Este diamante de grandes dimensões é fruto da exploração em aluvião, área ribeirinha, no Lulo, a mina com o melhor registo no País em matéria de dimensão e qualidade das suas gemas.

Esta, com 138 quilates, é a 7ª gema extraída no Lulo este ano e foi encontrada na área 46, que se situa adjacentemente à área onde a Lucapa Diamond Company está a desenvolver trabalhos de pesquisa com o intuito de encontrar o kimberlito de onde estão, desde que a mina foi inaugurada, em 2016, a sair sas maiores pedras alguma vez encontradas pela indústria diamantífera nacional, com mais de um século de actividade.

Recorde-se que, destes gigantes, sobressai o de 404 quilates, o maior de sempre, encontrado em 2016, que valeu 16 milhões de dólares, adquirido pela de Grisogono, a joalheira suíça de luxo que pertenceu a Isabel dos Santos até ser declarada a sua falência, em 2019, e que o transformou numa jóia rara que foi leiloada pela Christié"s, em Genebra, tendo atingido os 34 milhões USD.

Recorde-se que já este ano saíram do Lulo sete diamantes com mais de 100 quilates, sendo o maior destes um com 144 quilates, o de melhor qualidade, um com 131 quilates "D color tyle IIa - referente à pureza de cor e de composição" e ainda um colorido, castanho, de 118, provavelmente o mais valioso, somando esta mina perto de três dezenas de pedras com mais de 100 quilates deste que iniciou a actividade, em 2016.

O Lulo, apesar de ser pequena dimensão quando comparada com a Catoca ou o Luaxe, é a mina dos diamantes gigantes em Angola e os seus operadores estão há anos em busca da origem destas pedras de tamanho extraordinário, porque as que foram encontradas até agora são provenientes da exploração em aluvião, o que significa que estão a ser arrastadas de algures pelos cursos de água que atravessam os 3.000 kms quadrados deste couto mineiro.

Falta chegar ao fim do arco-íris...

Ora, o que falta encontrar é o local de onde estão a sair estas gemas excepcionais e é essa a "cenoura" que os australianos da Lucapa Diamond Company estão a usar para atrair investimento para a sua exploração em Angola numa altura em que o sector diamantífero atravessa uma das suas mais graves crises de sempre por causa da pandemia da Covid-19.

Diz a empresa que "o tamanho e a forma dos diamantes encontrados sugerem que a fonte de onde saíam não se encontra distante do local onde foram encontrados, havendo mesmo rumores de que um dos locais de mineração aluvial está directamente sobre o kimberlito-mãe, embora as perfurações não o tenham confirmado".

Com o retardar da descoberta, confessa a Lucapa, os investidores começaram a divergir as suas atenções para projectos especulativos noutras zonas do mundo e os preços dos quilates ali extraídos forma diminuindo, como se vê pelo facto de em 2016 as gemas ali produzidas terem batido o recorde mundial por quilate, atingindo os 2983 dólares, valor que não voltou a ser atingido, embora o Lulo se tenha mantido como a mina com o rácio mais elevado entre quilate e preço em Angola.

Aproveitando as descobertas recentes, os australianos voltaram à carga garantindo que o empenho na descoberta da "maternidade" dos maiores diamantes descobertos em Angola em mais de um século desta indústria, não diminuiu e está mesmo a "aquecer de novo".

E sublinha que nos últimos anos foram detectados dezenas de kimberlitos próximos da sua exploração aluvial e estuadas outras tantas anomalias, feitas análises químicas e técnicas, permitindo reduzir para 16 kimberlitos prioritários para averiguar se se trata do local "mágico", localizados na área de Canguige, alimentada pelo Rio Cacuilo, onde foram desenterrados alguns dos maiores diamantes mais valiosos

"O próximo passo é realizar perfurações nalguns destes locais para recolher amostras que permitam determinar a forma geométrica das chaminés e verificar quais destes são diamantíferos e quais são comercialmente exploráveis e serão fornecidas informações detalhadas aos accionistas sobre o potencial de cada um para ser o desejado kimberlito de onde saíram os excepcionais de aluvião encontrados no Lulo", apontam ainda os australianos da Lucapa.

