Por detrás deste impulso no valor do crude nos mercados internacionais está um conjunto de factores, desde logo a crise intensa que está a corroer a economia venezuelana e as sanções que Washington aplicou às suas exportações num contexto em que em Caracas se trava uma intensa batalha pelo poder.
A par disso, surge no horizonte uma real possibilidade de os EUA e a China, que retomaram as negociações para colocar um ponto final na guerra comercial que travam há meses, conseguirem chegar a acordo sobre as taxas alfandegárias que têm estado na origem de uma substancial diminuição da procura da matéria-prima desde o último trimestre de 2018.
A impulsionar o valor do barril, que subiu mais de seis USD nos últimos dias, está ainda a retoma da estratégia da OPEP e da Rússia em cortar na produção para reequilibrar o mercado, que, recorde-se, tinha sido novamente desequilibrado em baixa com a injecção de mais de 1 milhão de barris por dia (mbpd) em meados do ano passado pela Arábia saudita por pressão dos EUA de Donald Trump.
Cortes esses que, juntos com a redução estrutural na Venezuela, levou a que o "cartel" visse a sua produção global descer mais de 800 mil barris diariamente no último mês, fixando-se nos 30,8 milhões diários, contra os 31,3 mbpd em Dezembro, principalmente devido à diminuição do caudal saudita de crude exportado para o mundo em cerca de 350 mil barris durante todos os dias de Janeiro.
Mas este novo frenesi entre os produtores agregados naquilo a que passou a designar-se de forma ad hoc OPEP+, com a junção de esforços da Rússia e mais 11 produtores à OPEP, deverá intensificar-se porquanto os russos, que, a par dos sauditas e dos norte-americanos ocupam o top 3 dos maiores produtores mundiais, já veio, por intermédio do seu ministro da Energia, Alexander Novak, garantir que vai acelerar o seu programa de cortes acordado na última reunião realizada para o efeito.
Face a este cenário, onde se junta a crise na Venezuela - e as sanções de Donald Trump às exportações petrolíferas de caracas -, a hipótese séria do fim da guerra comercial Washington-Pequim e os cortes acelerados da produção da OPEP+, a financeira Goldman Sachs já veio dizer que os preços vão subir ainda mais nos próximos tempos, tendo em conta que a diminuição da oferta coincide ainda com um aumento global da procura, fruto de uma melhoria notória da economia mundial.
Está igualmente a ser tido como parcela nesta conta de somar valor ao crude a questão das sucessivas actualizações em baixa dos stocks das grandes economias, especialmente a dos EUA, onde o Instituto do Petróleo, que faz o controlo dos inventários, tem anunciado contagens semanais em baixa.
A leitura a partir de Angola e dos interesses da sua economia que este cenário permite é a de que este acréscimo de valor do petróleo chega na melhor altura, quando o Governo já está a preparar uma revisão do seu OGE para 2019, a que se viu obrigado com a queda vertiginosa do barril nos finais de 2018, estando o documento mestre das contas públicas alicerçado num valor de referência de 68 USD.
Valor esse que ainda não foi atingido mas poderá, se as estimativas da Goldman Sachs se confirmarem, sê-lo em breve, especialmente porque também no que diz respeito à capacidade de produção interna, está em curso um esforço substantivo para a aumentar, especialmente através de incentivos financeiros e fiscais às multinacionais a operar no país.
Aqui, o destaque vai para a francesa TOTAL, cujo último investimento, Kaombo, no Bloco 32, acrescentou mais de 600 milhões de barris em reservas descobertas, e a ENI, que, em 2018, juntou outros 500 milhões nas suas estruturas produtivas Kalimba e Afoxe, no Bloco 15/06, contribuindo Angola, como a empresa italiana reconheceu recentemente, com uma parte de leão para as excelentes descobertas feitas no último ano.
E em linha neste fulgor está ainda a redefinição da petrolífera nacional, a Sonangol, que, com a nova estrutura legal, passa a concentrar a sua energia na pesquisa e produção, fornecendo um novo potencial à produção nacional.
Como pano de fundo para esta questão específica, a importância da produção nacional, está a sua continuada baixa - apesar das novas perspectivas - , sustentada pela quebra na capacidade de produção gerada pela diminuição do investimento que foi a principal razão para que a Agência Internacional de Energia (AIE) tivesse, em Março do ano passado, avançado com um prognóstico desanimador.
Esse prognóstico era de que a produção nacional vai cair para 1,29 mbpd até 2023 devido, essencialmente, à degradação das suas infra-estruturas produtivas gerada pelo desinvestimento forçado pelas "majors" com a baixa ocorrida em 2014, onde o barril caiu a pique de um período de vários anos acima dos 100 USD por barril, ficando mesmo abaixo dos 30 USD no início de 2016.