Os 25 países produtores de crude, envolvidos de forma ad hoc na designação OPEP+, que junta os 15 membros da OPEP mais os 10 não-membros, liderados pela Rússia, que em finais de 2016 concordaram em cortar 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) para retirar o barril do pântano que o levou aos 29 USD, estão, de novo, confrontados com a urgência de reduzir a produção.
Um corte substancial é essencial para evitar que a crise iniciada em 2014 - cujos efeitos foram devastadores para as economias petrodependentes como a angolana - se volte a repetir, mas, a 24 horas da reunião decisiva de Viena de Áustria, ninguém sabe o que poderá acontecer, existindo apenas especulações, enquanto o valor do barril mantém o rumo de descida, estando, desde Outubro, a perder quase 25 USD.
Facto é que os produtores agora organizados em torno da OPEP+ estão conscientes de que só um corte na produção pode equilibrar os mercados em torno de um valor considerado razoável e que se situa em torno dos 70 dólares norte-americanos, porque o mercado conta actualmente com um excedente entre 500 mil a 1 mbpd, depois de em Junho último a Arábia Saudita e a Rússia terem sucumbido à pressão do Presidente dos EUA, Donald Trump, para aumentarem a produção nesses valores de forma a garantir a descida do preço do barril.
Todavia, se a pressão de Donald Trump não desapareceu, perdeu intensidade depois de ultrapassadas as eleições intercalares de Novembro, nas quais estava sob pressão e precisava de garantir combustíveis baratos para contentar os eleitores norte-americanos, o que poderá deixar espaço de manobra a sauditas e a russos para irem de encontro aos restantes "sócios" que, por sua vez, estão a pressionar para que seja retirado o excesso de oferta que os mercados observam actualmente de forma a elevar de novo o valor do barril.
Para Angola, sendo certo que quanto mais caro estiver o barril de Brent vendido em Londres, melhor, o mínimo aceitável serão os 68 USD, preço médio utilizado para elaborar o Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2019, e que, hoje, iniciou a sessão a perder cerca de 1,5 %, para os 61,20 USD/barril.
Com o OGE definitivo quase a ser votado no Parlamento - a 14 deste mês -, Angola é um dos membros da OPEP mais atentos ao decorrer da reunião de amanhã, embora o Ministério dos Recursos Naturais e Petróleo nada tenha dito sobre a posição que vai assumir em Viena de Áustria -, o Governo de João Lourenço espera, forçosamente, com ansiedade pelo que ficar decidido, porque não está afastada a possibilidade de ser obrigado a avançar para uma revisão do Orçamento mesmo antes de começar a ser executado.
O que se sabe?
Sabe-se que a decisão de quinta-feira vai sair do que ficar entendido pelo eixo Rússia/Arábia Saudita, dois dos três maiores produtores do mundo.
Sabe-se que tanto Moscovo como Riade são, com maior ou menor grau, duas economias petrodependentes e que os preços baixos são contrários aos seus interesses económicos, mas não forçosamente contra os seus interesses políticos e geoestratégicos.
E sabe-se ainda que todos os restantes membros da OPEP+ anseiam por um novo corte que eleve de novo o preço do barril.
Mas, sabendo-se isto, o que pode contrariar a lógica?
Para já, e segundo o ministro da Energia saudita, Khalid al-Falih, o seu país e a Rússia têm estado a conversar sobre o assunto, que Moscovo está disponível para suportar um corte na produção mas que, ainda segundo declarações do governante saudita à Bloomberg, é prematuro dar quaisquer garantias, embora seja igualmente verdade, segundo ele, que os membros da OPEP+ estão obrigados a dizer com rigor o que pretendem fazer.
Este posicionamento de al-Falih é, pelo menos, desajeitado porque é conhecida a absoluta influência saudita para definir um posicionamento amanhã e também que a corte de Riade está sob uma forte pressão de Washington com Donald Trump a usar o imbróglio diplomático criado pelo assassinato do jornalista dissidente saudita radicado nos EUA, Jamal Khashoggi, a 02 de Outubro, em Istambul, na Turquia, para forçar à contenção saudita na definição de um valor para os cortes na produção que todos esperam ver sair da reunião de Viena de Áustria.
Isto, depois de a "secreta" norte-americana CIA ter estrategicamente deixado escapar para o The Washington Post - jornal onde Jamal Khashoggi trabalhava - um relatório onde aponta o nome do príncipe herdeiro ao trono saudita Mohammed bin Salman (na foto, com Trump) como tendo sido a "mastermind" por detrás do crime de Istambul, o que permitiu a Trump vir a público dizer sem papas na língua que estava disposto a ignorar a gravidade da acusação e manter os laços fraternos com Riade em troca de petróleo barato para manter em marcha acelerada a economia dos Estados Unidos.
Cortar sim... ou talvez não
A Arábia Saudita precisa de ver o barril de crude chegar rapidamente aos 80 USD só para equilibrar as suas contas, mas sabe que não pode esticar a corda com Washington porque Donald Trump pode, de um momento para o outro, voltar a acenar com o "caso" Khashoggi, situação que se sobrepõe, pelo menos no que foi possível observar nas últimas semanas, à urgência de equilibrar a balança de pagamentos saudita pela clara prioridade de Riade à defesa intransigente da imagem do seu príncipe herdeiro.
Isso mesmo fica claro com a mudança radical de posição dos sauditas em escassas semanas, passando do anúncio de um corte unilateral significativo - 1 mbpd - antes do fim do ano para uma mais macia versão que aponta para a necessidade de gerar consensos entre os 25 da OPEP+, sabendo-se, ainda por cima, que em Junho último Riade aumentou a produção de per si entre 500 mil a 1 milhão de barris por dia.
E da Rússia, as notícias não são menos incertas, depois de Vladimir Putin ter admitido há menos de uma semana que está disponível para cortar mas apenas 150 mil barris por dia da sua produção que vai actualmente em valores recorde, com mais de 11 mbpd.
Ora, se assim for, e se os sauditas optarem por igual posição, anunciando a disponibilidade para um corte igualmente modesto, então o que Riade e Moscovo estão a fazer é a colocar a pressão sobre os restantes parceiros da OPEP+, incluindo Angola, que, tal como a maior parte dos restantes "sócios", já sofre bastante com a quebra na produção por razões diversas e carece de um aumento substancial no barril para poder olhar de frente com mais confiança os desafios que tem pela frente, que são, sobretudo, derrotar a forte crise económica que atravessa deste 2014, precisamente por causa da quebra abrupta do preço da matéria-prima.