Respondendo à sua própria questão, a Lucapa, depois de anos a fio de sistemática exploração, garante que "está mais próxima que nunca" de encontrar a fonte dos "fantásticos diamantes do Lulo", que têm conseguido um preço médio no mercado de 1.900 USD por quilate, advertindo que este é o momento de investir porque existe a possibilidade de a Lucapa poder estar no papel de detentora do controlo do fornecimento de diamantes de grande valor e qualidade para o mercado numa altura em que os media internacionais apontam Angola como estando na mira de alguns dos maiores investidores do mundo neste sector, o que faria dos detentores de capital da Lucapa potencias recebedores de "enormes vantagens" caso esse cenário se confirme.

De onde vêem os diamantes?

Os são gerados a profundidades que vão dos 160 a 600 metros e ocorrem quando sucedem as circunstâncias que o permitem, desde logo a temperatura e a pressão necessárias para a cristalização do carbono na forma de diamante.

A sua chegada à superfície ou a profundidades exploráveis comercialmente é feita através de erupções vulcânicas que formam cones ou chaminés, sendo que, em média, apenas 10 por cento dos kimberlitos são diamantíferos ou contêm diamantes para exploração comercial sustentável.~

Porque está a Lucapa próxima de encontrar o kimberlito "especial"?

Porque, segundo critérios técnicos, através da forma dos diamantes é possível verificar se estes se deslocaram desde longas distâncias ou se surgiram da terra num local próximo ao de onde foram encontrados.

Ora, de acordo com a análise feita aos que o Lulo tem encontrado, a Lucapa nota que estes foram arrastados pelo Rio Cacuilo mas a sua forma irregular e grande dimensão, com pontas afiadas e poucos sinais de erosão, permitem consolidar a ideia de que saíram das entranhas da terra num locam bastante próximo.

Para apimentar esta informação, os australianos, garantem que alguns dos kimberlitos investigados, entre as mais de 300 anomalias detectadas através de meios aeromagnéticos e electromagnéticos de alta resolução, são claramente diamantíferos, embora falte a confirmação de que se trata do tal cone mágico que transporta as gemas especiais para a superfície.

Recorde-se, todavia, que enquanto empresa cotada em bolsa, a Lucapa Diamond Company tem de fornecer sobeja informação que permita alterar o seu valor accionista, sendo esta informação uma clara frente comercial com o objectivo de atrair mais investidores com o foco posto num eventual sucesso nesta empreitada de deitarem a mão a novos e abundantes gigantes saídos das entranhas do Lulo.

Um sector em expansão

A importância da indústria diamantífera angolana que, por exemplo, em 2016 atingiu o valor recorde mundial por quilate com as gemas extraídas na mina do Lulo, na Lunda Norte, tem vindo a ganhar peso, com objectivos ambiciosos por parte do Executivo, com destaque para o de duplicar a produção anual nos próximos anos, a partir dos actuais cerca de 9 milhões de quilates.

Para isso, contribuirá, nos planos do Ministério dos Recursos Naturais, Petróleo, Gás (MIREMPET), a mina do Luaxe, onde o gigante mundial russo Alrosa tem um papel decisivo na exploração daquele que é um dos maiores kimberlitos do mundo e onde se espera que seja possível extrair largos milhões de quilates, dando assim um impulso decisivo para que a produção nacional atinja os 14 milhões de quilates, colocando o País entre os maiores produtores mundiais, que são a Rússia, o Botsuana e a República Democrática do Congo, entre outros gigantes, como o Zimbabué, a Austrália ou o Canadá.

Em busca de um lugar entre os maiores produtores do mundo

Angola tem em curso, nos últimos anos, especialmente desde que João Lourenço assumiu o poder, um conjunto de investimentos, medidas legislativas que visam acelerar a produção nacional e ainda um conjunto de operações envolvendo as forças de segurança para garantir a redução do garimpo ilegal, cujo objectivo final é colocar Angola entre os três maiores produtores do mundo.

