O barril de Brent estava hoje a valer 68,65 dólares perto das 11:00 em Londres - a mesma hora em Luanda -, ultrapassando já claramente os 68 USD que o Governo usou como referência quando elaborou o Orçamento Geral do Estado (OGE 2019) e, segundo reputados analistas, tudo indica que vá continuar a subir nos próximos dias e semanas.
O Governo de João Lourenço, nos últimos meses, tremeu com o barril a descer para baixo dos 50 USD, precipitando uma revisão do OGE anunciada para este mês pelo ministro das Finanças, Archer Mangueira, mas agora começa a respirar melhor, tendo em conta que o petróleo ainda representa mais de 95% do valor global das exportações nacionais.
Por detrás desta reviravolta no comportamento do crude nos mercados internacionais estão diversos factores, sobejamente conhecidos, como a diminuição do vigor na guerra comercial travada entre a China e os Estados Unidos da América, os cortes na produção retomados em força pela Arábia Saudita, a crise estrutural na Venezuela, as sanções de Washington ao Irão, e um menos mediatizado, até agora: Donald Trump está a perder a guerra que declarou à OPEP para pressionar o preço do petróleo para baixo.
O Presidente norte-americano anda, praticamente desde que chegou à Casa Branca, há mais de dois anos, a engrossar o tom de voz contra os membros da OPEP e, agora, da OPEP+, sigla que emergiu da associação de países como a Rússia ou o Cazaquistão aos esforços do "cartel" para equilibrar o mercado em alta, ameaçando mesmo com a criação de legislação específica para os sancionar se não aceitarem as suas exigências.
Dessa legislação, que os sites especializados admitem como sendo efectivamente um instrumento de pressão de legalidade duvidosa, faz parte a possibilidade de perseguição judicial nos EUA aos países em questão, com sanções económicas, perseguição às empresas desses Estados presentes na economia norte-americana, apreensão de bens financeiros, etc.
Ou ainda a chantagem, após a polémica morte do jornalista Jamal Khashoggi, que em Julho de 2018 permitiu obrigar a Arábia Saudita a injectar mais 1 milhão de barris por dia (mbpd) contrariando o que este país tinha acordado com os seus sócios da OPEP+.
Mas, depois de Riade ter recuperado do caso Khashoggi, é a vez de a OPEP+, no seu conjunto, começar a encostar Trump às cordas, apesar de este continuar a ameaçar os países produtores no Twitter.
De fato, se até aqui a OPEP e a OPEP+ pareciam ressentir-se das ameaças de Donald Trump, actualmente começa a não ser bem assim, como recorda Cyril Widdershoven, um experiente analista dos mercados no oilprice, o que acaba por ser demonstrado com o facto de os dois gigantes da OPEP+, Arábia Saudita e Rússia resp9onderem com um ensurdecedor silêncios aos sonoros tweets do Presidente dos EUA.
Mas isso parece não ser, sequer, o mais importante, como adianta ainda Widdershoven, sendo-o, isso sim, o facto de os mercados, que até aqui reagiam mal, ou seja, com baixas no valor do barril a cada um dos tweets de Trump, mas agora parecem ignorar por completo essas ameaças e avisos, o que significa que "a retórica anti-OPEP de Trump está a perder importância e impacto".
Fracking está a partir
Outra situação que está a surgir como contratempo para os esforços gigantescos de Trump no sentido de garantir que o barril de crude não ultrapassa aquilo que lhe é atribuído como máximo aceitável, os 65 USD, é que o denominado petróleo alternativo, ou petróleo de xisto, o altamente polémico e poluente fracking, está igualmente a perder viço, porque está a ser rejeitado por muitas refinarias asiáticas devido à sua qualidade duvidosa e ainda a problemas de contaminação.
Este tipo de petróleo, cujo breakeven elevado delimita muito o intervalo em que é rentável a sua extracção - entre 65 e 70 USD -, é a grande arma dos EUA para combater a hegemonia global da OPEP+, até porque o potencial da produção tradicional, offshore e onshore dos EUA já foi alcançado, segundo alguns experimentados analistas.
A Agência Internacional de Energia (AIE) veio, a confirmar esta tendência, dizer que o volume de petróleo de xisto dos EUA para este ano vai ser bastante inferior ao que estava previsto, tendo igualmente a mais importante casa financeira, a Goldman Sachs informado os seus clientes de que o crescimento do fracking vai ser menor que o que era esperado.
Face a este cenário, nos mercados petrolíferos, a reacção de Trump a esta nova fase da batalha entre os interesses da economia americana, muito dependente ainda dos combustíveis fósseis, e dos consumidores norte-americanos, que exigem ao seu Governo gasolina barata, e os interesses dos países produtores, como a Arábia saudita, a atravessar uma grave crise orçamental, é um dos elementos que despertam maior interesse.
Ou seja, os mercados estão á espera do próximo tweet de Donald Trump.