Desde os primeiros dias de Outubro, o barril de Brent, que determina o valor médio das exportações angolanas, já caiu mais de 25 dólares, de 85 para os actuais 59,5 USD, porque a Arábia Saudita, o maior produtor do mundo, resolveu, de forma unilateral, aumentar a produção em Junho de forma a satisfazer as exigências e ameaças do Presidente dos EUA, Donald Trump.
Tradicionais aliados, a Arábia Saudita sempre procurou não confrontar os Estados Unidos em matéria de políticas petrolíferas, mas, devido à crise económica e financeira que atravessava, em finais de 2016 juntou-se aos outros produtores da OPEP e de fora do "cartel", como a Rússia, para estabelecer um corte de 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) para fazer crescer de novos os preços, que estavam em mínimos de muitos anos.
Mas, agora, com o imbróglio criado com o assassinato do jornalista saudita dissidente, Jamal Kashoggi, a 02 de Outubro, na Turquia, e com a secreta norte-americana, CIA, a ligar o príncipe herdeiro Bin Salman a este crime, Donald Trump, que disse clara e publicamente que estava disposto e ignorar este problema se os sauditas se mantivessem alinhados com a sua vontade de fazer baixar o preço do barril, ficou totalmente com a corte de Riade nas mãos.
E isso mesmo ficou em evidência no encontro de Viena de Áustria, na quinta-feira, quando o ministro da Energia saudita, Khalid al-Falih (na foto), apesar de o seu país estar a carecer com urgência de acrescentar valor ao barril para suprimir os défices das suas contas internas e externas - para 80 USD no mínimo, segundo analistas -, lançou um balde de água fria para cima dos membros da OPEP ao defender que qualquer corte na produção terá de sair de um acordo nesse sentido com a Rússia, de Vladimir Putin, que, por sua vez, tem igualmente mostrado resistência em contrariar Donald Trump.
Um dos países da OPEP que mais sentiu o frio do balde de água gelada que os sauditas lançaram sobre os membros do cartel foi Angola, porque, devido à profunda crise económica que atravessa, exactamente por causa da quebra do valor do crude a partir de 2014, e porque elaborou o seu Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2019 com base num preço médio de 68 USD, precisa de ver rapidamente tomada uma decisão que permita elevar de novo o preço do barril.
No entanto, sempre muito relutantes em definir um objectivo claro para as discussões nestas reuniões da OPEP, as autoridades angolanas não anteciparam quaisquer valores de referência, tendo apenas o ministro dos Recursos Minerais e Petróleos, Diamantino de Azevedo, dito, quando deixava Luanda para Viena de Áustria, que pretendia "um preço justo".
O governante chegou, no entanto, a admitir que tinha expectativas de os membros da OPEP viessem a acordar numa solução de consenso que levasse a que tanto os produtores como os consumidores ficassem satisfeitos.
Para já, como se viu pelo resultado, apenas os consumidores ficaram satisfeitos, sendo o Presidente dos EUA o mais satisfeito entre todos, porque viu a sua estratégia de pressão sobre sauditas e russos revelar-se eficaz.
Entre 500 mil e 1,5 milhões
Apesar desta situação de impasse, que se está a mostrar devastadora para as contas dos países exportadores, especialmente as economias petrodependentes, como ainda é a angolana, a venezuelana ou mesmo a saudita e, embora em menor escala, a russa, todos sabem que mais cedo ou tarde, a produção terá de ser cortada entre os membros da OPEP e dos seus associados desde finais de 2016, liderados pela Rússia.
Esse corte, no mínimo como admitem os analistas ouvidos nas horas pós-reunião de Viena, terá de se situar no intervalo dos 500 mil barris/dia a 1,5 milhões, porque é esse montante estimado para o que foi, unilateralmente, cortado pela Arábia Saudita em Junho, e que produziu como resultado um claro excedente de petróleo nos mercados, que, por sua vez, levou ao aumento substancial das reservas das grandes economias e, no fim da linha, à acentuada queda do valor do barril, que desde Outubro já caiu mais de 25 USD.
Com este "day after" da reunião da OPEP, especialmente por causa da rápida resposta dois mercados em baixa, ajudados ainda por uma crescente produção dos EUA, actualmente a bater recordes históricos, a expectativa é enorme para os próximos dias, esperando-se uma clarificação por parte dos sauditas.
Isto, porque foram vários os parceiros da OPEP que já criticaram, embora através de fontes anónimas cotadas na imprensa internacional, Riade por causa desta postura, tendo em consideração que em Junho a Arábia Saudita avançou para um aumento da produção sem consultar ninguém, prejudicando claramente os outros membros.
Mais uma vez, a posição de Angola sobre esta infrutífera reunião da OPEP, não foi revelada.