Hoje, um mês depois dessa reunião, onde os países agregados na denominada OPEP+ - designação criada para identificar o grupo mais abrangente envolvido neste esforço - anunciaram um corte de 1,2 milhões de barris por dia (mbpd), a matéria-prima estava a valer 57,52 USD ao início da manhã, em Londres, onde o Brent local serve de referência para as exportações angolanas.
Este novo ciclo de subidas consecutivas no valor do barril de petróleo em Londres surge como mel no leite para o Executivo de João Lourenço, que se debate com o problema do baixo valor do crude em comparação com o preço de referência usado para elaborar o Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2019 - 68 dólares.
O ministro de Estado do Desenvolvimento Económico e Social, coordenador ad hoc da equipa económica do Executivo, admitiu mesmo, em entrevista recente, que o OGE poderá ser alvo de uma revisão nos primeiros meses deste ano se o comportamento dos mercados não for o adequado, nomeadamente uma aproximação entre o valor usado como referência para elaborar o documento-mestre da governação, 68 USD, e o actual preço do barril de Brent, que está nos 57,52.
Mas o cenário pode ainda melhorar se se confirmarem as notícias divulgadas pelos media especializados internacionais, que apontam para uma decisão tomada pelo Governo saudita, o maior produtor mundial de petróleo e líder de facto da OPEP, em cortar a sua produção substancialmente além do que ficou definido na reunião de 6/7 em Viena.
Ainda segundo a justificação enunciada por Riade para esta decisão está o facto de a potência energética do Golfo precisar de ver o barril a valer pelo menos 80 USD porque é o valor que permite à Arábia Saudita atingir o breakeven das suas contas orçamentais, como concluiu o Wall Street Journal, numa análise às suas contas públicas.
E é essa realidade que levou o Governo saudita a elaborar planos que contemplam uma redução da produção na ordem dos 800 mil barris por dia, para os 7,1 mbpd até ao fim do mês, o que significa que o país está disposto a abdicar da sua capacidade de produção máxima, que ultrapassa os 11 mbpd.
Na realidade, como notam os analistas dos mercados petrolíferos, o que a Arábia Saudita está a fazer, levando os mercados a reagir em alta significativa, é a resolver uma embrulhada gigantesca em que o próprio país criou para si e para os restantes países produtores, especialmente para aquele com economias dependentes das exportações de crude, como é o caso de Angola.
A situação negativa foi criada pelo Governo Saudita quando, em Junho do ano passado, para corresponder às exigências do Presidente norte-americano, Donald Trump, que precisava de petróleo barato para fazer face à campanha eleitoral em que estava envolvido, aumentou abruptamente a produção, inundando o mercado com petróleo, gerando um excesso de oferta face à procura, já de si afectada em baixo devido à guerra comercial entre a China e os EUA, esmagando os preços em mais de 30 dólares. O barril passou de 85 USD em Londres, no mês de Outubro, para 50 USD no final de 2018.
Para isso contribuiu ainda o facto de as temidas sanções dos EUA ao Irão, previstas para Novembro, não terem surtido o efeito que se esperava na redução das suas exportações, que tinham sido antecipadas como podendo cair de mais de 3,5 mbpd para menos de 1 mbpd.
Com este "acordar" dos sauditas para o terror que estavam a gerar entre as petrodependentes economias dos membros da OPEP, incluindo os próprios, e os restantes produtores associados na OPEP+, o Governo angolano, como é natural, deve ter respirado de alívio, não só porque isso afasta a obrigação de proceder a uma revisão do OGE-2019, como permite antecipar uma ajuda extra para responder as gigantescas obrigações que enfrentarão este e os próximos anos, especialmente os encargos com a dívida, que começa a aproximar-se dos 100% do PIB, como explicava o jornal Expansão, na sua última edição, estando já nos 91%.
E o cenário pode ser ainda mais positivo se se confirmarem algumas notícias, sustentadas por indícios nesse sentido, que apontam para um amenizar da guerra comercial entre a China e os EUA, com ambos os países a admitir que o actual cenário de aplicação de taxas bilionárias às exportações de um e de outro está a prejudicar não só as suas próprias economias mas também a economia global.