Com uma produção média de mais de 9 milhões de quilates por ano e com alguns dos mais importantes kimberlitos do mundo, seja o da Catoca, o 4º maior do mundo, seja ainda o promissor investimento do gigante russo Alrosa, no Luaxe, igualmente um dos maiores kimberlitos do mundo, a Endiama, ainda em Fevereiro deste ano, repetia o objectivo de alcançar uma produção média de 14 milhões de quilates.

Actualmente, apesar de estar entre os grandes produtores mundiais, Angola ainda está longe do pódio, que é ocupado pela Rússia, Botsuana e República Democrática do Congo, estando ainda entre outros gigantes, como o Zimbabué, a Austrália ou o Canadá.

Recorde-se que a Rússia, segundo números de 2014, produziu mais de 39 milhões de quilates, o Botsuana passa ligeiramente os 23 milhões, enquanto a RDC, sem números oficiais fiáveis, deverá ter uma produção a rondar os 15 milhões de quilates, numa grande percentagem oriundos do garimpo artesanal e muito deste ilegal, por isso fora das contas oficiais.

Para ultrapassar estes três produtores, Angola vai precisar de ver o projecto mineiro do Luaxe activo, sendo que a russa Alrosa já avançou como estimativa para esta mina, entre os cinco maiores kimberlitos do mundo, situado na Lunda Sul, próximo da Catoca, a presença de quilates no valor de 35 mil milhões USD, podendo levar a que o País, com a sua produção anual estimada de 9 milhões de quilates, quase que duplique a actual produção quando em plena actividade.

Mas, além da gigante russa Alrosa, o Governo angolano precisa de atrair outros investidores, tendo, para isso, produzido fortes alterações à anterior legislação, sendo o toque mais notado a liberalização das vendas que estava, até há pouco tempo, sujeita à lógica do comprador preferencial.

Nos melhores anos até agora, o sector diamantífero contribuiu com até 2 mil milhões USD para os cofres públicos.

No mapa das prioridades do Centro Mundial de Diamantes de Antuérpia

Para que Angola se assuma como um dos grandes entre os gigantes da indústria diamantífera mundial, terá de contar com os melhores canais de compra e venda e esse passo pode estar a ser dado neste momento, depois de, como a Lusa noticiou na segunda-feira, o Centro Mundial de Diamantes de Antuérpia (AWDC), que representa mais de 1.600 empresas desta indústria, ter admitido que quer assinar um acordo com o Governo angolano para a compra directa de diamantes.

Essa informação foi transmitida pelo presidente do CMP, Chaim Pluczenik, que, de passagem por Luanda, sublinhou que esta organização está situada em Antuérpia, "o maior centro mundial de diamantes" e que "Angola é um dos maiores produtores mundiais" o que leva a que seja apetecível ter aqui "um fornecimento directo para a indústria belga".

Chaim Pluczenik, dono da Pluzcenik, um dos grandes comerciantes do mundo no sector, que passou pela capital angolana no âmbito de um encontro de empresários belgas com o ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Azevedo, destacou que 86% da produção mundial de diamantes passa por Antuérpia e que o CMD está pronto "para assinar um acordo de longo prazo com o Governo angolano".

A bolsa de diamantes, o outro passo fundamental

Para já com carácter experimental, Diamantino Azevedo acaba de anunciar que o Governo pretende criar em Luanda a Bolsa de Diamantes de Angola, já em 2022, contando, para isso, com a colaboração de empresários belgas.

Isso mesmo ficou claro enquanto objectivo do MIREMPET quando Diamantino Azevedo, ainda no encontro com os empresários belgas do sector diamantífero e associados do AWDC, anunciou a criação de uma bolsa experimental como uma prioridade para 2022, que considera essencial para melhorar a comercialização dos diamantes produzidos no País.

