Por detrás desta reviravolta no valor do barril de crude, que está hoje à beira dos 73 USD no Brent londrino, que define o valor das exportações angolanas, está a reunião da próxima sexta-feira, na sede da Organizações dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), em Viena de Áustria, com a Rússia e outros aliados, onde o ponto que concentra as atenções do mundo é apenas um: quantos barris vão ser acrescentados à produção actual?
Na verdade, os mercados - e, especialmente, os países com economias petrodependentes - anseiam por uma surpresa, como, por exemplo, um desvio de última hora que leve a Arábia Saudita e a Rússia a aligeirar a sua pressão para que a produção seja aumentada nas próximas semanas.
Todavia, esse cenário parece estar definitivamente afastado depois dos ministros do Petróleo e Energia da Arábia Saudita e da Rússia, Khalid A. Al-Falih e Alexander Novak, terem enviado sinais para os mercados nas últimas semanas sobre um aumento da produção no curto prazo.
Tudo, depois de os preços terem atingido valores em que poucos acreditavam e também pressionados pelos Estados Unidos da América, cujas reservas em queda e preços dos combustíveis em alta começam a inquietar a administração Trump, tendo o próprio intercedido nesse sentido juntos dos seus amigos no Médio Oriente e em Moscovo.
A OPEP e a Rússia, que lidera um grupo de 11 países produtores não-membros, têm em curso, desde Janeiro de 2017, um programa de cortes de 1,8 milhões de barris por dia (mbpd), definido numa altura em que o barril estava em valores historicamente baixos e com o objectivo de equilibrar o mercado que, à época, observava um excesso de produção que empurrava, semana após semana, o petróleo para valores mais baixos, tendo chegado aos 28/29 USD no início de 2016.
Com o passar do tempo, o programa de cortes começou a dar resultados positivos, maximizados igualmente por episódios ocorridos pelo mundo, como a crise na Venezuela, a saída dos EUA do acordo nuclear com o Irão, a ameaça de guerra na Coreia do Norte... e a crescente procura de crude nas grandes economias mundiais, como a China, EUA e Índia e a queda acelerada das suas reservas estratégicas, que fizeram com que os preços do barril disparassem.
Ou seja, os preços subiram mais do que era esperado, até porque, como o responsável pela pasta dos Petróleos saudita, Khalid A. Al-Falih, chegou a lembrar, com o barril acima dos 70 USD, isso poderia ser mau para a OPEP porque iria permitir aos EUA aumentar muito a sua produção do chamado petróleo de xisto, ou fracking, um sector que só é viável financeiramente com o barril acima desse valor devido ao seu elevado custo de produção - este método retira petróleo e gás do interior da rocha através da injecção de água e químicos a alta pressão no subsolo - mas que pode desequilibrar de forma substancial os mercados provocando perigosos excedentes na oferta.
Isso mesmo veio a acontecer, embora o coincidente leque de crises globais - Coreia do Norte, Irão, Venezuela... -, acrescido do bom desempenho da economia global, com o bónus dos efeitos nefastos dos tempos do barril barato em países como Angola ou a Venezuela, com a sua infra-estrutura produtiva deteriorada devido ao desinvestimento das multinacionais, levando a que ocorre-se uma situação imprevista: nada parecia conseguir travar a escalada do valor do barril.
Excepto a própria OPEP
Só a OPEP parecia, até há bem pouco tempo, ter a capacidade para travar a subida, tendencialmente exponencial, do valor do barril, o que, por interesse estratégico - manter o sector do xisto controlado nos EUA -, ou por cedência à pressão do Presidente dos EUA, Donald Trump, a verdade é que hoje são poucas os que duvidam de que na próxima sexta-feira, em Viena de Áustria, não seja decidido aumentar a produção.
Extremamente sensíveis aos rumores, os mercados foram lestos a responder à quase certa decisão de aumentar a produção com uma descida do preço do "ouro negro", passando dos 80 USD por barril para os actuais 73,08, na abertura do Brent, em Londres.
A questão agora é saber o que vão fazer os países produtores em Viena, ou melhor, o que vão decidir a Arábia Saudita e a Rússia - líderes de facto do cartel e deste programa de cortes e gigantes mundiais da produção -, ou o que poderão os restantes membros do "cartel" fazer, visto que, para a maioria, quanto mais caro estiver o barril melhor, devido às dificuldades financeiras que enfrentam quase todos, como é o caso claro de Angola, melhor, independentemente da importância da estratégia neste complexo tabuleiro global.
Um facto recente pode dar para construir uma boa ideia do que se deve esperar para a reunião de sexta-feira: Donald Trump mantém uma guerra aberta com a China e a Europa sobre tarifas aduaneiras para um conjunto de produtos importados, sendo que alguns deles podem ser decisivos no futuro da economia mundial, como sejam as tarifas que os EUA vão aplicar ao aço e ao alumínio chineses.
