Donald Trump e Xi Jinping concordaram em suspender por 90 dias a batalha de taxas aplicadas aos principais produtos que um e outro exporta e importa, que era um dos principais motivos para a queda vertiginosa do valor do crude nos últimos dois meses.
Na sexta-feira, o barril de Brent, vendido em Londres e que delimita o valor médio das exportações angolanas, chegou aos 59 USD, quase menos 26 dólares que o valor atingido ainda em Outubro, onde bateu o recorde de quatro anos, alcançando os 85 dólares.
Para os países produtores, especialmente aqueles que dependem do crude para manter as suas contas em dia, como é o caso de Angola, esta queda iniciada em Outubro só tem paralelo na criação de pânico com o que sucedeu em 2014, quando a derrocada nos mercados petrolíferos gerou a gigantesca crise de que o país ainda não se livrou, atingindo o mais baixo valor deste período histórico em Fevereiro de 2016, onde chegou à casa dos 20 USD, depois de em 2008 ter atingido os 147, no mês de Junho.
Mas, aparentemente, esse deslize perigoso para a economia angolana parece ter sido interrompido e o Brent de Londres acordou hoje com uma subida de mais de 4%, empurrando o barril em alta para os 62,18 cerca das 08:30 em Angola.
Por detrás disto está, numa primeira linha, o intervalo de paz de 90 dias na "guerra" comercial entre Washington e Pequim acordada entre Trump e Xi Jinping em Buenos Aires, mas também a reunião desta semana que a Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e os que integram a ad hoc OPEP+, como se passou a designar o grupo de países liderados pela Rússia que em finais de 2016 se juntaram ao "cartel" para procurarem retirar o crude do pântano em que se encontrava, marcaram para Viena de Áustria.
Na próxima quinta-feira, os 25 países que integram esta OPEP alargada, vão sentar-se à mesa com uma expectativa que só pode ser comparada à que surgiu quando em finais de 2016 os 12 produtores liderados pela Rússia se juntaram aos membros da OPEP para acordarem num corte de 1,8 milhões de barris por dia que permitiu retirar o barril de mais de dois anos de amargura, na perspectiva de quem produz.
Em causa está, desta feita, não apenas definir o corte na produção que permita voltar a estabilizar o valor do barril mas, essencialmente, ver como os "sócios" podem ajudar a Arábia Saudita a sair do buraco político-diplomático em que se meteu devido à pressão a que foi sujeita pelo Presidente Donald Trump depois de ter sido apanhada em falso jno caso do perigosamente polémico assassinato do jornalista dissidente saudita Jamal Khashoggi, na Turquia. Ver aqui.
Isto, porque a Arábia Saudita foi responsável pela queda abrupta iniciada em Outubro quando aceitou aumentar a sua produção em valores que os analistas admitem estar entre os 500 mil e 1 milhão de barris por dia (mbpd) pressionada pelos EUA onde Donald Trump precisava de garantir crude a baixo preço para manter os seus eleitores satisfeitos com combustíveis baratos em período pré-eleitoral.
Para já, sabe-se que a corte saudita deixou claro, pela voz do seu ministro da Energia, Khalid al-Fali, que não vai cortar a produção de forma unilateral, exigindo que os membros da OPEP alinhem consigo neste esforço.
Isso, significa que países como Angola, já bastante pressionados pela incapacidade de aumentar a sua produção em tempos de barril a bom preço, podem ser confrontados com a responsabilidade de retirar do mercado o excesso criado em Julho pelos sauditas para satisfazer os americanos.
Mas essa é a questão no meio da sala quando os 25 estiveram sentados à mesa em Viena de Áustria, na próxima quinta-feira, sendo que os analistas mais atentos admitem que a única forma de a OPEP-OPEP+ dar um recado claro aos mercados de que são para levar a sério é de avançarem para um corte não inferior a 1,4 milhões de barris por dia.
E isso só será possível se a parceria estratégica criada entre Moscovo e Riade em finais de 2016 provar manter-se em condições de funcionamento, o que, ao que sublinham os sites especializados nas "guerras" petrolíferas, é possível porque tanto os sauditas como os russos têm as suas economias a precisar do barril em alta, sendo essa fasquia de pelo menos 80 USD só para a Arábia Saudita equilibrar as suas contas internas.
Quanto ao posicionamento de Angola neste encontro de Viena, apesar de ser o 2º maior produtor africano, nada foi adiantado, embora seja claro que o país precisa de ver o barril subir face aos preços de hoje, nem que seja para os 68 USD de valor médio do barril com o qual foi elaborado o OGE para 2019.
Mas, devido à insatisfatória situação da diversificação da economia nacional, e quando o crude ainda é responsável por mais de 90 por cento das exportações, para o Executivo de João Lourenço só existe um lado no eventual braço-de-ferro de Viena: o lado dos que querem ver o barril acima dos 70 dólares o mais rápido possível.