O governante deixou ainda um sublinhado para a importância que esse objectivo tem na eliminação de práticas próprias de um monopólio, contando, para o surgimento deste mecanismo de comercialização e venda de gemas, com o aumento em curso da capacidade nacional de lapidação, especialmente no parque que está a ser criado em Saurimo, Lunda Sul e ainda o facto de o País possuir a 4ª maior mina do mundo (kimberlito), a Catoca, sendo o Luaxe, que deverá estar funcional em breve, ainda de maiores dimensões.

Com este plano em marcha, o ministro crê estarem cridas as condições para que Angola atinja os 14 milhões de quilates nos próximos anos.

Mas, a par destes projectos que garantem quantidade, Angola conta ainda com uma das mais promissoras minas no que respeita à qualidade das gemas extraídas. A Mina do Lulo, na Lunda Norte, tem sido a jóia mais "brilhante" da indústria nacional, como o deixa evidente o facto de ter sido ali extraído o maior diamante angolano de sempre, com 404 quilates, em 2016.

O Lulo foi ainda responsável pela quase totalidade dos 10 maiores diamantes jamais extraídos pela indústria diamantífera nacional, que tem mais de 100 anos, tendo, em 2016, batido o recorde mundial de valor por quilate, atingindo os 2983 USD, graças à rara dimensão e qualidade das "pedras" encontradas naquela mina, onde a Endiama, concessionária, é sócia, a par da Rosa & Pétalas.

E esta mina pode ainda tirar uma surpresa do subsolo quando, como a Lucapa estima que venha a suceder, for encontrada a fonte natural dos gigantes de aluvião, um kimberlito que pode mesmo estar dentro dos mais de 3.000 kms quadrados desta exploração de características únicas em Angola.

Só que, para que estes objectivos, traçados com a chegada ao poder de João Lourenço, e com o primeiro passo dado na alteração da legislação que acabou com os compradores preferenciais, o que permitiu a Isabel dos Santos "alimentar" a sua de Grisogono de forma vantajosa, mas com prejuízo para a SODIAM, a então empresa nacional de comercialização, o Governo tem pela frente uma dura batalha contra o garimpo ilegal que retira todos os anos milhares de quilates da produção oficial nacional.

O garimpo ilegal de diamantes é uma das lutas em que o Governo está mais empenhado no âmbito do plano de desenvolvimento da indústria diamantífera e isso mesmo tem sido sublinhado pelo ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás.

Alias, desde 2017 que se multiplicam as operações policiais de combate ao garimpo ilegal nas Lundas, Norte e Sul, o que tem sido feito com operações nos locais de extracção e ainda através do controlo fronteiriço com a expulsão de milhares de congoleses que trabalham de forma ilegal nas milhares de dragas e buracos existentes nestas duas províncias.

Mais receitas mas menos produção em 2021

O 1º trimestre de 2021 foi bom para a indústria diamantífera nacional e um sinal de que o comércio global de diamantes está a ganhar forma depois de uma prolongada crise gerada pela pandemia da Covid-19.

Isso mesmo pode-se constatar pelo facto de as receitas do País neste período terem subido 26 por cento, para 220 milhões USD, apesar de terem sido comercializados, este ano, apenas 1,171 milhões quilates em comparação com os 1,211 milhões em igual período de 2020, que renderam "apenas" 162 milhões USD, sendo a diferença de valor médio por quilate de 186 USD e 133 USD, respectivamente.

Estes dados foram revelados recentemente pelo director para área de comercialização da Endiama, José Carlos de Sousa, num seminário de capacitação para jornalistas económicos e profissionais de comunicação na área dos diamantes, onde avançou também que o objectivo para 2021 é chegar a uma produção global de 10,5 milhões de quilates, chegando, em 2022, aos 13,5 a 14 milhões, valores substancialmente superiores aos actuais 9 milhões produzidos em média dos últimos anos.

A Bélgica, os Emirados Árabes Unidos e a Índia são os principais mercados dos diamantes extraídos em Angola.