E, como sempre, os mercados olham para um hipotético arrefecimento da economia chinesa como uma "ordem" para baixar o valor do barril, ou não fosse a China o grande consumidor mundial de crude, a par dos EUA.
A juntar a isto, a China já anunciou retaliações, a Europa já anunciou retaliações e o Canadá já garantiu retaliações à atitude de Trump e, no imediatismo dos mercados, isto só quer dizer uma coisa: menos economia, menos necessidade de petróleo, menos valor por barril.
Ora bolas... logo agora que isto parecia estar a andar
E se a queda continuar, os países em maiores dificuldades vão ser aqueles que mais sofreram com a quebra no valor do crude em meados de 2014, como Angola ou a Venezuela, cujas economias mais dependem do petróleo e onde os grandes investidores globais, ou seja, as companhias petrolíferas que lideram os sectores da pesquisa e produção, mais depressa abandonaram ou colocaram em stand by as suas actividades devido ao elevado custo de produção - 18 USD por barril em média no que toca a Angola - em comparação com outras regiões, como o Médio Oriente - onde o barril sai do solo em média por 7/8 USD.
Neste momento, Angola observa uma folga substancial nas suas contas públicas porque o Orçamento Geral do Estado foi elaborado com o barril a 50 USD e está a ser vendido acima dos 75 dólares norte-americanos.
Mas tudo vai depender do que ficar decidido na capital austríaca, quando os países da OPEP, que inclui Angola como membro de pleno direito, e os aliados nesta circunstância, como a Rússia, o México ou o Cazaquistão, entre outros, se reunirem, na próxima sexta-feira.
O Presidente dos EUA, Donald Trump, já pediu, embora discretamente, à OPEP, para aumentar a produção na ordem dos 1 mbpd, para controlar o preço da gasolina no seu país.
Para já, mesmo sem se saber qual vai ser a decisão, havendo apenas pequenas pistas, os mercados já estão a reagir e a dar como certo que Riade e Moscovo vão acrescentar 1 mbpd à produção actual para compensar as quebras venezuelana, cuja infra-estrutura produtiva está em ruínas devido à crise política e económica que o país atravessa, mesmo sendo o que possui as maiores reservas em todo o mundo, e no Irão, onde os EUA de Trump voltaram a impor sanções depois de terem denunciado unilateralmente o acordo nuclear em vigor desde 2015.
No entanto, a decisão a sair de Viena pode muito bem ser outra e a todos surpreender: em vez de aumentar a produção, o cartel e a Rússia podem encurtar o período de manutenção do corte de 1,8 mbpd, que está previsto para o início de 2019.
A outra possibilidade, é, efectivamente aumentar a produção em algumas centenas de milhares de barris por dia, mas prolongar o calendário de cortes para meados de 2019.
O que se sabe de forma clara é que se Moscovo e Riade optarem por defender o aumento da produção, vão contar com a oposição de alguns dos colegas à mesa, porque estes aumentos no preço do barril têm sido uma verdadeira tábua de salvação, como é o caso de Angola, mas também da Nigéria, da Líbia, da Venezuela, entre outros.
E, no que toca a Angola, acontece logo quando o Executivo de João Lourenço procura criar condições para aumentar a produção, nomeadamente através de novas políticas de impostos e de incentivos legais ao investimento das multinacionais na produção, que foi parcialmente desmantelada com o decorrer da crise provocada pelos baixos preços do barril iniciada em 2014.
Esforço esse que visa contrariar as perspectivas da Agência Internacional de Energia que, para os próximos cinco anos, vê a produção angolana passar dos actuais cerca de 1,6 mbpd para os 1,29 mbpd.
O que está a ser feito em Angola
Com uma economia ainda dependente do petróleo, Angola tem no crude o garante de mais de 90 por cento das suas exportações, era necessário dar uma resposta a este cenário de perda continuada, embora com alguns sinais de investimento retomado, como foi o caso dos mais de 3 mil milhões de dólares, liderado pela francesa Total, investidos no projecto Kaombo, no Bloco 32, onde, nos próximos meses, começarão a ser extraídos 230 mil barris por dia e onde estão reservas estimadas em mais de 600 milhões de barris distribuídos por seis campos.
Mas o Governo angolano, através de vários decretos presidenciais, procura ainda rejuvenescer e impulsionar a sua capacidade produtiva e os investimentos no petróleo e no gás natural baixando as taxas aplicadas aos denominados campos marginais - com menos de 300 milhões de barris em reserva -, cortando de 20 para 10 por cento na produção petrolífera e de 50 para 25 por cento no rendimento desses mesmos campos.
Neste decretos, o Presidente da República tem ainda em consideração a questão dos campos onde a produção tem potencial para se prolongar para lá das datas previamente acordadas pela concessionária, desde que não existam colisões com novas áreas sob contrato de concessão..