Com esta decisão, de manter um acrescento de 400 mil barris por dia, mensalmente e até 31 de Dezembro, e num momento em que a economia global ganha impulso com a diluição do impacto da pandemia da Covid-19, o que está a gerar uma situação onde a procura supera a oferta, os mercados reagiram em alta.
Apesar da forte pressão que o cartel estava a sentir, especialmente por parte das economias mais importantes, EUA, China e União Europeia, para aumentar a produção, não houve alterações, o que levou a que o barril de Brent, a referência para as exportações angolanas, tivesse chegado, na tarde de hoje aos 81.86 USD, +3.55% face ao fecho da sessão de sexta-feira.
Esta subida substancial do valor da matéria-prima mostra claramente que a OPEP+, cuja reunião de hoje gerou forte expectativa, é quem mais ordena e que os mercados estão sob apertado controlo.
Para Angola, uma das economias mais afuniladas pelos baixos preços do crude durante a pandemia, esta subida quase vertiginosa do barril é uma excelente notícia, permitindo uma importante folga nas contas públicas e ao Governo ganhar espaço de manobra para lidar melhor com a forte crise social que o País atravessa.
Sendo Angola um dos países na linha da frente das repercussões do sobe e desce dos mercados petrolíferos, devido à sua dependência das exportações de crude para o equilíbrio das suas contas - o petróleo ainda é responsável por mais de 94% das exportações e mais de 60 por cento dos gastos do Executivo e acima de 50% do PIB, este cenário de recuperação permite, ainda assim, algum optimismo nas contas nacionais mas ainda longe de um regresso ao patamar alcançado a partir de 2008, com o barril, como exemplo, a chegar aos 147 USD no Verão desse mesmo ano, permitindo um boom económico como nunca visto até ali.
A produção actual, em constante declínio, está abaixo dos 1,1 mbpd devido ao desinvestimento das "majors" a operar no offshore nacional, especialmente a partir de 2014, quando se verificou uma quebra abrupta do valor do barril, que passou de mais de 120 USD para menos de 30 dois anos depois, em 2016, bem como devido ao esgotamento/envelhecimento dos campos mais activos.
Apesar das mudanças substanciais na legislação referente ao sector e às alterações profundas nesta indústria decisiva para o País, a produção tem vindo a perder viço especialmente por causa da deterioração da infra-estrutura produtiva que desde 2014 viu os investimentos das "majors" descer, a fraca aposta na pesquisa por novas reservas e o envelhecimento de alguns dos mais importantes poços activos no offshore nacional.
Para já, com o barril acima dos 81 USD, o Executivo de João Lourenço conta com uma folga de mais de 2 USD em cima dos 39 USD que foi o valor usado como referência para a elaboração do OGE 2021, o que permite encarar com maior optimismo esta saída esperada da crise mundial, apesar dos fortes constrangimentos que a economia nacional enfrenta.
E com a transição energética a impor cada vez mais a sua vontade, com o crude e os restantes hidrocarbonetos a ser olhado como uma infecção perigosa e contagiosa, o País tem agora de fazer o que não fez nos últimos 20 anos: diversificar a sua economia o mais rápido possível, porque o petróleo tem os dias contados. E são cada vez menos.