Isto, porque um recente relatório da consultora Wood Mackenzie, citado vem chamar a atenção para o facto de as actuais reservas globais e as descobertas que estão a ser feitas não serem, nem de perto nem de longe, suficientes para cobrir as quebras nos campos em actividade, onde se observa um declínio natural devido à sua maturidade.
E, a par desta realidade, outra surge paralelamente. Com as acentuadas quebras do preço em meados de 2014, onde teve início a corrida descendente que levou o barril dos mais de 120 USD para os 29 no início de 2016, as multinacionais e as grandes companhias de bandeira, como ocorreu em Angola, negligenciaram, devido aos custos elevados, a manutenção da infra-estrutura produtiva e a estrutura logística de suporte à produção, como, por exemplo, na área do transporte aéreo para o "off shore".
Por exemplo, a mesma Wood Mackenzie lembrava, em meados de 2017, que desde a década de 1940 que não havia tão poucas descobertas e investimento na pesquisa como nos anos imediatos a 2014, o que permitia adivinhar o acentuar da distância entre a oferta e a procura nos próximos anos.
Esta perspectiva macro, que tem como horizonte os 92,6 milhões de barris por dia (mbpd) produzidos em média durante o ano de 2017 e o consumo actual que ultrapassa os 93 mbpd, segundo dados da Agência Internacional de Energia (AIE), vive lado a lado com as crises regionais ou políticas, como, por exemplo, as sanções dos EUA decretadas pelo Presidente Donald Trump ao Irão, que deverá, já em Novembro, retirar mais de 1,5 mbpd da oferta mundial, cimentando ainda mais o "buraco" entre o petróleo disponível e o que existe para vender.
O declínio que se espera, que, por exemplo, a AIE, no seu relatório para 2018 - Oil Report 2018 - sublinha ser Angola uma das "vítimas" da falta de investimento na manutenção e na pesquisa, prevendo que até 2023 a produção nacional passe dos actuais cerca de 1,55 mbpd para apenas 1,29 mbpd, pode mesmo atingir níveis perigosos para a sustentabilidade da economia global se entretanto, como adverte a Wood Mackenzie (WM), não existir uma espécie de "cisne negro" - episódio inesperado com forte impacto global - tecnológico que permita reduzir a necessidade de crude como a conhecemos nos dias que correm.
Segundo o relatório citado, em 2020 poderá ocorrer a primeira volumosa falha na oferta, prolongando-se para os anos seguintes se se mantiverem os actuais números relativos a novas descobertas, atingindo essa falha os 3 mbpd em 2030, chegando aos 12 mbpd em 2040.
A consultora deixa, no entanto, a porta aberta para uma solução. Diz a WM que, ao longo da história da indústria petrolífera, o número de descobertas de reservas é proporcional ao investimento feito nesse campo, o que permite afirmar que se as multinacionais optarem atempadamente por investir de novo, as reservas tenderão a aparecer em grande escala.
Mas não é isso que, para já, se verifica porque o investimento decresceu para menos de 10 por cento em 2016 na exploração do "upstream", o que contrasta com os tempos áureos onde entre cinco e sete dólares por barril eram destinados à exploração.
A par disto tudo, as grandes economias globais mostram sinais de crescimento robusto e, por conseguinte, um consumo de petróleo condizente, o que é meio caminho andado para o acelerar do ritmo de perdas da oferta face à procura.
E este cenário não tem passado despercebido às autoridades angolanas que regem o sector, como o demonstram as alterações legislativas introduzidas nos últimos meses pelo Executivo de João Lourenço, nomeadamente a diminuição das taxas aplicadas à exploração dos chamados campos marginais, com stocks inferiores a 300 mil barris, em torno dos 50 por cento, ou ainda a reestruturação da Sonangol.
A reestruturação da petrolífera nacional, que o Presidente João Lourenço aprovou por decreto na semana passada, pretende, segundo o documento, ajustar a petrolífera de forma a que esta possa ganhar maior capacidade para procurar soluções eficazes para garantir a sustentabilidade do sector petrolífero nacional.
A Sonangol deve, com estas mudanças, ficar "mais competitiva" e ser "mais rentável", focando-se no desempenho e impulsionar e intensificar a actividade para substituição de reservas e aumento da produção de hidrocarbonetos, promovendo, também, intensamente a prospecção e produção de gás natural.
Mas há outras "revoluções" para breve que podem levar ainda mais longe o esforço exigido às companhias petrolíferas e aos países produtores, como se explica aqui.