O barril de Brent, em Londres, que serve de referência às exportações angolanas, abriu hoje a sessão, a primeira da última semana de Agosto, com ganhos, chegando, cerca das 09:40, aos 44,66 USD, mais 0,68% que no fecho da sessão de sexta-feira, enquanto do outro lado do Atlântico, no WTI de Nova Iorque, o crude subia 0,73%, para 42,65 dólares, à mesma hora tendo Luanda como referência.
Estes ganhos, que contrastam com a passada semana, devem-se de forma directa à mãe natureza, que largou uma forte tempestade sobre o Golfo do México, onde está localizada a maior parte da produção petrolífera offshore norte-americana, levando a uma substancial diminuição da extracção da matéria-prima.
Recorde-se que o sector está, com forte ressonância nas economias petrodependentes, como é o caso da angolana, onde o crude ainda é responsável por mais de 95% das exportações nacionais, a sofrer de novo fortemente com o recrudescer da pandemia da Covid-19, que foi responsável, no início do ano, pela mais forte crise que o mundo vive em quase um século, e ainda está longe do fim, podendo o seu impacto fazer submergir os efeitos históricos e nefastos do crash bolsista nos EUA de 1929.
Mas, como nota Stephen Brennock, um "broker" da PVM, citado pela Reuters, o barril de crude está a tirar proveito dos efeitos do clima adverso nos Estados Unidos, onde duas tempestades em simultâneo se abateram sobre o Golfo do México, levando a que metade da força de produção desta região fosse forçada a encerrar, diminuindo de forma vigorosa a chegada de crude aos mercados.
As companhias com presença no Golfo do México foram obrigadas a cortar a produção em mais de um milhão de barris por dia - cerca de 120 plataformas -, segundo as agências de notícias, depois de a tempestade tropical "Laura" e o furacão "Marco" terem batido à porta desta geografia a sul dos Estados Unidos e a Norte do México.
No entanto, sublinha Brenoock, estes ganhos vão ser de curta duração porque os efeitos da Covid-19, cujos números em todo o mundo estão a voltar a ganhar dimensão e a gerar receio de uma nova corrida ao confinamento nas economias mais fortes, já se estão a impor, com a chegada da segunda vaga da pandemia, que atinge com especial impacto as maiores economias do mundo, desde logo os EUA, mas também o Japão, a Europa ou a China, sem se poder ignorar o que se passa em países como o Brasil ou a Austrália.
Todavia, também os efeitos perversos do avanço da infecção pelo novo coronavírus podem ter os dias contados e levar a novos e fortes ganhos no sector petrolífero desde que os múltiplos anúncios de vacinas eficazes se materializem e estas cheguem em larga escala para travar o avanço da pandemia da Covid-19.
OPEP+ prepara novos cortes
Também a OPEP+, a organização que reúne os países exportadores e os seus associados, liderados pela Rússia, numa reunião online que teve lugar na passada semana, decidiu avançar para novos cortes na produção como forma de manter um controlo apertado sobre os preços do barril, tendo em conta que nos meses de Junho e Julho, os actuais cortes acordados não foram suficientes para enxaguar os mercados dos excesso de oferta.
Esta posição da OPEP+, que conta com o apoio de todos os países da OPEP, cartel que será presidido por Angola já a partir de Janeiro de 2021, vai impor novos esforços aos seus membros.
O Governo de Luanda já tornou público que a sua liderança terá como "Norte" a garantia do equilíbrio dos mercados onde o preço do crude deve ser satisfatório para produtores e importadores, o que é a posição que Angola tem defendido na última década.
Em cima da mesa, como o Novo Jornal tem noticiado, está uma diminuição dos cortes na produção, actualmente em 9,7 milhões de barris por dia, para 7,7 milhões, já a partir do início de Setembro, o que implicará forçosamente uma nova diminuição da quota da produção nacional, mas igualmente no valor da matéria-prima, que é a principal fonte de receitas para o OGE nacional.
No entanto, tal como a Nigéria, Angola é um dos países apontado como estando a falhar no cumprimento do seu esforço nos cortes acordados e, provavelmente, deverá agora ver esse suprimento aumentado para compensar.
Total volta a activar o sector da perfuração no offshore angolano
A petrolífera francesa, entretanto, e depois de no início da crise gerada pela pandemia da Covid-19 ter anunciado a suspensão geral da perfuração em águas angolanas, acaba de anunciar que vai começa a fazer regressar as suas plataformas perfuradoras ao offshore nacional.
No anúncio da Total, multinacional que responde por mais de 50 por cento da produção em Angola, é avançado que esse regresso da perfuração vai arrancar com a plataforma Skyros, enquanto, segundo anunciou Olivier Jouny, director executivo, da Total Exploration & Production Angola, citado pela Offshore Energy a partir do site Africa Oil & Power, depois da Skyros,m ais duas perfuradoras são aguardadas nas águas angolanas para esta semana.
Jouny explicou ainda que a crise gerada pela Covid-19 e o "dramático período que o sector viveu" entretanto, com destaque para a queda aparatosa do valor da matéria-prima, não deixou a Total imune e isso resultou na imposição de um plano de diminuição de custos de investimento que conduziu à suspensão dos trabalhos que agora são retomados.
Este responsável da multinacional francesa avanço ainda que as actividades offshore, nomeadamente as perfurações e testes sísmicos, bem como a produção inopinada e operações de manutenção nos seus blocos.
Para já, a plataforma Skyros já está no Bloco 32, enquanto a Maersk Voyager vai estar operacional até final deste mês e a West Gemini terá a sua reabertura nas próximas semanas, o que permite à companhia francesa anunciar que é a primeira a reatar as operações de larga escala em Angola.
Com o regresso em força das operações da Total, a produção angolana, que se encontra em níveis historicamente baixos, segundo algumas fontes, nomeadamente da OPEP, em cerca de 1,25 milhões de barris por dia, contra o potencial actual de 1,45 milhões e a quota resultante dos acordos com o "cartel" para equilibrar os mercados face à crise pandémica que se situa claramente acima da produção actual.
Mas Jouny deixou ainda mais uma informação importante para a produção nacional. Os Blocos 29 e 48 terão a atenção da empresa nos próximos anos, enquanto o 48 vai estar em breve a produzir em profundidades sem igual em todo o mundo.