Esta posição foi manifestada na quarta-feira pelo governante saudita em Abuja, Nigéria, a cerca de uma semana da reunião de Viena de Áustria onde os membros da OPEP (Organização de Países Produtores de Petróleo) e da OPEP+, grupo ad-hoc criado com a Rússia e mais 11 produtores não-cartelizados, vão redefinir a sua política de cortes para fazer face à derrocada registada nos mercados, que levou o barril a perder mais de 15 dólares em pouco mais de um mês.
A OPEP+, recorde-se, foi criada em finais de 2016, quando a OPEP e a Rússia, à frente de um grupo de mais 11 produtores, juntaram esforços para cortar 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) como forma de tirar o crude do pântano comercial em que se encontrava, tendo registado um claro sucesso ao catapultar o preço do barril de 40 USD para os 85 alcançados em meados de Outubro último.
Face ao sucesso dessa estratégia, que retirou o excesso de oferta dos mercados, a Arábia Saudita, que é, enquanto maior produtor mundial, quem manda de facto na OPEP, começou a sofrer fortes pressões dos EUA para aumentar de novo a produção e fazer baixar os preços, aqui com claro sucesso do Presidente Donald Trump.
É aqui que as coisas se complicam, porque, se em Junho deste ano, os sauditas anuíram no aumento unilateral da produção, para agradar a Donald Trump, embora tenham sido acompanhados pela Rússia, agora, quando o pânico se está a voltar a instalar entre os países produtores com economias dependentes das exportações de crude - a generalidade dos membros da OPEP, com Angola entre os mais dependentes -, o ministro da Energia, Khalid al-Falih, vem criar um obstáculo à acção para voltar a fazer o preço subir, impondo como condição para diminuir a produção que os outros países se juntem a esse esforço.
Uma das conclusões que se pode tirar deste posicionamento é que Riade quer que os outros membros da OPEP assumam o esforço de rebalancear o mercado com a sua produção, que, se assim for, substituirá uma parte do milhão de barris que os sauditas aumentaram já este ano, levando a que o mercado, como já não acontecia desde 2017, voltasse a ter excedentes de oferta face à procura.
"Como Arábia Saudita, não podemos fazer isto sozinhos", disse Khalid al-Falih, referindo-se ao corte na produção que permita voltar a colocar os mercados favoráveis aos produtores.
Todavia, o Governo saudita tem de fazer face a um dilema, que é lidar com a urgência de um aumento dos preços para equilibrar as suas contas, muito deficitárias actualmente, e dar cobertura a uma espécie de chantagem a que está a ser sujeita por Donald Trump por causa do imbróglio criado em torno do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, a 02 de Outubro, em Istambul, Turquia, que os serviços secretos norte-americanos ligaram directamente ao príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman.
Trump já veio deixar entender que está pronto a ignorar a alegada culpabilidade do sucessor do monarca saudita no assassinato de Khashoggi, voltando a argumentar com a sua "América primeiro", se Riade conseguir influenciar a OPEP e a OPEP+ no sentido de manter o valor do crude em sentido decrescente nos mercados.
Numa coisa, face a este cenário, os principais analistas dos mercados petrolíferos, parecem estar de acordo: se a reunião do próximo dia 06 de Dezembro, em Viena, onde vão estar os 25 produtores divididos pela OPEP e pela OPEP+, não chegarem a um acordo significativo sobre cortes na produção, a ideia de o barril voltar a trepar para cima dos 90 USD passa de uma possibilidade dada como certa ainda há um mês para a condição de miragem.
O que pode ainda significar que mesmo os actuais 60 USD no Brent de Londres, onde são definidos os valores médios das exportações angolanas, podem resvalar e cair para valores que podem colocar em risco algumas das economias petrodependentes, entre estas, com destaque, as da Nigéria, Angola, Venezuela, mas também da Rússia e da própria Arábia Saudita.
Angola, por exemplo, está já a experimentar os primeiros sinais desta crise que ainda está no horizonte, com o Executivo de João Lourenço a enfrentar a dúvida sobre uma revisão do OGE para 2019, que foi elaborado com o barril a 68 USD/média - oito acima do que o barril vale hoje, 59,83 USD a meio da tarde de quinta-feira, o valor mais baixo em 12 meses -, ou se mantém o documento inalterado.
Com a votação final do OGE marcada para 14 do próximo mês, o Governo angolano tem como janela de tempo para decidir os oito dias que restarão a partir da reunião de Viena de Áustria que terá lugar a 06 de Dezembro.
E se não houver uma decisão no sentido de cortar a produção em volumes suficientes para garantir o equilíbrio dos mercados, João Lourenço e o seu Governo não terão outra solução que não seja refazer as contas para o OGE de 2019.