de que saíram das entranhas da terra num locam bastante próximo.
Para apimentar esta informação, os australianos, garantem que alguns dos kimberlitos investigados, entre as mais de 300 anomalias detectadas através de meios aeromagnéticos e electromagnéticos de alta resolução, são claramente diamantíferos, embora falte a confirmação de que se trata do tal cone mágico que transporta as gemas especiais para a superfície.
Recorde-se, todavia, que enquanto empresa cotada em bolsa, a Lucapa Diamond Company tem de fornecer sobeja informação que permita alterar o seu valor accionista, sendo esta informação uma clara frente comercial com o objectivo de atrair mais investidores com o foco posto num eventual sucesso nesta empreitada de deitarem a mão a novos e abundantes gigantes saídos das entranhas do Lulo.